quarta-feira, 24 de maio de 2017

Dor na infertilidade

"Sentes dor?" É uma questão que surge habitualmente e tem toda a legitimidade de ser colocada, ao contrário de outras inconvenientes.

Na infertilidade podem estar presentes dois tipos de dor: física e emocional. A última é claramente a pior e aquela que é indissociável desta doença. A dor física, sobre a qual vou dedicar a minha atenção não existe sempre.

Pode experimentar-se dor ainda na fase de diagnóstico da causa de infertilidade e durante os tratamentos.

Quem sofre de uma condição chamada endometriose sente (muita) dor, bastante tempo antes de ser feito qualquer diagnóstico. Não me vou debruçar sobre esse tema, porque não tenho conhecimento de causa, há pessoas muito mais habilitadas do que eu para o fazer. Vou focar-me naquelas que me são familiares e, à semelhança de outros assuntos que abordei no blogue, não são a regra para todas as mulheres. Tenho umas condições específicas que enquadrarei na descrição para não assustar quem está curioso ou aterrou recentemente no planeta da infertilidade e aqui no meu espaço.

Após os tempos definidos para o encaminhamento em consultas de infertilidade é da praxe a realização de análises e exames complementares que vão ajudar a delinear o percurso para combater a maldita.

As colheitas de sangue poderão custar a quem tem fobia às agulhas. Pessoalmente nunca tive qualquer problema e não podia ser de outra forma, porque ao longo da vida fiz muitas dezenas de análises sanguíneas.

Para averiguar a permeabilidade das trompas solicita-se a realização de um exame de nome pomposo que tanto pode ser um filme de terror como algo complemente inofensivo. A histerossalpingografia foi, para mim, algo totalmente suportável, senti como que uma dor menstrual. Quando as trompas têm livre trânsito, geralmente não há queixas. Nalguns locais recomendam a toma de analgésico, no Hospital Pedro Hispano não houve indicação de nada.

Há quem faça ainda histeroscopia mas não posso comentar, pois nunca realizei nenhuma.

Ecografias, que vão ser o pão nosso de cada dia, à partida parecem inofensivas, contudo abordarei mais à frente uma exceção que me aconteceu.

Sobre os tratamentos, um procedimento banal é a prescrição de indutores ovulatórios orais. Não passam de uns comprimidos e exigem monitorização dos ovários durante a sua toma, pois há o risco de ocorrência de hiperestimulação. Comigo os comprimidos não funcionaram, não senti qualquer dor nesses ciclos e a quem produzem resultado, normalmente não há nada de relevante a apontar.

Agora os temíveis injetáveis... Nada de especial, mesmo. Há coisas piores na vida que umas agulhinhas que incomodam menos que uma picada de melga. Sim, houve dias em que senti qualquer coisa mas a aplicação das injeções é das etapas mais fáceis de todo o drama da infertilidade. Quem está de fora fala automaticamente das injeções e julga que isto é o grande bicho de sete cabeças. Nah! Nada disso. A complicação pode estar nos efeitos das "picas". Isso senti bem, não pelos hematomas que apareceram, mas pela intensa labuta que se gerou cá dentro. Em ambiente normal os meus ovários são pequenos vulcões extintos. O que aconteceu em fevereiro do ano passado foi o acumular de um trabalho que eles nunca fizeram na vida. Perto de 40 folículos em disputa culminaram na Síndrome de Hiperestimulação Ovárica e isso doeu, e muito. Há quem tenha hiperestimulação e pouco ou nada sinta, a maior parte das vezes as mulheres não hiperestimulam, tranquilizem-se. Anteriormente referi as exceções nas ecografias. Quando os meus ovários estavam tão ativos como uma máquina de fazer pipocas, a realização de ecografias era penosa principalmente na contagem e medição dos folículos. Posso dizer também que a sensibilidade de quem as realiza influencia. Um médico experiente fê-lo sem me incomodar praticamente nada, enquanto noutra altura uma estagiária decidiu fazer uma visita de estudo de 20 minutos, divertindo-se à brava com o cenário dantesco que tinha à frente dela. Escusado será dizer que sofri mas ela devia estar a pensar que eu era daqueles modelos anatómicos usados nas aulas.

As atividades do quotidiano eram feitas com muito custo. Qualquer movimento que exigisse (pouco) esforço do tórax para baixo tornava-se cada vez mais uma tarefa difícil.

Acerca da punção folicular. A colocação do catéter não é das melhores sensações para quem tenha veias finas como eu, mas suporta-se. A punção em si é feita sob sedação, logo dorme-se e até se sonha! O acordar para mim e respetivo recobro... ui, ui, foi muito duro! Friso novamente que se deveu à hiperestimulação. Após acordar, a maioria das mulheres está fresca que nem uma alface e pronta para outro round, não entrem em pânico. A semana após a punção não foi fácil, mas tudo ficou resolvido.

Relativamente às transferências, nada a registar. Pode haver incómodo se não acertarem na colocação do espéculo. A introdução dos embriões é totalmente indolor.

Falta apontar que há outras técnicas que estão associadas a sofrimento físico, contudo como não recorri a mais nada, não podia falar na primeira pessoa. Quem sabe alguém não se importa de partilhar aqui as suas experiências?

Se o episódio da hiperestimulação não tivesse ocorrido, podia considerar que do ponto de vista físico, tudo aquilo que fiz até ao momento não teria envolvido dor. O facto de estar a fazer esta assunção não desvaloriza a dor maior que se entranha no cérebro, coração e alma, a verdadeira dor, que aos olhos dos outros é muitas vezes considerada como inferior, sem sentido ou até ridícula.

1 comentário:

  1. Concordo plenamente que a dor maior é na alma... as físicas chegam a ser insignificantes perante a tristeza, angústia e até os dias de desespero, porque passamos.

    A histeroscopia não custa praticamente nada, e também já fiz o teste ERA que consiste numa biopsia ao endometrio e também não é nada de especial... são 15seg de dor e passou. Eu não acho as transferências particularmente agradáveis, mas também são 30min desconfortáveis e depois já não se passa nada.

    Beijinho e muita sorte para este tratamento

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