A primeira parte do período pós-transferência é habitualmente monótono. Não se percebem mudanças de relevo, até porque o efeito da medicação demora uns dias a manifestar-se. Hoje comecei a sentir aquelas pontadas fortes no útero, quando me levanto, e já reparei que este efeito secundário foi mais frequente quando fiz três comprimidos de Estrofem em vez de dois. Chamo-lhe efeito secundário, porque em situações de resultado negativo era igualmente importunada por ele.
O estado de espírito durante a espera pelo beta sofre várias ambivalências. Após o nosso pequeno mundo ser colocado dentro do corpo sente-se alegria, otimismo e esperança. No dia seguinte continuam a lua-de-mel, o sentimento de que é muito cedo para perceber o que quer que seja e a vontade de que o embrião ainda esteja de boa saúde. Nos 3/4 dias seguintes começam os pensamentos relacionados com a nidação. Inicia também a fase de inspecionar cada ida à casa de banho, cada colocação de Progeffik para ver se os resíduos saem brancos ou de outra cor. Procuram-se dores e sensações em cada movimento. A cabeça ora está esperançosa, ora acha que não vai passar de mais um negativo. Depois vem para mim a barreira das perdas. Sempre que surgiram foram sinal de gravidez, por isso se no domingo, no máximo segunda-feira não aparecer nada, será difícil manter-me otimista. Nos 2/3 dias que antecedem o beta a única vontade é de desvendar o mistério, porque o nosso coração precisa de encerrar processos. Quando os resultados foram negativos queria menstruar o mais rápido possível para o corpo normalizar, como forma de luto. Nos positivos, que sufoco! Nunca cheguei a ter o espírito naïf com flores a desabrochar, passarinhos a piar e arco-íris a enfeitar o céu, só porque tinha atingido um positivo. O tapete foi-me arrancado desde logo, positivo atrás de positivo, só para ver que o mundo está longe de ser perfeito. Se voltar a estar desse lado da barricada terei de continuar a manter-me firme, por piores que sejam os prognósticos, não tenho outra alternativa.
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