Fui esta manhã doar um saco de medicação, seringas e agulhas de canetas. Houve nova reestruturação do acesso ao HSJ que está mais restritivo e burocrático. Depois de mais de meia hora para conseguir autorização para ir ao piso 3, entreguei o saco. Levei mais medicação do que pensava inicialmente, em quantidade e variedade. A minha S. da receção deve estar de férias, não tive oportunidade de me despedir dela. Estive com duas das enfermeiras que foram sempre muito queridas, falámos um pouco. Uma delas não sabia que eu tinha esgotado os embriões, porque gozou as férias durante a altura em que fiz a TEC. Devido ao bichito microscópico não deverei ter consulta para formalizar a alta mas ainda assim perguntaram se tinha alguma dúvida para colocar às médicas. Disse que não valia a pena, porque não ia fazer mais nada depois desta transferência.
Foi assim que terminou o meu acompanhamento no HSJ, cinco anos e meio depois de ter lá a minha primeira consulta.
Numa próxima altura que vá a uma farmácia, vou levar todas as seringas e agulhas da fotografia que publiquei no dia do beta. É assim que vou soltando as amarras que me prendem à infertilidade.
Mudei de planos em relação ao curso que tinha pensado tirar. Esse vai ser a minha segunda opção se não conseguir vaga numa licenciatura que pode abrir mais o leque de saídas profissionais relativamente ao curso em que andava de olho. Se tudo correr bem, irei ingressar numa segunda licenciatura, desta vez em modo Bolonha, numa área para a qual mais de 60% da minha formação de base é comum. Não vou pedir equivalências, quero fazer tudo de raiz, porque terminei a anterior licenciatura há muitos anos e preciso de fazer refresh/atualizar-me. Se, por um lado, há partes do meu corpo que não funcionam como desejaria, já as minhas faculdades mentais continuam em alta. Nesse aspeto estou segura de mim e espero que me venham a ser úteis. Há anos que ansiava voltar a estudar, tanto para minha realização pessoal como para tentar mudar o rumo da vida profissional. Acho que tenho potencial para mais do que aquilo que tenho feito. Se voltasse à minha juventude teria enveredado pela investigação. Fui totó e segui pela via socialmente mais frequente. Entretanto vieram as romarias aos hospitais e acabei por me dedicar na maior parte do tempo a trabalhos ultra precários, de caráter temporário, para conseguir compatibilizar com as inúmeras manhãs passadas em salas de espera. O meu vencimento médio dos últimos 5 anos tem sido muito abaixo do SMN. Fiz esse sacrifício a pensar que poderia valer a pena, porque tinha esperança que um dia um dos tratamentos ia resultar. A realidade, no entanto, foi diferente e cruel. Perdi em várias frentes mas posso dar-me por afortunada por não ter perdido também o casamento.