segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Bodas de couro ou trigo

Há 3 anos, numa quinta-feira, e após uns breves minutos frente ao Conservador, assinámos o contrato que selou uma união que existia há vários anos. Foi um momento só nosso, porque assim entendemos. O que houve nessa manhã, até eu ir trabalhar no período da tarde, foi do que mais prezo na vida: paz e sossego. Como gosto de serenidade! O ato oficial em si foi isso mesmo, as horas que se seguiram foram uma continuação desse estado de alma e a hora de jantar foi também pautada por uma sensação de leveza indescritível. Estávamos ali, um para o outro. Temos pouquíssimas e péssimas fotos do momento. O Conservador ofereceu-se para registar, com um dos nossos telemóveis, algumas memórias daquele ato solene. Percebemos que acumular funções de fotógrafo não é uma boa solução para ele. Não importa, porque a minha mente tem tudo registado. Marcámos a cerimónia para as 9h da manhã, porque inicialmente estava previsto realizar uma TEC nesse dia, pelo que às 12h já deveria estar de bexiga cheia no hospital. O plano era casarmos, passarmos uns breves minutos a dois, voltarmos a casa para trocar de roupa e seguir para o HSJ. Como me foi dada a indicação para iniciar o Progeffik um dia depois do que tinham planeado inicialmente, a TEC acabou por realizar-se no dia seguinte. No dia do meu casamento estava um sol maravilhoso. O frio não deu ar da sua graça e depois de sairmos da Conservatória fomos ao nosso sítio, onde tudo começou. Em seguida aproveitámos para caminhar lentamente pela marginal, despida de gente e sentimos a brisa do mar calmo. Naqueles minutos, para nós, não havia mais nada no mundo além daquele espaço.
No dia seguinte, a médica que fez a transferência brincava comigo a dizer que poderia contar que engravidei no casamento e a verdade é que o resultado foi positivo. Engravidei da minha menina. Foi a gravidez mais "evoluída" que tive e o aborto visual e fisicamente mais marcante do meu histórico.

Não importa qual a boda que está a ser celebrada. Como em qualquer relação há uns dias melhores que outros, independentemente de haver ou não um ato legal envolvido. Um dos pilares que, a meu ver, sustenta uma união é a capacidade de não ceder às primeiras adversidades e ter maturidade para saber crescer em conjunto. As centenas de páginas que antecedem este post ilustram um enorme rol de percalços, decisões, contrariedades, episódios ruins que poderiam abalar fortemente a nossa vida a dois. Não foram um mar de rosas, isso garanto. Houve clivagens que poderiam ter comprometido a nossa estabilidade de forma irreversível. Conseguimos suster-nos. Venham de lá mais bodas com saúde, compreensão, respeito e amor mútuos para que daqui a muuuuiitos anos sejamos aqueles velhinhos que estão de mãos dadas, não só para impedir a queda de um dos dois mas porque se veem como peças um do outro.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Em ambientação

Está instalada a dinâmica das aulas, estou em fase de habituação e a tentar antecipar-me em tudo o que me é possível para poder perceber se tenho dúvidas em alguma coisa, antes que se avolume o trabalho. As terças-feiras são duras. Apesar de me encontrar no conforto do lar, toda a manhã é passada com ensino online, à tarde repete-se a dose, tendo a agravante dessa aula ter sempre um questionário para responder em grupo. Este começa ainda dentro do período da aula e estende-se na(s) hora(s) seguintes, porque tem de ser submetido até uma ou duas horas após o seu termo. Ontem, por exemplo, o dia começou às 9h10 e terminou às 19h, sendo que aproveitei o tempo de almoço para adiantar mais algumas coisas. Depois de jantar ainda estive à volta de um projeto para uma das unidades curriculares. Todas as terças vão ter esta dinâmica.

Além disso, ainda tenho a vida para lá do curso ocupada parcialmente com algum trabalho remunerado e o outro que passa despercebido.

É dose... Ou não, pois há correntes que defendem que o trabalho intelectual é trabalho da treta e que apenas as aulas bastam para cumprir os requisitos. No fundo, só o trabalho braçal cansa. Conheço as duas vertentes e sei dar-lhes o devido valor. Não posso é esperar que pensem como eu.

O patamar que estou a estabelecer para mim, não é de cumprimento de mínimos. Pretendo que o curso que me traga uma mudança para melhor e, para atingir esse objetivo, qualquer segundo é precioso.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Fantasmas

Já aqui relatei que a minha família paterna (tios e tias) tem sido fustigada com doença oncológica em várias partes. Nuns casos o diagnóstico foi realizado em fase metastizada como, por exemplo, no meu pai, mas não foi o único nessa situação.
Agora é um tio materno que está a enfrentar essa provação. Aparentemente o carcinoma está circunscrito, tem 40 mm, sem metástases. Não bastava o choque da terrível notícia, vem também a incerteza da influência do Covid na resposta do SNS. O meu tio não sabe como, quando e onde vai ser operado. Está já a deparar-se com demora num exame.

A minha mãe diz que há vários familiares do seu lado materno que tiveram cancro, todos do foro gastrointestinal. Os meus avós tanto paternos como maternos, pelo contrário, faleceram com idade avançada, sem evidências de que tenham sofrido de cancro.

Este fantasma influenciou, em certa medida, o desejo de que a entrada na maternidade não fosse muito tardio. Não sei se o meu caminho vai passar por travar, na primeira pessoa, a luta contra a coisa peçonhenta. Quis proteger a minha cria da possibilidade de sofrer desde tenra idade por causa da mãe.

Lembrei-me de um pormenor sobre a dor dos filhos. Tinha algum receio de ter uma filha. Cheguei a estar grávida de uma pequena bonequinha e afligia-me que no futuro se deparasse com os mesmos problemas que eu do ponto de vista reprodutivo ou que fossem até piores. Pesquisas recentes apontam que uma das causas da SOP poderá ser a exposição excessiva do feto à AMH, daí não se terem descoberto causas genéticas para a síndrome. Sei o que senti com a minha adolescência atribulada e o que sofri com a infertilidade. Receava que uma filha minha passasse também por essa experiência.

sábado, 3 de outubro de 2020

Rufam os tambores

Terça-feira será o regresso às aulas. Não vai acontecer como seria ideal, as circunstâncias atuais assim o obrigam. Cerca de 50% da atividade letiva decorrerá na modalidade online. O material necessário está pronto a ser usado (também não é preciso grande coisa), a cabeça está fresquinha, a motivação bem alta, só falta começar!

Entraram 60 e tal alunos pelo concurso nacional de acesso ao ensino superior. Não sei quantos há de contingentes especiais. Foram criadas 11 turmas com horários distintos para acautelar o distanciamento. Pelo que parece, para já, o horário é bastante jeitoso. Apesar de não ter solicitado o estatuto de trabalhador-estudante, vou manter ocupado parte do tempo disponível com atividade independente que já desenvolvia. Deverei também voltar a prestar serviços numa instituição onde passei dias muito felizes.

Vai ser estranho estar tão perto do HSJ a tentar concretizar um projeto de vida que surgiu depois de, o que me levou lá, ter falhado. Estou lentamente a cortar o cordão umbilical que me uniu àquela parte da Circunvalação.

O maior desafio vai ser conciliar a vida familiar, com o trabalho (ainda que poucas horas semanais) e o curso. Desta vez não estou sozinha a 400 km de casa.