segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

6 anos de blogue

Apesar de ter sido o ano mais mortiço da minha atividade por aqui, não quero que este espaço desapareça. Desde que me embrenhei na mudança de rumo, cuja fase inicial é bastante preenchida e vai ocupar-me, à partida, ainda mais um ano e meio, será de esperar que farei publicações ocasionais em vez de mais regulares. O que seguirá depois será a confrontação com uma nova vida.

Digamos que este intermezzo de 3 anos está a ser a transição entre o Eu que viveu uma fábula durante uns anos e a pessoa que quer envelhecer com lucidez, autonomia e, se possível, a achar que até valeu a pena cá andar. Uma das expressões que o meu pai mais usava era "quando a vida correr melhor..." e lá ia traçando metas de pequenas coisas que desejava alcançar. Nenhuma chegou a acontecer, porque o tempo dele esgotou-se muito antes. Não partiu em paz, pois considerava que não conseguiu deixar tudo devidamente preparado para nos poupar ao máximo de preocupações de caráter burocrático. Além dessa frustração debateu-se com dúvidas relacionadas com a fé. Questionava-se durante a noite do sentido da existência de um Deus que permitia o sofrimento. O meu pai trabalhava muito, não era uma pessoa de frequentar a igreja nem de manifestar a sua religiosidade, mas todos os anos ia à casa paroquial deixar a sua oferta monetária, além daquilo que dava na altura da Páscoa. Já falei aqui que a criaturinha que lhe fez o funeral mostrou durante toda a cerimónia (e noutros momentos) uma falta de caráter inexplicável. Não bastava todo o sofrimento que sentíamos por perdermos o nosso pai, ainda tivemos de ouvir repetidas vezes, na missa do funeral "Quem morre sem crer em Deus, morre desesperado". Essa foi a barbaridade que mais me marcou entre as inúmeras que ele foi proferindo, sem nunca nos ter visto na vida. Não houve uma palavra de conforto ou sequer um discurso oco inócuo. Em todos os momentos em que ele falava fora do que era ritual de leituras e rezas habituais nas missas, manteve prepotência e maldade, em que me questionei se estava realmente a ouvir bem ou se era apenas impressão minha. No final de tudo, depois de uma crise de asma que tive à saída do cemitério e uma ida à farmácia para ir comprar um inalador, porque me tinha esquecido do meu em Évora (onde estudava), perguntei à minha irmã se ela prestou atenção àquilo que o padre disse na missa. Cheguei à conclusão que não foi impressão minha, e de facto, no tempo todo, a criatura não parou de fazer comentários desagradáveis, sem conhecer a minha família. Se eu sentia revolta por tudo o que estava a viver, o funeral multiplicou o sentimento. Três anos depois deparei-me noutra freguesia com aquele energúmeno e o registo manteve-se, com novos alvos. Dessa vez saí porta fora, que era o que devia ter feito no funeral do meu pai. O que me impediu na altura era que queria protegê-lo (não sei de quê, não havia nada a fazer) e ficar perto dele.

A volta que isto deu num post que deveria ser sobre a minha permanência, ainda que bastante adormecida, na blogosfera. Para mim, que comecei a sofrer de verborreia desde há alguns anos, não me compatibilizo com a fast info que as redes sociais atuais e aplicações de comunicação instantânea preconizam ou daquelas coisas que à moda da Missão Impossível autodestroem-se passadas x horas. Instalei com relutância o WhatsApp no mês de outubro, porque os meus colegas de faculdade dizem que é muito útil. A verdade é que não ponho de parte desinstalar no próximo semestre, porque não lhe vejo ainda grandes vantagens e uso maioritariamente no computador quando tenho de fazer relatórios em grupo ou projetos. Para já não me tem facilitado muito a vida e traz o inconveniente de funcionar apenas ligado à internet, apesar de ser usado o contacto associado à operadora de rede móvel. No meu telemóvel raramente ligo o Wi-Fi ou dados móveis, porque para mim o importante é ter bateria para poder usar para chamadas, SMS e situações de emergência. Uma carga no meu equipamento dura, no mínimo, uma semana sem o desligar durante a noite. O uso de internet no telemóvel suga a bateria de tal forma que deixa de se poder contar com ele quando há uma necessidade premente. Chamem-me de velha que não me interessa. Se um dia precisarem de fazer um contacto urgente e não tiverem bateria, powerbank para desenrascar ou outra forma de realizar uma chamada, porque estiveram a usar o telemóvel para navegar nas ondas cibernéticas, talvez se pense que net no smartphone não faz assim tanta falta. Não me senti tentada a ter conta no Instagram, Twitter e outras redes sociais que eventualmente existem. Tenho conta no Facebook, mas é quase o mesmo que não ter, pois a minha atividade é reduzida. As redes sociais podem ter ajudado a perceber como escrever é importante, mas não trouxeram milagres de escrita, nem maior discernimento para a interpretação de conteúdos. Não consigo avaliar se globalmente trouxeram mais coisas más que boas. Pessoalmente não vejo grandes mais valias, daí o meu desinteresse. A cultura do like e dislike trouxe muita artificialidade aos nossos atos quotidianos e uma falsa ilusão do que é a perfeição. Num blogue não há incentivo ao like, quem tiver paciência para ler só visita se e quando quer. As mensagens não se autodestroem a não ser que o administrador as elimine. À semelhança das outras redes sociais, não se geram milagres da escrita, também se podem expor vidas "perfeitas" e coisas sem interesse nenhum. Considero, contudo, que a procura por esses conteúdos é mais intencional do que se houver um conjunto de páginas reunidas num mesmo espaço em que se leva com um feed de notícias e algoritmos tendenciosos.

Sei que o que escrevo atualmente é algo que se encontra à deriva, deixou de estar direcionado a um tema concreto, ao contrário do que aconteceu desde a sua génese até há pouco mais de dois anos. Paralelamente à infertilidade aconteciam outras coisas que não eram aqui exploradas, o que é perfeitamente normal e nem tudo era pesaroso, felizmente. Deixei de ter um grande fardo, passei a ocupar-me de outros assuntos aos quais acrescem os efeitos colaterais dessa carga que mantive em cima de mim durante muito tempo. Não seria certamente a pessoa que sou atualmente se não tivesse aguentado tudo aquilo. Desencadeou novas fraquezas e outros pontos fortes, transformou-me para sempre e fez-me perder um pouco a curiosidade no que poderá acontecer futuramente. Logo se vê o que virá.

sábado, 11 de dezembro de 2021

Dos linfonodos

Desde que um grupo ligado ao ramo da saúde se apoderou de praticamente todas as clínicas que faziam exames complementares de diagnóstico aqui no norte, qual polvo, para se conseguir marcação de algum exame espera-se uma eternidade. A requisição passada pela médica tinha ecografia às partes moles (clavícula esquerda), esta não é comparticipada e também ecografia mamária, uma vez que os gânglios do lado esquerdo que drenam aquela zona tinham inflamado aquando a segunda dose. Cinco meses passados, seria de esperar que os linfonodos da clavícula deixassem de se sentir, certo? Errado! Ainda aqui estão, uns dias maiores outros mais pequenos, indolores, sobre o osso. Não sei se a origem deles é supra ou subclavicular. Arranjaram morada ali e por lá estão a fazer usucapião.

A data mais rápida que consegui há uns meses foi ontem, em Gondomar, e depois de procurar a clínica sem que nenhuma morada ou coordenada de GPS batesse certo, lá dei com o sítio, com o tradicional perguntar a alguém.

Confirma-se então a presença dos dois gânglios na clavícula esquerda e um gânglio "bónus" intramamário, desse lado. Só me apercebi da existência dele quando o ecógrafo passou por cima e senti bem que ele lá estava. Aparentemente estes ocupantes deslocados não inspiram cuidados adicionais. Em relação à mama direita nada foi dito. Quando em março fiz ecografia mamária e mamografia, foi detetado um gânglio na mama direita e nada na esquerda. Aguardo o relatório e depois volto a consultar a minha médica de família. Desde há umas três semanas, de vez em quando, há um gânglio supraclavicular do lado direito que gosta de mostrar que anda aí. Tenho de estar de olho nele também.

Nestes meses de silêncio, além do trabalho que o curso exige, da gestão do dia-a-dia com várias coisas em simultâneo, tenho andado a controlar as bolinhas que vão aparecendo no meu corpo, tratar de outra coisinha de que falarei daqui a uns tempos e ainda não me livrei totalmente dela e a mais recente, um acidente há quatro dias, em que uma alma distraída ou a olhar para algum ecrã de telemóvel enquanto conduzia, só parou o carro dela quando foi contra a traseira do meu. Tem sido deveras emocionante (sqn).

Anseio pelo dia em que o curso termina e espero verdadeiramente que seja daqui a uns 19 meses. Seguir-se-ão outras etapas, mas sinto uma necessidade enorme de dar um grande salto.

Apesar de 24 horas serem pouco para o que tenho a fazer diariamente, continuo a despender uma parte considerável dos meus pensamentos na tortura passada. É mais um conjunto de devaneios que acumulo, além da morte do meu pai, embora já tenham passado praticamente 19 anos. Tornou-se uma espécie de pacote que faz parte da minha rotina, não acrescenta nada de útil às necessidades diárias, mas cá anda a ocupar-me a mente.

Daqui a um mês e um dia faço 42 anos. Há alturas, contudo, em que parece que parei no tempo, pouco evoluí em vários setores ou até mesmo regredi. Eu não era uma pessoa propriamente sonhadora em relação a planos para o futuro. Não defini uma lista de objetivos como há quem faça. Idealizei poucas coisas e nada do que tem acontecido se assemelha ao que alguma vez imaginei. Tem dias em que me irrita ser adulta, enerva-me ter de tomar decisões, canso-me de mim mesma, questiono o sentido do que faço. Se calhar toda a gente tem um ou outro momento em que sente isto, mas no fundo sou uma privilegiada em muitos aspetos, é nisso que tenho de me focar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Vaniqa - primeiro feedback

Iniciei o tratamento no dia 14 de julho. O aconselhado é fazê-lo duas vezes por dia, num intervalo de 8 horas. Houve algumas situações pontuais em que só fiz uma aplicação diária e durante uma semana (quando fui de férias) não coloquei, porque o uso de máscara, calor e suor na cara não me faziam sentir muito confortável.

Como ainda não começaram as aulas, o meu tempo é praticamente 100% passado em casa, o que facilita a manutenção da rotina.

Tenho a dizer que estou surpreendida com o que está a acontecer. O estado de inflamação reduziu drasticamente, a pinça é usada muito menos vezes e aqueles pelos que estavam a começar a aparecer geograficamente mais expandidos têm-se mantido tímidos. Posso dizer que antes, na zona do queixo a média diária de pelos que removia com a pinça era de cerca de 20 ou até mais. No chamado buço havia alguns residentes que se destacavam dos demais pela sua espessura e agora é pouco habitual darem sinal de vida. Ainda estou cética que no queixo vão desaparecer na totalidade, eles são do Demo, a não ser que fizesse pílula contínua como no ano passado. Como isso não vai acontecer, só com o tempo vou perceber se estou enganada ou não.

Agora para que isto corra sobre rodas é estalar os dedos para que o Covid deixe de ser preocupação, desapareça de vez e se possam largar as máscaras que nos alteram o estado da pele. Já agora vou pedir a S. Pedro para que não nos brinde com dias muuuito quentes, para poder verificar o funcionamento do creme em toda a sua plenitude.

Balanço preliminar: sim senhor, comigo está a mostrar resultados promissores.

Lembro que é necessário receita médica para o adquirir, custa 48 euros e qualquer coisa, se não me engano. Ainda não consigo dizer quanto tempo dura uma embalagem, porque continuo a usar a primeira que comprei. Traz 30 g de creme e se não fosse tão dispendioso, besuntava também a zona pélvica para ver se domava a espécie invasora. Como nada é perfeito nesta vida, se abandonar o tratamento volta tudo ao mesmo ao fim de algumas semanas.

Findo o momento influencer (numa versão foleira, porque não tenho jeito para a coisa e sai-me do bolso), há mais ou menos novidades sobre os linfonodos. Tive teleconsulta com a médica de família. A minha opinião é de que se devem inteiramente à vacina, já ela é mais cautelosa e diz que não perco nada em fazer ecografia. Não lhe tiro a razão. Como tenho de realizar análises no início de novembro para avaliar o colesterol, vou ver se na altura em que as agendar os gânglios continuam iguais. Se sim, marco a ecografia. Caso contrário, faço só as análises que já estavam previstas. Durante este tempo, se eles aumentarem, faço ecografia sem pestanejar. Uma vez que a vacina da gripe vai estar ali pelo meio, para não interferir, mais uma vez, peço para administrar no braço direito, se não isto nunca mais acaba. Se houver uma terceira dose para Covid tenho de estudar a melhor estratégia.

Ontem fiquei a conhecer um outro tipo de dor. Estou com cistite, com tudo a que tenho direito, como disse a médica que me atendeu ontem na urgência.

Tive dor renal e inicialmente confundi com uma lombalgia que estava a parecer cada vez mais sinistra. É muito estranho nenhuma posição na cama trazer algum conforto ou alívio e foi assim que acordei às 6h da manhã de ontem, pouco tempo depois do céu ter aberto as goelas com uma trovoada como já não me recordava. Passei o dia com dores persistentes no fundo das costas, no entanto só ao fim da tarde é que percebi que não era na coluna mas sim um pouco deslocada para o lado esquerdo. Intrigava-me ter surgido repentinamente, porque a minha experiência em lombalgias é de um aumento progressivo ao longo dos dias e encontrava sempre uma determinada posição que me trazia algum alívio. Desta vez não. Troquei de colchão e almofada há poucas semanas e depois de ter acordado daquela forma estava desanimada, a pensar que o colchão novo estava a ficar insuportável como o anterior.

Fiz mais tarde a associação a rim, sem grande certeza, porque sábado passado comecei a ter sintomas de infeção urinária e esse foi o dia mais complicado. Mantive boa hidratação nos dias seguintes para ver se passava e pensava que a situação estava a reverter. Afinal os rins já estavam com complicações. Isto foi uma lição para mim e vou levar a sério futuras infeções urinárias, porque está visto que pode vir a correr mal a abordagem mais tradicional da ingestão da água.

Levei uma injeção de Voltaren e estou a fazer antibiótico. As dores não regressaram para já, o que é maravilhoso.

Esta experiência foi uma nova aprendizagem para conhecer mais um pouco o comportamento do meu corpo.

domingo, 29 de agosto de 2021

Dois "amiguinhos"

Os dois moradores da clavícula continuam por cá. Um é maior que o outro. Os axilares devem ter regredido e normalizado, no entanto é mais difícil de perceber. Nesta semana que inicia tenho uma consulta com a médica de família para definir a próxima etapa. Dia 31 faz um mês que fiz a segunda dose, no entanto eles já cá andam, pelo menos, desde o dia 10 de julho.

Continuo a achar que é tão somente o meu corpo a desenvolver resposta imunitária fomentada pela vacina, mas não posso desprezar a lentidão em torno do desaparecimento.

Li um artigo relacionado com isto, relacionado com a vacina da Pfizer, e a conclusão a que se chegou é que a vacina foi administrada acima do que seria mais indicado, podendo desenvolver também dor no ombro. Esse foi outro efeito colateral que senti.

O surgimento de linfonodos axilares é menos frequente que os claviculares e saíram-me as duas situações na rifa.

Desejo infinitamente que não passe disso, porque as outras possibilidades não são nada boas e enquadram-se na minha idade.

domingo, 1 de agosto de 2021

Pfizer BioNTech

Ontem foi-me administrada a segunda dose da vacina. Os linfonodos claviculares que apareceram uma semana após a primeira dose continuavam firmes e hirtos.
Na noite que sucedeu a nova vacinação ficou bem evidente um endurecimento da zona da injeção com um aumento da temperatura local. De vez em quando sinto algum prurido que tento ignorar para não rasgar a pele com a minha delicadeza. Quando me levantei de manhã dei conta que, além dos linfonodos da clavícula estarem mais volumosos e novamente sensíveis, sinto dor na axila, porque também aumentaram gânglios (não consigo perceber quantos). Tranquiliza-me que isto esteja a acontecer do lado da injeção. A enfermeira que me atendeu ontem é que não estava a contar que lhe apresentasse o aparecimento de linfonodos como efeito secundário, não sei porquê e disse para consultar um médico se ao fim de duas semanas não houvesse alterações. Ao meu marido, logo no dia seguinte à administração da segunda dose, apareceu-lhe um linfonodo supraclavicular.

Já percebi pela vacina da gripe que fiz no outono de 2018 que os meus gânglios demoram mais de um mês a deixar de se sentir. Não sei até que ponto uma resposta tão tardia é normal, mas lentidão no meu corpo é algo a que estou habituada.

Vou dar um mês para que isto dê sinais de regressão, uma vez que houve duas vacinas administradas num curto intervalo de tempo. Caso persista vou passar para a próxima etapa e verificar se há algo mais. Por enquanto estou serena em relação a este assunto, porém atenta.

sábado, 17 de julho de 2021

Hirsutismo - abordagem terapêutica

Em posts anteriores falei que o hirsutismo tem vindo a piorar. Tive no ano passado uma fase espetacular, em que pouco me incomodava, quando fiz pílula contínua durante uns meses, antes da TEC 9. Quando deixei de a tomar voltei ao ponto em que estava. O hirsutismo pode apresentar vários níveis de desenvolvimento, consoante a parte do corpo onde ele pode surgir. A escala de Ferriman e Gallwey sintetiza os estádios associados a este efeito da SOP. Aquando a participação no estudo clínico InOvulação, num dos documentos que preenchi no dia em que fui ao Hospital de Guimarães, tive de assinalar como este distúrbio se manifestava, de acordo com esta escala.

Há algum tempo, em conversa com a minha médica de família, perguntei-lhe se a depilação a laser teria viabilidade. Como sofro de flutuações hormonais constantes, poderia ser contraproducente investir numa técnica sem qualquer resultado. Foi aí que ela me falou de um creme específico para o hirsutismo, que poderia produzir resultados. Há a possibilidade de não ter qualquer efeito, mas nada como experimentar! A única contraindicação é que não pode ser usado em situação de gravidez. Como isso não é problema para mim, comecei a aplicá-lo esta semana, no dia 14. Pode demorar cerca de 8 semanas a começar a notar-se o seu efeito e não tem ação definitiva, ou seja, se deixar de usar, em 8 semanas volta-se à estaca zero.

Não aposto por enquanto em laser pelo investimento que iria acarretar nesta fase. Além disso, tenho mesmo de fazer teste antes de passar ao tratamento propriamente dito, porque a minha pele tem um comportamento totalmente imprevisível. O creme não é a coisa mais acessível do mundo, mas a sua duração e o gasto que lhe está associado não constitui uma despesa elevada enquanto aguardo por dias melhores do ponto de vista profissional. Tenho outras prioridades neste momento a que dar atenção. Este pormenor estético posso colmatá-lo com o creme por enquanto, partindo do princípio que ele até pode resultar. Caso não funcione, tenho de me resignar à pinça diária e às inflamações crónicas que se vão alastrando cada vez mais no rosto. O resto que está escondido não me incomoda tanto e demora mais tempo a regenerar. Para quem está curioso sobre o creme que pode restabelecer alguma normalidade, o seu nome comercial é Vaniqa.

Daqui a algum tempo darei feedback sobre o produto.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Missão cumprida!

Último exame realizado e, se tiver tudo correr bem, daqui a dois anos termino o curso. 2020/2021 foi desafiante, menos entusiasmante do que esperava, muito por culpa da pandemia. Uma das iniciativas que me fez candidatar para aquela instituição em concreto ficou suspensa, pelo segundo ano consecutivo, devido a quê? Exato, ao vírus... Não acredito que o próximo ano letivo funcione plenamente em regime presencial, o que não me agrada.
A propósito de percurso escolar e académico, uma das coisas que me apoquentava quando ingenuamente pensava que um dia ia ser mãe era: que decisões tomar? O que iria valorizar? Não rejeitava nenhum modelo, nem descartava liminarmente o ensino doméstico, pelo contrário.
Aconteceram duas situações caricatas no exame que realizei esta manhã. A professora ficou muito surpreendida (pela negativa), mas a mim não me chocaram. São o reflexo do que sabia que iria chegar ao ensino superior, mais cedo ou mais tarde, e os professores universitários estão a aperceber-se disso. Uma vez ou outra partilhei com alguns professores como andam as coisas no ensino básico e secundário. Tenho reparado que há do lado deles desconhecimento daquilo que tem sido o ensino obrigatório, principalmente nos que já têm filhos adultos.

Conhecendo o sistema por dentro, apercebi-me da responsabilidade que iria ter em mãos quando chegasse a altura de tratar da integração da minha cria numa instituição de ensino. Posso dizer que a natureza foi generosa comigo ao poupar-me desse tipo de preocupação. Querem ver que esse é o sentido que ia encontrar para tudo ter corrido mal? Aliviar-me dessa ralação?

Agora algo que não tem nada a ver com o que escrevi.
Fui vacinada no dia 3 deste mês (num sábado). Até à quarta-feira que se seguiu tinha aquela dor no braço que me impossibilitava de deitar para o lado que foi picado. Exatamente uma semana depois, ao desviar o cabelo para trás, toquei na clavícula e senti dor. Tenho dois gânglios bastante aumentados, exatamente em cima do osso, no lado em que fui vacinada. Aconteceu-me algo idêntico com uma vacina da gripe, no entanto nesse caso foi logo no dia seguinte e apenas num gânglio. Nessa altura demorou cerca de um mês a normalizar. No dia seguinte a esta recente inflamação dos gânglios acordei com dor na articulação do ombro e ainda cá anda. Quando hoje conduzi para ir fazer o exame na universidade, incomodou bastante o cinto de segurança a tocar de forma persistente naquela zona. Se ao menos eles estivessem na depressão junto à clavícula, não me apercebia tanto, mas mesmo por cima do osso, não é muito agradável. A minha médica de família disse para estar atenta nas próximas duas semanas e, caso não diminuam, terei de fazer ecografia. Dia 31 faço a segunda dose, por isso terei de dilatar esse prazo.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Num piscar de olhos, passou um ano

Daqui a uns dias faz um ano que iniciei a preparação da última TEC. Seguiu-se o soco final da valente tareia que consenti levar, quando achei que iria ser mãe à custa de um forte contributo científico. Como a minha capacidade para gerar uma vida é mortiça, os muitos empurrões não resultaram e deixei de viver, na verdadeira aceção da palavra. Não é que agora esteja living la vida loca, muito pelo contrário.
Tracei um plano para o pós-infertilidade, o meu desempenho no curso está a correr de feição, sinto-me globalmente bem, mas o pensamento continua pejado pelo que vivi. Pensei que tentar ocupar o meu cérebro ao máximo com outra licenciatura ajudasse a dispersar os pensamentos e suavizasse o luto. Quando o meu pai faleceu, em plena época de exames, foi no estudo que me refugiei. Não aliviou a dor, adiou o processo de luto. Atualmente estou a ser uma impostora para mim mesma, pois ando a camuflar a decepção. Não se sai de algo tão intenso com facilidade. Acabo por passar, mais tempo do que queria, a viajar no passado que me tatuou por dentro. Estou a perceber que será um estado se vai estender indeterminadamente. Não sei também até que ponto o isolamento social está a ter repercussões neste processo. A realidade é que não falo com ninguém sobre isto, nem estou com outras pessoas há demasiado tempo, tirando os meus familiares.

Espero que a transformação que estou a construir me traga frutos saborosos.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Em modo: palitos a segurarem as pálpebras

Anti-histamínico, estudo, trabalho e pouco/mau descanso são uma combinação perfeita para passar períodos do dia com as pestanas superiores a quererem cumprimentar as inferiores. As avaliações têm corrido a um ritmo um pouco mais espaçado que no semestre anterior, mas daqui a duas semanas começa a vir tudo encadeado. Não haverá tempo para desesperar, porque cada segundo a pensar na morte da bezerra, terá um efeito bola de neve difícil de recuperar.
A minha gata também está empenhada em formar-se em engenharia. "Assiste" às aulas online, deitada no meu colo. De vez em quando observa-se no pequeno retângulo do Zoom uma pata vinda de baixo a ir em direção ao meu queixo, para me fazer uma festinha. Noutras alturas ela abraça-me e faz-me esfoliações em direto, enquanto tento resolver exercícios. Já é conhecida no meio académico e dizem que a instituição deverá distingui-la no final do curso.

Ligo a câmara durante a atividade online. Sei quão desagradável é dar aulas para uma plateia de retângulos pretos com um nome escrito, com uma interação mínima por parte de quem está escondido por trás dos mesmos. Estou em crer que doravante seja definitivamente implementado regime misto, mantendo as aulas teóricas e possivelmente algumas teórico-práticas à distância.

Preciso de férias mentais, mais do que físicas.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Rastreio: check!

Foi dia de consulta de ginecologia para conhecer resultados de análises, ecografia mamária e mamografia. Relativamente às análises estou com um valor alarmante de colesterol. Há mais de uma década que não o consigo normalizar apenas com a alimentação. Enquanto realizei tratamentos suspendi a estatina e com o encerramento das piscinas tive de deixar a hidroginástica e a hidrobike. Vou encaminhar estas análises à médica de família para voltar a medicar-me para este fardo que não me larga. Vou apostar mais nas caminhadas, pois mesmo que volte a haver confinamento, posso manter esse tipo de atividade.

A menopausa parece não querer nada comigo durante muito tempo ainda. Por causa do valor do colesterol vou fazer uma pílula fraquinha, para não piorar mais a situação. Desta vez será Microgeste, vamos ver como me sentirei com ela.

Da parte mamária a situação está bem. O relatório faz menção a alguns pormenores mas por enquanto não há nada que careça de preocupação.

Daqui a um ano, se nada de relevante acontecer, volto a consultar nesta especialidade. A urgência neste momento é o colesterol.


segunda-feira, 22 de março de 2021

Cabelos brancos

Herdei do meu pai a tendência para o aparecimento de cabelo branco antes dos 30 anos. Tenho primas que, na casa dos 20, tinham mais de metade do seu cabelo em tom branco, mas camuflavam com tinta. No meu caso foi aos 28 que ele se começou a multiplicar nas têmporas e a espalhar-se uniformemente no resto da cabeça.
A primeira vez que mudei alguma coisa na cor do meu cabelo foi aos 19 anos e nos 11 que se sucederam fui variando. Gostava de fazer mudanças no tom e nos primeiros anos em que já povoavam alguns brancos ainda tinha paciência para mudar as cores. Entretanto fiz umas paragens durante uns anos, pintei mais uma outra vez para disfarçar, embora não me incomodasse verdadeiramente a existência desses risquinhos brancos na cabeça.

Com a realização dos tratamentos de forma mais intensiva decidi parar de pintar. Não queria sujeitar o meu corpo a uma absorção de químicos ainda maior do que aquela que já era necessária. Acho que há cabelos brancos lindíssimos e gostava que o meu envelhecimento me contemplasse com um caso desses. Até ao momento, considero que está a correr bem. Atualmente estão a aparecer-me pequenas madeixas, além daqueles múltiplos solitários distribuídos de forma equilibrada. A têmpora do lado direito é mais concentrada de branco enquanto há uns anos era a esquerda. Daqui a uma dúzia de anos devo ter mais cabelo branco do que a minha mãe.

Não encaro este fenómeno como algo negativo e não sei por que razão ter cabelo branco incomoda tanto. Sugerem-me por vezes que pinte o cabelo. Por que devo pintá-lo? Gosto de como ele está, não o deixo ficar estragado. O meu cabelo era muito menos saudável quando passava por descolorações, por exemplo. Se o meu bem estar físico não é afetado pela existência de cabelo branco e esta mudança não representa nada de negativo para mim, não vejo em que medida um pormenor estético na cor pode traduzir algo de benéfico. Toda a gente envelhece ou estou enganada? O estranho caso de Benjamin Button é mera ficção e o tempo não pára. Se o cabelo branco representa um ar descuidado, alguém que me explique bem o que isso significa.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Reencontro

Fui à consulta e foi bom rever a minha agora ginecologista. Sem rotatividade, num ambiente diferente do HSJ, com um âmbito distinto do que me levou a conhecê-la. Elegia-a por ter sido a primeira pessoa que realmente me ouviu e vi nela muito mais do que os vários relatos que se ouvem. Não há qualquer mágoa relativamente ao que aconteceu. Sei separar as águas das burocracias, das imposições superiores, das limitações a que o hospital está sujeito e da disfuncionalidade que me acompanha. Numa curta conversa fiquei a admirar ainda mais aquela equipa. O humanismo que procuramos dentro daquelas paredes existe, mais do que nós conseguimos ver. É feito de pessoas que tantas vezes são apelidadas de frias, desinteressadas. Não brilham porque as asas são-lhes cortadas, não são devidamente valorizadas por força de um sistema cuja filosofia é: faz muito, que em compensação dou-te uma mão cheia de nada.

Sábado vou fazer análises, para ter uma ideia se a menopausa está a bater à porta uma vez que, não menstruando, não consigo adivinhar, a não ser que surjam outros sintomas que possam ser sugestivos. Farei também análise a outros parâmetros hormonais e os triviais. Fiz ecografia e trouxe "fotos" para casa. Qualquer dia emolduro as minhas flores de lótus. Continuam grandes, com uma excentricidade irritante e como ela própria disse, de nada valeram. Para mim são dois imbecis. O endométrio estava fino comme d'habitude, esse só atinge o seu esplendor à custa de químicos, tal como os dois inúteis. Por estar discreto, ao contrário dos exibicionistas volumosos, não é urgente descamá-lo. À partida, em vez de progestagénios, deverei tomar a pílula para controlar um bocadinho as feras e ver se os sintomas de SOP atenuam um pouco. De vez em quando farei análises para atestar se estou ou não na menopausa. Fiquei a saber que o Provera, que tomei durante décadas, está descontinuado.

Daqui a uma semana irei realizar uma ecografia mamária e fazer a minha estreia em mamografia. Espero que, além do tamanho que me atrapalha, as duas criaturas que vão ser inspecionadas não me tragam outro tipo de inconvenientes.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Terminou um semestre, faltam 5

Terminou ontem, para mim, a época de exames do 1.° semestre e segunda-feira começa o 2.°. Passou de forma rápida, a um ritmo frenético. Desta vez e, por enquanto, será integralmente online. É deprimente. Imagino que para os miúdos que não estão a conhecer o ensino superior de outra forma, sem ser em contexto pandémico, não vá ficar aquela nostalgia que tive oportunidade de vivenciar.

Já tenho alguma dificuldade em crer que vá passar algum tempo do curso sem interferência da pandemia. Desde há um ano que a palavra Covid passou a integrar o nosso quotidiano. O curso é de 3 anos e um semestre já lá vai. O meu mantra é: foca-te, só faltam 5 semestres!

Fora isso, o que há de novo? Felizmente está tudo bem, o bichito manteve-se afastado da minha família, até ao momento. Sou especialista em confinamento desde sempre (os meus pais foram uns visionários) e passo facilmente 3 semanas enfiada em casa. Só não estou mais tempo de forma ininterrupta, porque o milagre da multiplicação de alimentos não sucede dentro da minha casa. Outro tipo de milagre também não se deu aqui, mas sobre esse capítulo já estou conformada. A propósito, comecei esta semana a preparação intensiva para a primavera, com tudo a que tenho direito. Tive consulta de imunoalergologia, então abasteci-me na farmácia de mais alguns amigos. Estou a providenciar que a minha qualidade de vida melhora, conseguindo coabitar harmoniosamente com todos os agentes alergénicos que me infernizam, meses a fio. Finalmente, após quase uma década, vou passar um ano sem desejar que a sua metade desapareça para me sentir bem.

Vou aproveitar para confessar uma coisa. Durante estes meses todos, desde julho de 2020, não tomei Provera para induzir hemorragias de privação. Deixei andar, porque pensei que ia ter alguma disponibilidade ao longo do semestre para ir a uma consulta de ginecologia. Não menstruei, que é aquilo em que me saio melhor, entretanto soube hoje como vai ser o meu horário do segundo semestre. Tenho as quintas-feiras à tarde livres. A Diretora do serviço de Medicina de Reprodução do HSJ dá consultas numa unidade privada perto da minha casa, então marquei consulta com ela no dia 18. Decidi há muito que queria que fosse ela a acompanhar-me depois de deixar o hospital. Tenho 41 anos, não sei se a abordagem medicamentosa que devo fazer atualmente na parte "menstrual" é a mesma que fiz ao longo das décadas. Ainda há umas semanas me pus a pensar no sentido de manter cá os ovários, porque do ponto de vista dos efeitos da SOP as coisas não têm melhorado, pelo contrário. O problema é que isto resulta da interação com o hipotálamo, que também não funciona de forma adequada. Remover os ovários não resolveria a situação por si só, na medida em que o hipotálamo não é coisa que se possa tirar. Aqueles dois vão sacanear-me até à exaustão.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Dos neurónios que ainda andam por cá

Estou numa pausa de alguns minutos no meu estudo. Com a suspensão da atividade letiva presencial nos estabelecimentos de ensino, gerou-se uma reviravolta inicial na forma como iríamos ser avaliados, na sequência de um despacho emitido pela Presidência da instituição onde estou a estudar. Foi de tal modo absurdo que rapidamente deu origem a uma petição em que, alunos e professores, se insurgiram contra o mesmo. Essa reação acabou por ser levada em conta e a época de exames passou por ser adiada apenas uma semana em relação ao calendário inicial, em vez de transitar para o final do 2.º semestre, como foi indicado no tal despacho surreal.

Para já as coisas estão globalmente a correr (muito) bem, exceto uma cadeira que não faço a mínima ideia com o que contar. Nunca me aconteceu em tantos anos ir para uma avaliação de uma unidade curricular sem ter conhecimento do resultado da frequência anterior. Quinta-feira passada fiz o terceiro teste sem saber a nota do segundo. Essa avaliação foi realizada no dia 17 de dezembro, hoje é dia 1 de fevereiro e nada sabemos. Se isso acontecesse no exercício da minha atividade profissional daria lugar a várias reclamações e pedidos de satisfação por parte de alunos, encarregados de educação, direção e eventualmente direção regional, se fosse realizada exposição por alguém. Organizei o meu cronograma de forma a efetuar estudo antecipado para essa cadeira no caso de ter de ir a exame, porque já estou a prever que só teremos conhecimento dos resultados em cima do acontecimento e não quero ser apanhada de surpresa. Não é algo que me deixe satisfeita mas mais vale jogar pelo seguro.

Posso estar com os segundos contados em tudo o que faço diariamente mas há algo de que não me consigo descolar que é dos anos que antecederam esta etapa. Acho que me envolvi demasiado e é estranho não fazer mais parte da minha rotina. Passou meio ano desde que tudo terminou e revivo esse tempo como se tivesse começado ontem. Pensei que o manter a cabeça, o mais ocupada possível, fosse dissipar lentamente os pensamentos mas não está a resultar. Não é arrependimento ou um sofrimento desmedido, porque estou resolvida, mas há um bloqueio que não me deixa viver um dia sem pensar em todos os outros que me trouxeram até esta fase da vida. Disse várias vezes que o que vivi foi uma espécie de tortura e houve momentos muito violentos que não sei como consegui encará-los com lucidez, sem desmoronar por completo. Preciso de dias mais solarengos, menos confinados, pois fechei-me ainda mais na minha casca com esta maior clausura.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Terráquea há 41 anos

Este planeta passou a sofrer ocupação da minha parte há 41 anos. Continuo em amadurecimento e espero não azedar com o passar dos anos.
A colheita de 80 tem umas notas de esquisitice, um travo a observação e um aroma analítico, o que a torna fora do normal.

O bebé que nasceu de rosto arranhado, porque vivia com permanente urticária, transformou-se num espécime sui generis, que se cansa de si mesmo. Viva o envelhecimento e o autoconceito!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Mudança de país em criança - a minha experiência

Desde muito pequena sou fascinada por gatos, não sei porquê. Quando ainda vivia fora do país deliciava-me a ver os gatinhos de uma senhora que vivia em frente ao meu prédio. Eu e a minha irmã perguntávamos muitas vezes à nossa mãe se quando viéssemos para Portugal iríamos ter um gato. Ela prometia-nos que sim, então a motivação para deixarmos a vida que conhecíamos para trás aumentava com a esperança de que íamos concretizar um sonho. No verão de 1988 deu-se a vinda para um país cuja língua compreendia e falava com alguma fluência mas que eu não sabia escrever. Recordo-me perfeitamente da primeira palavra que escrevi em português. A minha mãe estava a preparar as caixas para a mudança e ela identificava, por fora de cada uma, a categoria do conteúdo. Houve uma em que perguntou se queria que fosse eu a escrever: brinquedos. Não soletrou, esperou que com os conhecimentos que tinha de francês e a componente oral de português que eu dominava, chegasse à conclusão da forma como a palavra se escrevia e consegui. Esse momento marcou-me, talvez porque representou o início da despedida de uma vida que sabia desde sempre que seria provisória naquele local. França foi o país onde nasci e construí uma pequenina parte da minha essência. Ainda faço por preservar alguns costumes que me trazem uma sensação de um conforto que me remete a tempos que iriam deixar de existir. Estávamos restritos à nossa bolha familiar causada pela distância geográfica às raízes dos meus pais, embora tivesse também família a viver perto de nós, lá em França.

A vinda para cá foi uma espécie de Regresso ao Futuro mas ao contrário. A aldeia onde nos fixámos (no Minho), por exemplo, fica a uns escassos 3 km de uma freguesia de outro concelho onde a distribuição de eletricidade só começou a ser feita por volta de 1990. Lá na minha terrinha só havia uma estrada em alcatrão cujo troço tinha cerca de 700 m, o resto era em terra batida. Na escola primária os miúdos levavam "bolos" nas mãos com réguas de madeira grossa (nunca percebi o motivo para chamarem as reguadas de bolos), puxões de orelhas, vergastadas com canas de milho onde calhasse, chapadas na cara (daquelas em que a mão é lançada, vinda bem de trás). Na cataquese o padre batia com uma cana de milho se alguém olhasse para o lado. Havia vários costumes e crenças que não compreendia. Quando uma criança tinha uma dor num dente era normal colocar-lhe um algodão embebido em aguardente e mandá-la para a escola assim, logo pela manhã. O chocolate sabia-me a sabão, porque o que se vendia habitualmente cá era um sucedâneo. Vários dos produtos que eu consumia em França começaram a tornar-se populares por aqui, muitos anos depois de ter vindo. Com os desenhos animados era a mesma coisa. Após confrontar-me com a realidade portuguesa acabei por me adaptar, no entanto, causava-me confusão a importância que se dava a coisas que a meu ver eram totalmente descabidas, sem o mínimo de raciocínio crítico. Perceber que há quem tenha convicção que os piolhos surgem por geração espontânea ou por se comer a parte da castanha onde ela germina, continua a deixar-me incrédula.

Nunca tinha ouvido falar de bruxedos, maus olhados e de rituais para combater malfeitorias planeadas por terceiros, que envolvem sal, dentes de alho, patas de coelho, fitas vermelhas penduradas nos retrovisores dos carros e muitas outras coisas.

Sei que em todo o lado há crenças dos mais variados tipos, baseadas sabe-se lá em quê. O que está aqui a ser analisado é o ter recebido em tão pouco tempo, tanta informação diferente e acostumar-me a uma realidade distinta, que me parecia um retrocesso civilizacional.

Durante um ano fui conhecida na escola como a Patrícia Francesa. No ano seguinte deixei de o ser, porque passou a haver o Filipe Francês :) Muitas vezes na hora do recreio eu era o extraterrestre que estava ser descoberto pelos colegas e que servia de robô tradutor. Aquilo que mais ouvia era "como é que se diz... em francês?" As minhas coleguinhas de turma adoravam ver o material escolar que usava. Enquanto eu sentia que vivia num passado que não me era familiar onde nasci, elas viam em mim o futuro. Este contraste é muito interessante e representativo de algumas sensações que temos, por exemplo, quando viajamos.

Em pouco mais de um mês aprendi a escrever português. Devo-o a uma excelente professora que tive na 3.ª e 4 .ª classes. O primeiro texto que li para a turma era sobre a Covilhã, logo na primeira aula. Dei conta nessa altura que tinha dificuldade em dizer "lhã".

No início não percebia o que é que o pronome "lhe" fazia acoplado a um verbo, como no caso de "deu-lhe", então perguntei à minha professora que tinha algum conhecimento e interesse em francês, qual era a equivalência que tinha.

Não conseguia dizer em condições o nome Rui e uma prima ria-se à brava à conta disso. Tinha tendência para o pronunciar como se houvesse um acento tónico na letra i.

Aprendi muito sobre Portugal naqueles dois anos na primária e não me canso de dizer quão fabulosa foi aquela professora. Na mudança de país é habitual atrasar-se um ano na escola. Em condições normais deveria integrar a 3.ª classe mas fui inicialmente para a 2.ª. As professoras que tive eram medianas e não puxavam suficientemente por mim. Agiam como se estivesse no mesmo patamar dos meus colegas quando eu não tinha um conhecimento adequado da língua. A diretora da escola (responsável pela turma de 3.º ano) achou que a minha adaptação estava a ser rápida e beneficiaria mais se não atrasasse. No primeiro período estava na 2.ª classe, terminadas as férias de Natal passei para a 3.ª, que era a turma dela. Foi o melhor que me aconteceu, não tenho dúvida.

Nesse verão em que vim para Portugal, uma gata vadia que estava numa casa desabitada em frente àquela onde residia, teve filhotes. Eu e a minha irmã ficávamos agarradas à rede que a vedava a ver os pequenotes a brincar. Numa tarde, ambas fomos à casa de uma prima que vivia na vizinhança e, quando chegámos a casa, tínhamos uma surpresa. A nossa mãe apanhou o primeiro minorca que veio brincar com um pauzinho que ela começou a mexer, junto ao postigo onde se refugiavam. A promessa foi cumprida e a minha admiração por gatos tornou-se incomensurável.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Bizarro? Para mim, não.

Em 2009 uma estação de rádio de Guimarães promoveu o sorteio de um "Funeral de Sonho". Não faltaram candidatos e, se quisesse, o feliz contemplado poderia ceder o seu prémio a alguém (ainda vivo).

Alerto que o conteúdo deste post poderá ser creepy para alguns e quero, desde já, dizer que não há mensagens subliminares ou qualquer intenção da minha parte em atentar contra a minha vida. Estou muito bem, mesmo!

Diria que após a morte do meu pai e perante tudo o que aconteceu, desde o velório dentro de casa (durante dois dias) até ao momento sublime da missa do funeral em que me contive para não mandar calar a abécula (a criatura que exercia funções de sacerdote da terrinha) ou atirar-lhe um castiçal à testa, penso às vezes no meu "funeral de sonho". O meu pai dizia que queria ser enterrado no quintal e compreendo a perspetiva dele.

À semelhança do meu casamento, gostava que houvesse minimalismo. Não me sinto confortável com focos apontados a mim em vida, não será na morte que vou querer mediatismo. Desejo que ninguém tenha trabalho comigo depois de já cá não estar a azucrinar ninguém, logo a cremação é a melhor alternativa. Há muito que digo que a minha última residência vai ser num pote mas, pensando melhor, se for possível não ceder cinzas a familiares prefiro, para não terem de pensar o que fazer com elas. Ir para um cemitério vai também contra o meu ideal.

Se é para seguir num tapete rolante para o forno do tanatório, não é necessário um caixão todo rebuscado. NÃO QUERO uma cerimónia religiosa, bem como qualquer símbolo religioso! Acerca de flores, também dispenso. Se normalmente não consigo aguentar muito tempo no meio delas, há que manter-me fiel a mim mesma depois de apagar (ainda desato a espirrar ou a ficar cheia de congestão nasal). Roupa preta, desaprovo. Fiquei traumatizada de ver a minha mãe, anos a fio, a combinar preto com preto.

Quem quiser desrespeitar-me, é só fazer o contrário disto tudo. Não terá nenhuma consequência, porque não vou andar a assombrar ninguém. Olhando bem para a minha lista de exigências, pareço uma daquelas celebridades que quer um camarim com ar dos Himalaias, uma banheira com água do Kilimanjaro e 750 toalhas dobradas com orientação para norte.

Acerca da abécula que falei mais acima, dois anos depois do funeral tornei a estar numa missa presidida por sua excelência, numa situação profissional, noutra freguesia, porque não aguentou muito tempo na minha. Como a estupidez daquele ser é crónica, começou outra vez a fazer aquilo em que ele é melhor, que é ser um palerma. Saí porta fora, em plena missa, enquanto ele continuava com o seu sarcasmo a roçar a má formação, dirigido aos alvos daquele dia. Depois de mim, várias pessoas abandonaram a igreja, incrédulas com a boçalidade daquele energúmeno que viram pela primeira vez.

Se temos possibilidade de idealizar enquanto as nossas faculdades mentais estão boas, porque não? Há duas ou três pessoas a quem já partilhei para saberem o que fazer quando chegar a altura, se tiverem realmente intenção de ir de acordo com a minha vontade.