terça-feira, 15 de outubro de 2019

Legitimidade?

Li uma notícia que, a ser verdade, carece de reflexão.

Uma mulher, provavelmente indiana, foi mãe aos 75 anos. Ela e o seu marido de 80 anos tinham já adotado uma criança mas há uns anos decidiram passar por um processo completo de gravidez. Realizaram uma FIV e a bebé nasceu às 30 semanas com 1,5kg. A gravidez foi complicada dado que a mãe tinha problemas pulmonares. A mãe teve alta, contudo a pequena ficou internada na neonatologia.

Tendo em conta esta notícia que não adianta mais informações, nem se sabe até que ponto o seu conteúdo é integralmente verdadeiro, surgem questões para as quais ainda não consegui emitir um juízo de valor. É legítimo que este casal enverede por um percurso desta natureza numa idade tão improvável? O supremo interesse da criança, como habitualmente se invoca, estará devidamente acautelado? Presumindo que a esperança de vida dos pais não será muito mais longa, o que terão pensado eles a esse respeito?

De uma coisa tenho a certeza, eu não o faria, daí gostar de conhecer a perspetiva deles. Se estou reticente em relação a mim mesma, porque o meu pai morreu com 54 anos, na situação deles, não arriscava mesmo. Se eles descobriram o elixir da eterna juventude a história seria diferente.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Há uma luzinha de esperança

Ligaram-me há minutos para fazer o balanço final. As biópsias foram feitas hoje. Dos 6 embriões desta estimulação 4 aguentaram. Dos dois que estavam congelados um degenerou e o outro desenvolveu, sendo também realizada biópsia. A bióloga não está muito confiante em relação a este último, porque sofreu várias agressões. Foi criopreservado, desvitrificado, biopsado e voltou a ser congelado. Mas, também como disse, nunca se sabe se ele não surpreende.

Sendo assim, será feito o rastreio a cinco embriões. A bióloga disse para não contar fazer TEC este ano. Estão com imenso trabalho e ela não tem a certeza do tempo que o departamento de Genética vai demorar a manifestar-se. Talvez em janeiro faça transferência, se houver boas notícias. Perguntei como seria no caso do resultado ser desastroso. Aí contactam-me e terei consulta para falarem comigo ou se preferir saber por telefone, informam-me.

Estou nervosa mas aliviada por mais uma etapa estar concluída.

Ontem e hoje tenho pontadas esporádicas no ovário direito, principalmente quando a bexiga está a ficar cheia. Os ovários devem continuar volumosos. As mamas estão túrgidas e pesadas, oxalá menstrue em breve.

Vou aproveitar esta semana para fazer a vacina da gripe, a diretora disse que não havia problema.

Sinto-me emocionada e agradecida por estar a ter esta oportunidade. Hoje choro lágrimas de alegria, há muito tempo que a vida não era generosa para mim nesta matéria.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Em recuperação

Tenho algum volume abdominal e as dores quase não existem. Está a incomodar-me mais a tensão mamária que só vai ficar resolvida quando menstruar. É tiro e queda.

Os maxilares estão um pouco doridos mas para ter esta sensação é porque, mais uma vez, foi realizada tração da mandíbula para melhorar a ventilação.

Voltei à fisioterapia, não tive dificuldade nos exercícios que exigiam um pouco de esforço na zona abdominal. Amanhã encerro a primeira ronda de 12 sessões e tenho mais uma consulta de ortopedia para reavaliação. Seguem-se outras tantas sessões de fisioterapia que vou realizar nas próximas 4 semanas.

Quero perguntar no HSJ se enquanto aguardo pelos resultados posso fazer a vacina da gripe. Durante as fases de preparação e de TECs que fiz em outonos anteriores ela desaconselhou. Agora que não estou a fazer nada, pode ser que não haja problema. Apesar de atualmente não estar em contacto com as fontes de contágio que me faziam ter gripes e constipações a um ritmo mensal, não sei o que me espera daqui a uns tempos.

Espero que os mini-nós estejam confortáveis e animados com as meioses. Foram muitas as oportunidades que as minhas células e as do meu marido deram entre si de se conjugarem, nem que fosse por algumas horas. 13 na primeira FIV, 15 na segunda e agora 11.

Só de ovócitos recolhidos foram no total 69, entre maduros e imaturos. Quando faço as contas a todos os números dos meus tratamentos e penso no que vivi até chegar aqui, parece algo irreal. Como é que consegui suportar isto tudo e não resultou sequer?

PMA no HSJ

Desde meados dos anos 90 que fui alertada para a necessidade de ajuda médica, caso pretendesse engravidar. Há muitos anos que estou ciente das listas de espera no serviço público, dos custos aproximados dos tratamentos e dos locais onde poderia realizá-los.

Mal tomámos a decisão de termos um filho, fui à minha médica de família manifestar essa intenção, porque eu necessitava de encaminhamento imediato. Tendo amenorreia (primária), o critério de um ano de relações desprotegidas até procurar ajuda especializada não se aplicava ao meu caso. O outro que indica apenas meio ano também não estava indicado, pois tinha apenas 31 anos. O HSJ era a minha escolha, tinha a convicção que por estar associado a uma universidade, poderia estar cientificamente mais avançado que outras unidades e eu pressentia que a minha situação não iria ser muito banal. Infelizmente vi-me obrigada a passar primeiro pelo HPH (da minha área de residência) tendo ocorrido falhas de encaminhamentos, consultas adiadas e tempos de empate, em que perdi perto de três anos até finalmente conseguir ir para o HSJ. Naquela altura uma médica de um local onde trabalhava disse que a partir dos 34 anos seria um pouco complicado ter acesso às consultas de PMA no HSJ, devido aos tempos de espera para os tratamentos pelo que restringiam o acesso. Felizmente não é assim, por isso quero tranquilizar quem não está a par da realidade.

Nas primeiras idas ao HSJ senti-me assoberbada. Primeiro porque nunca tinha lá ido e pode ser um autêntico labirinto para quem não conhece. Chegava com imenso tempo de antecedência para conseguir encontrar a horas os locais para fazer as colheitas de sangue. Ora eram nas consultas externas que é bastante confuso, ora na parte da Faculdade de Medicina, na área de Genética. Aí, para aceder a um corredor a dois metros de nós, não podíamos passar por uma porta à nossa frente. Tínhamos de ir ao piso -1 atravessar para o outro lado, depois subir, ou seja, uma confusão. Cada pessoa a quem pedíamos ajuda dava-nos uma indicação diferente e eu começava a pensar "no que raio me fui meter?".

Não fui muitas vezes ao pavilhão das consultas externas. Fiquei a saber que quando chegasse a altura de começar os tratamentos iria passar para o famoso piso 3 de Medicina de Reprodução. Quando veio essa fase perdi-me pelos corredores do hospital, pois apenas "dominava" a parte das consultas externas. Só quando saí do piso 3 pela primeira vez é que vi que ele tem um acesso super direto a partir do exterior, sem ter de passar pelos labirintos.

Chegados os primeiros tratamentos, fiquei um pouco desiludida com a falta de informações por parte da equipa médica. Fui percebendo com o tempo que a iniciativa teria de partir de mim para colocar questões, às quais nunca se negaram a responder, nem o fizeram com má vontade.

Desesperava com as horas infinitas na sala de espera mas apercebi-me que a máquina estava bem oleada, pois éramos chamados segundo uma ordem específica pelos diferentes profissionais. Só não acontecia numa sequência imediata. Havia e continua a haver vários regressos à sala de espera.

No dia em que iniciei a primeira FIV estava ansiosa. Tinha aguardado um ano por essa data e ao início da tarde era o funeral da minha avó. Sabia que ia fazer ecografia, ter consulta, realizar análises, ter ensino com a enfermeira e depois de sair do hospital ainda ia à farmácia comprar as injeções. Isso podia ocupar umas boas horas, às quais acrescia uma viagem de mais de 60km para ir ao funeral. Receava não conseguir chegar a tempo. Falei com a técnica administrativa que queria ir ao funeral e perguntei se era possível acelerarem um pouco. Foram todas impecáveis, fiquei muito tocada com o gesto delas, dado que tudo foi realizado praticamente de forma seguida.

Durante várias TEC notei que eram sempre colocadas as mesmas questões. Apesar de me reconhecerem nos corredores não se lembravam exatamente das minhas particularidades. Isso causou-me algum desânimo, uma vez que sentia que não estavam a prestar realmente atenção à diferença que estava a ocorrer face à maior parte das outras pessoas. Parecia que havia uma linha de montagem instalada e que sofriam da síndrome "Gabriela, Cravo e Canela", como dizia um professor que tive na universidade. O que ele pretendia exemplificar é que há pessoas que durante toda a sua carreira profissional trabalham da mesma forma, não estando abertos à mudança. A canção da Gal Costa referia "Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela".

A equipa médica tem quatro pessoas em permanência. Três são maravilhosas, há outra que não me impressiona. Esta última trabalha numa das clínicas privadas referenciadas na área da infertilidade. Se eu procurasse alguém para me acompanhar a título particular não a escolheria certamente. Bater sempre na tecla do Decapeptyl para a preparação das TEC e afirmar cheia de convicção que o endométrio está pronto a descamar em um ou dois dias, o que nunca acontece, não me deixa confortável em relação a ela. Do ponto de vista técnico, já me "engravidou" duas vezes, salvo erro e acho que me fez uma punção. Em relação à atenção ao utente, no que diz respeito em saber realmente quem tem à sua frente, ainda não me convenceu, lamento.

Com os sucessivos falhanços gerou-se uma mudança nas suas abordagens e começaram a ouvir-me. A primeira pessoa a fazê-lo foi a diretora, com a qual várias utentes não simpatizam minimamente. Pois eu digo, ela é ESPETACULAR. Depois disto terminar pretendo que seja a minha ginecologista. A médica mais jovem da equipa vai dar cartas na investigação e está à frente da inovação do serviço, no que diz respeito às técnicas. Ela não sofre da síndrome que mencionei uns parágrafos acima. Certamente ela está a ter esse destaque devido ao apoio do resto da equipa.

A equipa de enfermagem tanto é o aconchego, como a dose de boa disposição que levanta o astral de qualquer um. Só tive um momento menos bom na primeira gravidez com uma afirmação demasiado frontal mas realista.

Não tive muito contacto com as biólogas mas foram sempre afáveis e otimistas.

Por fim, a minha S. Não deixei para o fim por ser menos importante. O serviço sem ela não seria o mesmo. Ela é EXCECIONAL! É o rosto do piso 3 - desenrascada, atenta, atenciosa, interlocutora, o colinho quente que nos conforta, a claque que nos levanta quando estamos caídos ou à espera de um resultado. A função de técnica administrativa é muito pouco para aquilo que ela representa no serviço.

Face a todo o meu percurso fracassado e a todas as revisões feitas ao processo digo convictamente que hoje sabem quem sou. Os tratamentos são feitos à minha medida e vibram com cada etapa ultrapassada. A probabilidade de sair do HSJ da mesma forma que entrei é grande. Não é por isso que vou sentir ressentimentos em relação ao meu acompanhamento lá. Sei que os conhecimentos atuais no campo da infertilidade ainda têm muito a evoluir. O hospital e as unidades de PMA, em geral, estão a agir de acordo com aquilo que a ciência lhes oferece. A aposta no empirismo é uma forma de tentar suprir as lacunas. O buraco negro que é a infertilidade inexplicada não o será a médio ou longo prazo, assim espero.

O serviço público de PMA não é uma aberração como tantas vezes se lê ou vê em diferentes meios de comunicação. Há restrições em termos de idade, número limite de tratamentos e tempos de espera pouco compatíveis com a idade reprodutiva, é uma verdade. Como já exprimi noutro local que não este blogue, as unidades públicas conseguem por vezes fazer omeletes sem ovos. Há dias maus no público mas no privado também não é tudo um mar de rosas. Quem faz os locais são as pessoas.

Se tiver de fazer uma recomendação de um hospital público para realizar tratamentos de PMA, aconselho o HSJ. Quem o escolher tem, no entanto, de estar disposto a ter tempos de espera mais prolongados que nos outros hospitais do norte, mesmo assim são inferiores aos de Lisboa, por exemplo. Louvo quem consegue estar mais de um ano à espera.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Fecundação - primeiras informações

Já tenho novidades dos meus miúdos. Dos 16 ovócitos, 11 estavam maduros. Após a microinjeção há, neste momento, 6 embriões muito bons e outro que provavelmente não irá evoluir. Os outros dois mini-nós serão descongelados e deixados a desenvolver. Domingo é o dia das biópsias e só voltarei a ter notícias nessa altura.

Tenho esperança que vai haver embriões a resistir a todo o processo e sobre os quais poderei saber, daqui a umas intermináveis semanas, o resultado do rastreio.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Do meu estado atual

É com uma enorme leveza que escrevo neste momento. Só o facto de não estar em sofrimento acentuado, o ânimo é muito maior. O mau estar é praticamente nulo em relação às terríveis experiências anteriores. Acho que vou ter uma ótima noite. Não me parece que o estado vá piorar, até porque não vai haver transferência a fresco.

Em termos de excreção está tudo funcional, o que é um alívio. Lembro-me que após a primeira punção o meu intestino tirou férias quase duas semanas. Tomei uma medida extrema para tentar solucionar a situação sem recorrer à via farmacológica. Atualmente rio-me do que fiz, mas na altura estava desesperada. Sou intolerante à lactose e tenho SII (Síndrome do Intestino Irritável). Há determinados alimentos/pratos que me levam quase instantaneamente a descobrir onde é a casa de banho mais próxima. Alguns alimentos consegui identificar mas há muitas situações em que ainda não descobri o(s) culpado(s). A lactose combina esse efeito imediato com uma dor intensa e uma sensação de barriga insuflada que perduram por dias. Quando me apercebi da inatividade do meu cólon e vi que a obstipação estava convictamente instalada, decidi agir. Pensei atacar com um pingo feito de leite "normal". Acreditem que a quantidade de lactose presente num simples pingo, causa-me muitos estragos. Este ato iria trazer como consequência desagradável uma dor persistente intensa que não queria sentir, considerando que ainda estava sob o efeito da hiperestimulação. Desisti do plano da lactose e passei para o da SII. Há um prato que, nalguns locais e num em concreto, é tiro e queda para me fazer visitar o WC. É a famosa francesinha! A uns três quilómetros da minha casa encontra-se um restaurante pequeno, onde praticamente toda a gente come o mesmo, ou seja, a famosa sanduíche com carnes, queijo e coberta de molho. É boa, é poderosa! Tão poderosa que lembrando-me do que ela me causava, implorei ao meu marido para jantarmos no restaurante P., porque não sabia mais o que fazer para despertar o gigante adormecido. Então lá fomos, estava confiante que o meu plano ia resultar. Enganei-me redondamente! Comi a francesinha e não aconteceu nada... Fiquei com uma revolta imensa e mais preocupada ainda. Só uns três dias mais tarde é que o intestino deu sinal de vida. Curiosamente estive alguns anos sem ir àquele restaurante e quatro dias antes de iniciar esta estimulação regressei com um grupo de amigas. Estava de pé atrás e com razão, pois o raio da francesinha fez-me voltar a visitar as instalações sanitárias.

Voltando a este tratamento, estou mesmo confiante de que os ovócitos estão maduros o suficiente e com melhor qualidade que na estimulação anterior. Da outra vez foi um disparate, passar em apenas 3 dias, de folículos abaixo de 10mm para um estado praticamente pronto a puncionar. Hoje falaram-me várias vezes que me vão contactar quando chegar a altura de preparar a TEC. Partem do princípio que vai haver embriões para transferir, estão sempre muito mais otimistas que eu. Vou seguir no embalo e esperar pelo telefonema. Para que isso aconteça só tenho de ouvir boas notícias da bióloga. Amanhã vou perguntar-lhe como vou ter conhecimento do resultado do rastreio.

A diretora, as enfermeiras e a maravilhosa técnica administrativa ficaram realmente felizes por ter dito que esta punção correu de uma forma que nunca esperava. Vou guardar na memória cada uma delas com muito carinho.

PGT-A - Punção

Ainda me encontro na caminha do hospital. Que diferença! Fui medicada para as dores bem cedo para acordar melhor e de facto a mudança é abismal. Acordei dorida, mas nada comparado com as outras vezes. Não tenho a sensação de ter sido esmurrada nos maxilares. Falei previamente com a anestesista sobre essa situação, assim como do facto de na punção anterior ter dores abdominais, mesmo sedada.

Quando vinha a caminho do hospital comecei a sentir aquele peso incomodativo no fundo da barriga, característico do elevado volume dos ovários.

O meu marido foi neste momento tratar do seu contributo. Fui a única pessoa a fazer hoje punção, por isso o quarto do recobro foi só para mim. As dores são tão poucas que até me dei ao luxo de dormir. Fiz uma soneca considerável e soube maravilhosamente.

Foram recolhidos 16 ovócitos. É uma grande diferença em relação às outras vezes mas, não sei porquê, estou calma e confiante. Aqueles valores absurdos acima de vinte não me convenciam muito.

Irei escrever mais alguma coisa à tarde ou à noite.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 15

Às 8h vou estar no hospital para colocar o catéter, depois é aguardar pela minha vez para fazer a punção. Está a começar a chegar o nervoso miudinho, não pelas dores que vou sentir mas pelo aproximar das próximas etapas.

Trata-se do culminar de oito anos cheios de incertezas, desilusões, sofrimento. Passei milhares de horas a pesquisar, perdi a conta às noites em claro a pensar na vida, gastei muitos dias em salas de espera de hospitais. Deixei vários tubos de sangue para analisar, fiz uma quantidade de ecografias que jamais pensei que fosse realizar. Sacrifiquei a minha vida profissional para conseguir fazer tratamentos a cada 4 meses, tomei uma quantidade infindável de comprimidos, injetei-me com a mesma ligeireza com que realizo uma atividade banal do quotidiano.
Chorei, se chorei... Acabei por ficar sem lágrimas pela permanente deceção comigo. Ouvi muita coisa, desde palavras de motivação, incentivo e aconchego. Fui também variadíssimas vezes dissuadida a desistir, a procurar alternativas de tratamento ou aconselhada a ponderar outras formas de ser mãe. Foram-me ditas algumas palavras que dispensava ter ouvido. Os momentos baixos sobrepuseram-se aos altos, planeei o meu dia a dia em função dos tratamentos ou dos seus possíveis resultados, perdi o meu eu algures por aí. Perdi 4 filhos. Dezenas de embriões, os mini-nós, não conseguiram evoluir. Na vida além da infertilidade realizei algumas conquistas, vivi momentos felizes, amadureci. Passei a valorizar mais a simplicidade, aprimorei a forma de ver o que me rodeia, não me deixo deslumbrar facilmente com as coisas.

Validei uma grande aprendizagem com esta luta. Não temos noção da nossa capacidade para enfrentar situações menos boas até nos depararmos com elas. O motor desta luta é a esperança.

domingo, 6 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 14

Declaro encerrada a temporada de injeções!

Não sei se voltarei às picas numa possível TEC mas, por enquanto, a minha barriga em modo de coador vai descansar um pouco. Reparei desta vez que as veias nas mamas estão mais visíveis e tenho um bocadinho de tensão.

A atividade dos ovários está estranhamente branda, quase não percebo que tenho pipocas a eclodir cá dentro. Vou considerar que é um pequeno bónus para compensar todo o sofrimento que tenho vivido.

sábado, 5 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 13

Encerrei as injeções de Menopur e Orgalutran, amanhã finalizo com o Decapeptyl. Foi a estimulação mais longa, mesmo assim a diferença não é muito significativa. Sinto-me como ontem, até estou bem. Tenho uma pequena esperança de que a punção e os dias seguintes vão ser um pouco mais fáceis de suportar do que tem acontecido.

Sendo a punção na terça, o domingo que lhe segue (13 de outubro) é mais uma data determinante, a do quinto dia dos mini-nós. Os already frozen deverão ser descongelados na sexta para poderem acompanhar os potenciais irmãos que vão estar cheios de gana para realizar divisão celular.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 12

As pipocas estão aí! Os folículos têm tamanhos heterogéneos mas ainda há tempo de alguns poderem vir a ser os tais. Não tenho a contagem detalhada contudo, pelo que vi, o ovário esquerdo tem 12 candidatos e o direito 10. Terça-feira é o dia da punção. As minhas amêndoas devem estar do tamanho de ameixas ou tangerinas e lá para segunda-feira deverei carregar no meu ventre duas laranjas em explosão eminente. Quando estou sentada consigo sentir que tenho cá dentro umas coisas volumosas e fazer a ecografia não foi a melhor das sensações. A andar também noto a presença dos ovários. Agora é sempre a piorar.

Vou manter Menopur e Orgalutran até amanhã. Domingo, como não podia deixar de ser, fecho a loja com Decapeptyl 0,1. Adio, adieu, acho que me vou livrar definitivamente destes três e das hiperestimulações. Será o fechar de uma das várias portas que estão abertas neste labirinto. Estou preparada para sofrer mais um pouco. Não tem sido de outra forma nos últimos dois meses, a um ritmo diário, em diferentes partes do corpo.

Depois da punção vem o próximo mistério: o do resultado da fecundação. Por enquanto estou radiante pelo degrau da estimulação ter resultado num agendamento de punção.

A enfermeira disse que os meus ovários fazem ver a muitas jovens. De que me tem servido isso? Se me tivesse calhado na rifa apenas um ou dois ovócitos na primeira FIV, que culminassem num filho, tinha ficado muito mais orgulhosa do que nos mais de 50 que me sacaram e que até agora não deram em nada.

Vou aguardar pelas cenas dos próximos capítulos, porque não tenho o dom da adivinhação.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 11

Hoje, enquanto fazia uns exercícios na fisioterapia para simular piso irregular, comecei a ter algum desconforto nos ovários. Durante o resto do dia não voltei a sentir, porque andei essencialmente em locais planos. Fiquei um pouco mais expectante de que os ovários estejam menos sonolentos. Só vou saber amanhã de manhã, (in)felizmente não tenho capacidade para ver o que se passa cá dentro.

A par disto continua a saga da recuperação da entorse. Tive esta tarde consulta com a fisiatra, porque na próxima semana ia terminar o conjunto de sessões de fisioterapia inicialmente estabelecido. Como a evolução está a ser muito lenta, aguardam-me mais 4 semanas além desta que ainda tenho de fazer. Na primeira quinzena de novembro termino (ou não) a fisioterapia. Poderei ficar com sequelas permanentes mas pelo menos estou a tratar da parte muscular para o estrago ser suavizado. Vou continuar a manter a minha "pulseira eletrónica" durante mais uns tempos, evitar caminhadas longas, piso irregular, calçado pouco estável. Quem diria que um simples passo me ia dar este trabalho?

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 10

Devagar, devagarinho, os folículos vão crescendo. Sexta-feira volto a fazer ecografia. A médica diz que ovários como os meus são perigosos, parecem bombas relógio. Não vou fazer alteração da medicação e ficar confiante de que este crescimento lento vá ser fundamental no bom amadurecimento dos ovócitos, para que a taxa de fecundação seja espetacular.

O ponto da situação é este:

Ovário esquerdo - 13, 13, 12, 11, 10, 10, 10mm
Ovário direito - 12, 12, 10mm

Vou manter-me serena, sei que as médicas estão a tomar decisões conscientes.

Gosto globalmente do acompanhamento que estou a ter no HSJ desde que viram que sou "diferente" da norma. O único aspeto negativo é a espera pelo atendimento, mas já me habituei a isso e prepararam-nos para tal. Tenho de fazer um post dedicado apenas à equipa e ao hospital, é mais que merecido.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 9

Não sinto nada, o que aumenta o mistério sobre a atividade/inércia nas minhas profundezas.

Consultando a minha cábula digital, fiz na estimulação passada ecografia na mesma altura que farei amanhã e as notícias foram bem melhores que na eco anterior. Isso traz-me um pouquinho de ânimo mas não retira a preocupação. O objetivo desta estimulação era ter muitos folículos, uma boa taxa de fecundação e embriões fortes o suficiente para aguentar a cultura de 5 dias. A meta é ambiciosa, tenho plena consciência disso. Gostava que o meu corpo cooperasse nesse sentido mas pode ser tarde.

Nunca saberei se aqueles quase três anos de perda de tempo, até finalmente conseguir ser acompanhada no HSJ, seriam preponderantes para que o rumo desta história fosse diferente. Aconteceu, tenho de viver com isso. Tenho algumas condições clínicas que dificultam a concepção, são parte de mim. Não posso viver com raiva ou ódio em relação ao que sou.

Estou a poucos passos de conhecer o final deste meu livro. Não há muita coisa de que me arrependa nestes últimos oito anos. Olhando para trás, tenho dificuldade em pensar se voltaria a fazer tudo igual, porque estou exausta desta aventura interminável.