segunda-feira, 22 de março de 2021

Cabelos brancos

Herdei do meu pai a tendência para o aparecimento de cabelo branco antes dos 30 anos. Tenho primas que, na casa dos 20, tinham mais de metade do seu cabelo em tom branco, mas camuflavam com tinta. No meu caso foi aos 28 que ele se começou a multiplicar nas têmporas e a espalhar-se uniformemente no resto da cabeça.
A primeira vez que mudei alguma coisa na cor do meu cabelo foi aos 19 anos e nos 11 que se sucederam fui variando. Gostava de fazer mudanças no tom e nos primeiros anos em que já povoavam alguns brancos ainda tinha paciência para mudar as cores. Entretanto fiz umas paragens durante uns anos, pintei mais uma outra vez para disfarçar, embora não me incomodasse verdadeiramente a existência desses risquinhos brancos na cabeça.

Com a realização dos tratamentos de forma mais intensiva decidi parar de pintar. Não queria sujeitar o meu corpo a uma absorção de químicos ainda maior do que aquela que já era necessária. Acho que há cabelos brancos lindíssimos e gostava que o meu envelhecimento me contemplasse com um caso desses. Até ao momento, considero que está a correr bem. Atualmente estão a aparecer-me pequenas madeixas, além daqueles múltiplos solitários distribuídos de forma equilibrada. A têmpora do lado direito é mais concentrada de branco enquanto há uns anos era a esquerda. Daqui a uma dúzia de anos devo ter mais cabelo branco do que a minha mãe.

Não encaro este fenómeno como algo negativo e não sei por que razão ter cabelo branco incomoda tanto. Sugerem-me por vezes que pinte o cabelo. Por que devo pintá-lo? Gosto de como ele está, não o deixo ficar estragado. O meu cabelo era muito menos saudável quando passava por descolorações, por exemplo. Se o meu bem estar físico não é afetado pela existência de cabelo branco e esta mudança não representa nada de negativo para mim, não vejo em que medida um pormenor estético na cor pode traduzir algo de benéfico. Toda a gente envelhece ou estou enganada? O estranho caso de Benjamin Button é mera ficção e o tempo não pára. Se o cabelo branco representa um ar descuidado, alguém que me explique bem o que isso significa.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Reencontro

Fui à consulta e foi bom rever a minha agora ginecologista. Sem rotatividade, num ambiente diferente do HSJ, com um âmbito distinto do que me levou a conhecê-la. Elegia-a por ter sido a primeira pessoa que realmente me ouviu e vi nela muito mais do que os vários relatos que se ouvem. Não há qualquer mágoa relativamente ao que aconteceu. Sei separar as águas das burocracias, das imposições superiores, das limitações a que o hospital está sujeito e da disfuncionalidade que me acompanha. Numa curta conversa fiquei a admirar ainda mais aquela equipa. O humanismo que procuramos dentro daquelas paredes existe, mais do que nós conseguimos ver. É feito de pessoas que tantas vezes são apelidadas de frias, desinteressadas. Não brilham porque as asas são-lhes cortadas, não são devidamente valorizadas por força de um sistema cuja filosofia é: faz muito, que em compensação dou-te uma mão cheia de nada.

Sábado vou fazer análises, para ter uma ideia se a menopausa está a bater à porta uma vez que, não menstruando, não consigo adivinhar, a não ser que surjam outros sintomas que possam ser sugestivos. Farei também análise a outros parâmetros hormonais e os triviais. Fiz ecografia e trouxe "fotos" para casa. Qualquer dia emolduro as minhas flores de lótus. Continuam grandes, com uma excentricidade irritante e como ela própria disse, de nada valeram. Para mim são dois imbecis. O endométrio estava fino comme d'habitude, esse só atinge o seu esplendor à custa de químicos, tal como os dois inúteis. Por estar discreto, ao contrário dos exibicionistas volumosos, não é urgente descamá-lo. À partida, em vez de progestagénios, deverei tomar a pílula para controlar um bocadinho as feras e ver se os sintomas de SOP atenuam um pouco. De vez em quando farei análises para atestar se estou ou não na menopausa. Fiquei a saber que o Provera, que tomei durante décadas, está descontinuado.

Daqui a uma semana irei realizar uma ecografia mamária e fazer a minha estreia em mamografia. Espero que, além do tamanho que me atrapalha, as duas criaturas que vão ser inspecionadas não me tragam outro tipo de inconvenientes.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Terminou um semestre, faltam 5

Terminou ontem, para mim, a época de exames do 1.° semestre e segunda-feira começa o 2.°. Passou de forma rápida, a um ritmo frenético. Desta vez e, por enquanto, será integralmente online. É deprimente. Imagino que para os miúdos que não estão a conhecer o ensino superior de outra forma, sem ser em contexto pandémico, não vá ficar aquela nostalgia que tive oportunidade de vivenciar.

Já tenho alguma dificuldade em crer que vá passar algum tempo do curso sem interferência da pandemia. Desde há um ano que a palavra Covid passou a integrar o nosso quotidiano. O curso é de 3 anos e um semestre já lá vai. O meu mantra é: foca-te, só faltam 5 semestres!

Fora isso, o que há de novo? Felizmente está tudo bem, o bichito manteve-se afastado da minha família, até ao momento. Sou especialista em confinamento desde sempre (os meus pais foram uns visionários) e passo facilmente 3 semanas enfiada em casa. Só não estou mais tempo de forma ininterrupta, porque o milagre da multiplicação de alimentos não sucede dentro da minha casa. Outro tipo de milagre também não se deu aqui, mas sobre esse capítulo já estou conformada. A propósito, comecei esta semana a preparação intensiva para a primavera, com tudo a que tenho direito. Tive consulta de imunoalergologia, então abasteci-me na farmácia de mais alguns amigos. Estou a providenciar que a minha qualidade de vida melhora, conseguindo coabitar harmoniosamente com todos os agentes alergénicos que me infernizam, meses a fio. Finalmente, após quase uma década, vou passar um ano sem desejar que a sua metade desapareça para me sentir bem.

Vou aproveitar para confessar uma coisa. Durante estes meses todos, desde julho de 2020, não tomei Provera para induzir hemorragias de privação. Deixei andar, porque pensei que ia ter alguma disponibilidade ao longo do semestre para ir a uma consulta de ginecologia. Não menstruei, que é aquilo em que me saio melhor, entretanto soube hoje como vai ser o meu horário do segundo semestre. Tenho as quintas-feiras à tarde livres. A Diretora do serviço de Medicina de Reprodução do HSJ dá consultas numa unidade privada perto da minha casa, então marquei consulta com ela no dia 18. Decidi há muito que queria que fosse ela a acompanhar-me depois de deixar o hospital. Tenho 41 anos, não sei se a abordagem medicamentosa que devo fazer atualmente na parte "menstrual" é a mesma que fiz ao longo das décadas. Ainda há umas semanas me pus a pensar no sentido de manter cá os ovários, porque do ponto de vista dos efeitos da SOP as coisas não têm melhorado, pelo contrário. O problema é que isto resulta da interação com o hipotálamo, que também não funciona de forma adequada. Remover os ovários não resolveria a situação por si só, na medida em que o hipotálamo não é coisa que se possa tirar. Aqueles dois vão sacanear-me até à exaustão.