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quinta-feira, 19 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 1

The beginning! E que começo!

Hoje foi daquelas manhãs em que se chegava a um ponto em que já não havia posição possível para sentir conforto, mesmo não sendo o plástico das cadeiras desagradável de todo. Há partes do hospital a léguas (numa perspetiva negativa) das condições oferecidas pela zona de Medicina de Reprodução. A questão aqui é que saí às 15 horas quando a hora marcada para lá estar foi às 9h30. Olhei para os pulsos, tentada em fazer-lhes algo. Eram 11h50 quando passei para a sala de espera de ecografia. Às 13 horas chegou finalmente a minha vez de ir para a marquesa. Estava tão anestesiada da espera, que nem me apercebi do desconforto que ela proporciona às pernas. Já falei deste detalhe várias vezes. Tenho a certeza que quem passou largos minutos em escrutínio de catacumbas naquela marquesa, em concreto, sabe ao que me refiro. Quem me dera que fosse como a da sala das punções/transferências...

Começou a ecografia, passado um bocadinho disse a médica "Os seus ovários estão carregadinhos! Só num ovário estou a contar 21. É provável que hiperestimule. Sabe que com doses baixas os ovários podem não reagir, então a única hipótese é garantir que trabalhem, só que vão responder em excesso." Na folha de contagens estavam 21 potenciais candidatos de um lado e 26 do outro. A máquina de fazer pipocas vai voltar em força. Uau... Que entusiasmo estou a sentir só de me lembrar daquilo que passei. Tenho de me mentalizar que não me posso queixar, porque há muitas mulheres que gostavam de ter uma pequena fração daquilo que produzo, é a realidade. Mas dói e não é pouco. Acarreta também consequências chatas que demoram a normalizar. Além do mais pode não servir para nada. Com o cenário que se avizinha, por volta do início de agosto poderei fazer TEC.

Voltei em seguida para a sala de espera.

Algum tempo após a eco fomos chamados para a consulta e foi-nos entregue o plano de ataque para os próximos dias. Puregon 150 UI até segunda-feira, nesse mesmo dia acrescento Orgalutran. Por via oral é Acfol, Eutirox (esse é até partir para outra dimensão) e a novidade desta estimulação, o Cartia. Usei o Cartia em processos de transferência e agora também fará parte da estimulação. Não sei exatamente qual o seu contributo nesta fase, mas estou por tudo. Foram feitos pedidos de análises para atualização e voltei a bater na tecla da aspiração. A Diretora disse que ainda não havia nada e parecia que ia deixar o assunto morrer. Quando falei que estava a ponderar apresentar uma reclamação, porque me tinha sido garantido que o conteúdo foi para análise, lembraram-se que a amostra pode ter sido enviada para Genética em vez de Anatomia Patológica. Quando vai para este último departamento, os resultados são disponibilizados na base de dados, na Genética não é assim. Têm de entrar em contacto com eles. Como era hora de almoço ninguém iria atender, então ficou um lembrete no meu processo para ligarem para lá. Se na próxima terça souber que nada deu entrada, apresentarei reclamação. Perguntei se os embriões podiam ser congelados individualmente e expliquei que, uma vez que não sei o resultado da aspiração, vamos experimentar transferir apenas um embrião. Expliquei a minha desconfiança de o sistema imunitário rejeitar organismos estranhos e, quem sabe, transferindo apenas um embrião, estou a reduzir a hipótese de rejeição. A Drª S. disse que há situações de resposta imunitária em que os corticóides trazem vantagens, noutros casos até prejudicam e isso nunca se saberá. Questionei também se não se justificará usar o Lovenox. Apesar de não ter trombofilias não se opuseram, tendo em conta o elevado número de TEC que realizei sem resultados favoráveis. Relativamente à possibilidade de o embrião da última gravidez ter algum tipo de trissomia, caso haja confirmação, o hospital não oferece nenhum tipo de resposta na seleção de embriões, só fora. Foram dizendo que com 38 anos e todo o meu historial, as minhas hipóteses de sucesso são reduzidas.

Não saí abatida, porque não ouvi nada inesperado. Estou plenamente consciente de que será muito difícil alguma vez dar certo, é a realidade. As evidências dos próximos tempos serão a confirmação que esta luta não tem qualquer tipo de produtividade comigo.

Regressámos à sala de espera, depois fomos às enfermeiras.

Agora um pequeno momento de serviço público:

Há um shopping junto ao hospital e ao hotel Ibis, o Campus S. João. Tem uma farmácia com o mesmo nome do espaço e, mesmo sem sermos sócios da APF, temos 10% de desconto imediato nos injetáveis para estimulação. Foram 15€ a menos que paguei. Essa poupança já ajuda na aquisição da medicação que se toma em altura de transferências.

Estou a voltar à suposta "pontaria" em vasos com o Puregon. Sangro, mesmo fazendo prega e a agulha é finíssima. Não sei o motivo.

O dia foi cansativo, apesar da manhã ter sido uma verdadeira "seca", como dizem os miúdos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo: série ininterrupta e eterna de instantes

A palavra TEMPO passou a ter um enorme peso neste processo.

Quando se passa à esfera do sistema público um dos grandes fatores de desespero é o tempo de espera.

Como relatei anteriormente, tinha solicitado à médica de família que fosse encaminhada para consultas de infertilidade. Passaram-se alguns meses e não recebia qualquer carta com agendamento de consulta. Dirigi-me ao hospital para saber se tinha dado entrada alguma informação e nada apareceu. Em plena era digital de simplex & companhia lda houve alguma coisa que ficou pelo caminho. Peregrinei novamente ao centro de saúde para tentar corrigir o pseudoencaminhamento.

Finalmente recebi a tão aguardada carta com uma data, aquela data que parece cintilar ao fundo de um enorme túnel. Tudo parece muito mais fácil quando sabemos que, num dia específico, estaremos frente a frente com alguém que nos vai colocar questões, ouvir e dizer-nos algo que nos pode trazer alguma esperança.

Teria, pois, de aguardar uns módicos sete meses pelo primeiro grande dia.
Pouco tempo antes da consulta recebi a notícia que afinal a médica não tinha disponibilidade naquele dia e a marcação teria de ser adiada algumas semanas. Tentei ver algo positivo nisso. Afinal quem teve paciência para esperar sete meses conseguia conter a ansiedade mais um pouco.

Com 32 anos bem avançados tive a primeira consulta de infertilidade.

Durante os dez meses que passaram desde que deixei a pílula até esse dia não estava a tomar nada para além do Eutirox, ou seja, não ovulei, não menstruei, muito menos engravidei.

A médica decidiu logo que deveria voltar a recorrer ao meu amigo (quase de infância), Progyluton, e fazer umas análises, ecografias, histerossalpingografia. O marido fez os exames da praxe. Não havia dúvidas quanto ao motivo da infertilidade: ovários poliquísticos com ausência de ovulação.

Praticamente todas as consultas que eram marcadas acabavam por ser adiadas por impossibilidade da médica. As palavras eram parcas, não havia grande iniciativa em explicar o processo. Valha-nos a curiosidade de pesquisar e o atrevimento de perguntar aos profissionais aquilo que nos devia ser dito prontamente, pois somos o foco daqueles minutos em que estão a prestar serviço.

Chegou o ano de 2014, ou seja, dei as boas vindas aos 34 anos. Comecei finalmente a fazer alguma coisa para combater a infertilidade. Pude finalmente pôr em prática a fórmula mágica que o meu primeiro endocrinologista dizia, na primeira década do século XXI, que ia funcionar. Comecei a tomar Dufine, o famoso indutor ovulatório.

Fui monitorizada por via ecográfica nos seis ciclos em que tomei Dufine. Os meus ovários, que encarnaram a personagem da Bela Adormecida, não reagiram às crescentes dosagens. Comecei com 1, depois 2 e finalizei com 3 comprimidos. Afinal, a teoria do endocrinologista estava longe de funcionar comigo.

Como a intervenção daquele hospital é limitada no tipo de seguimento dado a situações de infertilidade, era chegada a hora de finalmente ser encaminhada para Hospital de São João.