sábado, 27 de setembro de 2025

Espera na ULSM

Comecei há uns anos, talvez uns quatro, a sentir os sintomas da pedra na vesícula. A saga iniciou com um enorme desconforto, na altura do S. João, após me ter empanturrado com três sardinhas assadas de tamanho pequeno, sem as besuntar em azeite como alguns gostam. Parecia que tinha enfardado este mundo e o outro, qual ogre. Algum tempo depois o mau estar instalou-se após a ingestão de um carapau grelhado. Seguidamente passou também a acontecer com outras comidas com as quais nunca tinha tido problemas. A minha alimentação não inclui habitualmente coisas muito gordurosas, mas o gatilho da presença de um alimento mais gordo deixava-me nos dois ou três dias seguintes muito mal disposta. Iniciaram-se posteriormente as dores agonizantes de madrugada, na zona epigástrica. Esses episódios repetiram-se sete vezes até ao momento. Aí passei a desconfiar de que tinha litíase biliar. Em maio do ano passado marquei consulta com a minha médica de família. O tempo de espera para consulta programada normalmente é de 4 meses. Esta fora agendada para setembro mas houve greve no dia da mesma. Foi reagendada nova data para outubro. Nessa consulta foram prescritos exames de rotina à mama, ao gânglio na clavícula que nunca mais foi ao sítio após a vacinação para a COVID-19, ecografia abdominal e análises. Para não ter de faltar muitas vezes ao trabalho decidi compilar todas as ecografias e mamografia no mesmo dia. O filme para a marcação começou com a ecografia mamária ou mamografia, já não me recordo. O número de locais disponíveis é diminuto, a Unilabs, por sua vez, aproveitou a pandemia para espalhar os seus infinitos tentáculos e apoderar-se de quase tudo o que era espaço que realizava exames complementares de diagnóstico. Os tempos de espera tornaram-se exasperantes para alguns exames desde que essa praga se instalou. Consegui fazer o que queria três meses depois. A médica de família tinha agendado nova consulta para janeiro, na qual levei os resultados. Fiquei inscrita para consulta de cirurgia e outra especialidade no dia 21 de janeiro. Oito meses depois tive a tão aguardada consulta em que finalmente iria integrar a lista de espera de cirurgia.

Na quarta-feira desta semana foi então o dia da oficialização da inscrição. Fui atendida à hora marcada. Estava cheia de esperança de que a colecistectomia seria muito em breve e saí do consultório com a indicação de que a cirurgia será feita dentro de um período de 6 meses ou até mais. Ao aproximar-se de uma espera de 100 dias é emitido um vale com a indicação de outro(s) local(ais) onde posso ser operada, se aceitar. Confesso que foi um balde de água fria. Se estivesse a aguardar cirurgia na área de dermatologia seriam dois a três anos de espera!

Consultei há instantes a minha posição na lista de espera. Tenho 690 pessoas antes de mim e a previsão é de que a operação seja em 20 semanas +/- 15 dias, ou seja, fevereiro de 2026.

Sobre a dor epigástrica o cirurgião não está certo de que esta se deva à litíase. Diz ele que só após a cirurgia ficarei a saber. Se não voltar a ter as crises dolorosas, então podemos admitir que a causa foi eliminada, caso contrário pode dever-se a gastrite, refluxo ou um problema no coração.

Estou a piorar a cada semana que passa, evito induzir o vómito quando sinto vontade de tal, o que acontece numa frequência quase diária. Houve duas vezes em que tive mesmo de o fazer. Não sei o que comer, porque tudo me deixa enjoada, a minha motivação para cozinhar é reduzida há bastante tempo. Sei que há pessoas que passam a ter alguns constrangimentos decorrentes da colecistectomia, porque a bílis passa a ser continuamente segregada no intestino. Não fazer a intervenção cirúrgica acarreta riscos que superam os normais efeitos adversos da mesma. Um tio do meu marido, por outro lado, foi um caso extremo de uma complicação ocorrida durante a laparoscopia, em que acabou por ter de fazer, tempos depois, um transplante hepático. Penso estar ciente dos prós e contras de tirar a vesícula ou não fazer nada. Vou optar mesmo por tirá-la, em princípio quase dois anos depois de ter ido ao centro de saúde marcar consulta.

A outra consulta de especialidade em que fiquei em lista de espera está com uma demora que ultrapassa os 500 dias. Não me admiro se sair de lá também com indicação de cirurgia. Caso assim seja, vou averiguar os tempos de espera no Hospital de S. João e a possibilidade de ir para lá.

Sem comentários:

Enviar um comentário