Às 8h vou estar no hospital para colocar o catéter, depois é aguardar pela minha vez para fazer a punção. Está a começar a chegar o nervoso miudinho, não pelas dores que vou sentir mas pelo aproximar das próximas etapas.
Trata-se do culminar de oito anos cheios de incertezas, desilusões, sofrimento. Passei milhares de horas a pesquisar, perdi a conta às noites em claro a pensar na vida, gastei muitos dias em salas de espera de hospitais. Deixei vários tubos de sangue para analisar, fiz uma quantidade de ecografias que jamais pensei que fosse realizar. Sacrifiquei a minha vida profissional para conseguir fazer tratamentos a cada 4 meses, tomei uma quantidade infindável de comprimidos, injetei-me com a mesma ligeireza com que realizo uma atividade banal do quotidiano.
Chorei, se chorei... Acabei por ficar sem lágrimas pela permanente deceção comigo. Ouvi muita coisa, desde palavras de motivação, incentivo e aconchego. Fui também variadíssimas vezes dissuadida a desistir, a procurar alternativas de tratamento ou aconselhada a ponderar outras formas de ser mãe. Foram-me ditas algumas palavras que dispensava ter ouvido. Os momentos baixos sobrepuseram-se aos altos, planeei o meu dia a dia em função dos tratamentos ou dos seus possíveis resultados, perdi o meu eu algures por aí. Perdi 4 filhos. Dezenas de embriões, os mini-nós, não conseguiram evoluir. Na vida além da infertilidade realizei algumas conquistas, vivi momentos felizes, amadureci. Passei a valorizar mais a simplicidade, aprimorei a forma de ver o que me rodeia, não me deixo deslumbrar facilmente com as coisas.
Validei uma grande aprendizagem com esta luta. Não temos noção da nossa capacidade para enfrentar situações menos boas até nos depararmos com elas. O motor desta luta é a esperança.
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