terça-feira, 18 de setembro de 2018

Quando as mudanças surgem

Há dois meses fui a uma entrevista na perspetiva de colaborar num projeto desenvolvido por umas investigadoras de uma instituição de ensino superior do Porto. Iria prestar serviços durante os meses de outubro e novembro, a tempo parcial, mantendo a atividade que já desempenhava noutro local. Tive de ser franca quanto à hipótese de não estar tão disponível como esperado, devido aos tratamentos. A equipa estava sensível para a situação, até porque vários elementos passaram pela infertilidade, embora durante menos tempo que eu. Fui selecionada e apesar de estar consciente que esta experiência poderia coincidir com a realização de nova TEC aceitei arriscar, pois tem sido uma constante conjugar uma mudança com a rotina do hospital. Tem de ser, caso contrário a palavra estagnação teria tomado por completo a minha vida.

Há umas duas semanas pensei com os meus botões que seria uma boa ideia voltar à universidade no próximo ano letivo. Ainda não sabia muito bem em que modalidade e área, então fui ver as necessidades do mercado. Houve um anúncio que me prendeu a atenção pela possibilidade imediata de me proporcionar uma situação laboral mais confortável do que aquela que tinha até então. Nestes últimos anos trabalhei a tempo parcial, em regime de prestação de serviços, para compatibilizar com os tratamentos. Houve pelo meio hipóteses de trabalhar noutros locais, na minha área de formação. Não me senti, contudo, moralmente capaz de aceitar tendo, por exemplo, de me ausentar do serviço logo no dia seguinte à minha apresentação, fazê-lo outra vez na mesma semana e novamente duas semanas depois... Seria injusto tratando-se ainda por cima de uma substituição temporária. Abdiquei de oportunidades e adequei a minha vida profissional ao projeto de maternidade que cada vez mais considero uma ideia. Esta ideia sugou-me e dificilmente se irá materializar. Financeiramente levou-me a um limiar que nunca imaginei atingir com esta idade. Não tinha qualquer hipótese de ser autossuficiente se estivesse sozinha. Mas não estou só neste processo. Somos dois e embora o meu marido dissesse que estávamos a fazer o que devíamos para levar a água ao nosso moinho e que o trabalho dele nos possibilitava levar uma vida digna, não me sentia bem estar anos a fio a viver desta forma. Tendo em conta esta situação arrisquei responder ao anúncio, que correspondia a uma proposta de trabalho a tempo inteiro, com contrato. Fui contactada no dia seguinte e nessa mesma tarde fui entrevistada. Mais uma vez abordei a questão dos tratamentos para perceber a abertura que havia em relação às ausências (que sempre tentei que fossem o mais breve possível). Caso fosse manifestada alguma relutância, punha logo de parte a proposta. Não foi isso que aconteceu. Do outro lado houve compreensão. Expliquei em traços gerais em que circunstâncias é que precisaria de faltar e, convenhamos, não deve acontecer muito mais vezes. Tive de responder se aceitava ou não ficar com o lugar e decidi que sim.

A ideia do regresso ao ensino superior ficou em suspenso. Gostava imenso de o fazer mas não estou ralada com isso, temos de fazer opções.

Quanto a TECs não há nada a dizer. A suposta reunião em que o meu processo seria novamente discutido foi na quarta-feira passada e a ordem é aguardar uma chamada. O meu telemóvel anda tão sossegado que, de vez em quando, pego noutro telefone e ligo para o meu número para saber se está a funcionar. Desde o dia do último negativo paira na minha cabeça um som idêntico ao que é usado para simbolizar a brisa dos locais onde não acontece nada. Ainda pensei que em agosto fosse acontecer alguma coisa, à semelhança do ano passado em que fiz a histeroscopia. Mas não, ninguém se manifestou do lado de lá da Circunvalação. Se as transferências se estavam a fazer menos espaçadas, como me foi dito, então deve ter havido uma reviravolta e vigoram novamente os vários meses. A frequência comigo tem sido a cada 4 meses. Agora com esta ausência de notícias começo a duvidar até que seja feita em outubro, quando completam 4 meses desde a TEC 6. Estamos a 18 de setembro e se fosse para fazer um scratching endometrial suponho que fosse por esta altura.

Ah, ia-me esquecendo de contar. Aquela fase de adolescência que tive em fevereiro e março, pouco tempo depois da aspiração, já passou. Sou novamente eu, a amenorreica, a disfuncional, que menstruou pela última vez no dia 9 de julho, depois de suspender o Progeffik.

Vamos entrar no último trimestre de 2018 e até agora, neste ano civil, fiz apenas uma TEC. Não imaginava que nesta altura fosse estar tão parada ao nível dos tratamentos. 4 meses separam-me dos 39 anos e custa-me perceber isso. Estou desanimada por ver que não falta muito para o ano terminar. A sensação que tenho é que foram dados mais passos para trás do que para a frente. Estes meses, desde a última transferência, têm custado imenso a passar pela incógnita da decisão da famigerada reunião. E a tortura continua com o silêncio do telefone. Não há conclusões acerca de nada, não há datas nem planos que me tenham sido comunicados. A dúvida sobre tudo o que aconteceu nestes quase 7 anos é cada vez maior. Preciso que isto chegue ao fim, seja ele qual for.