Fui ler o que escrevi há um ano e há coisas às quais hoje consigo dar uma resposta. Houve embriões euplóides mas nem essa aparente vantagem lhes valeu. No ano em que entrei na casa dos 40 encerrámos a nossa luta. O melhor de nós não chegou e não aguentámos mais desilusões. Apesar do desgosto, foi possível terminar dentro do período que me era mais favorável para a mudança de página, não tornando o estrago emocional ainda maior.
Perdi muito desde que começámos esta história, mais do que imaginava quando tudo começou. Só saberia disso vivendo-o, por isso não me arrependo. Aquilo que lamento realmente é que os meus filhos tenham partido sem culpa de nada. Cresci, mudei, acredito que, em parte, devido à falta de sentido em tudo o que nos envolveu neste caminho incerto da infertilidade. Não consigo encontrar uma explicação lógica para o que sucedeu e que ninguém se atreva a dizer que o destino estava traçado para que assim fosse.
Há 9 anos havia algo dentro de mim que me dizia que o meu percurso não ia ser banal e de fácil resolução. Excedeu exponencialmente a estranheza que já sentia por não funcionar como o padrão que conhecia. Em determinadas alturas odiei-me, agora só tenho de aceitar a anormalidade que me caracteriza.
Em várias ocasiões falei dos sonhos. Na noite passada sonhei que tive uma consulta com a Diretora do serviço para ter a alta presencial que não chegou a acontecer. Não voltei a sonhar que estava grávida ou que já era mãe e não sabia, como tantas vezes aconteceu.
Todos os dias penso neste passado surrealista. Por outro lado, continuo sem qualquer dúvida de que era a altura de parar. Não há nenhum "e se?" latente numa qualquer pasta oculta da minha mente.
No ano passado estava a fazer fisioterapia, atualmente continuo lesionada mas consigo fazer uma vida praticamente normal. De vez em quando o meu tornozelo começa a latejar sem mais nem menos, mesmo que tenha estado pouco tempo de pé. Ainda na semana passada aconteceu isso e inchou ligeiramente.
Com o termo dos tratamentos decidi investir em mim, voltei a estudar e daqui a uns dias começam avaliações. Apesar de praticamente não existir qualquer ócio na minha vida, sinto-me mais tranquila do que quando havia listas de espera, tinha de aguardar por chamadas ou andava no lufa-lufa dos tratamentos. Agora detenho um controlo sobre mim que antes não possuía.
Daqui a um ano não farei nenhum post sobre 10 anos. Este é o remate da saga dos aniversários relacionados com a infertilidade. Mais uma amarra está libertada.