terça-feira, 15 de setembro de 2020

22 anos depois

Voltei a entrar no Ensino Superior! Fui colocada no curso que queria e estou mesmo feliz, porque tenho uma esperança imensa de que servirá como guindaste para me retirar do buraco onde me enfiei. À semelhança de várias outras coisas (nomeadamente tratamentos), esta decisão não foi motivo de entusiasmo por parte da minha mãe. Nada que me surpreenda. Há pessoas que têm medo de se desviar um milímetro que seja da sua zona de conforto, mesmo que esta não esteja a ser muito favorável. Não me atiro de cabeça para as coisas, ela já devia ter percebido isso há décadas. Pondero mil e uma vezes aquilo que pretendo fazer e se achar viável, avanço.

Vou estudar no Porto, num contexto totalmente diferente daquele que vivenciei há 22 anos, quando me desloquei para uma cidade a 400 km de casa, na qual tive de aprender a desenrascar-me. Irei, desta vez, conviver com jovens millenials, ávidos de redes, fotos, filtros e informação instantânea.

Tenho um plano alinhavado para tentar colmatar a desvantagem que a idade me vai trazer face aos "miúdos" que vão ingressar no mercado de trabalho daqui a 3 anos. Irei fazer os possíveis para, durante o curso, reunir um conjunto de mais valias que me podem abrir portas, sem que olhem à minha data de nascimento. 

Pelo que acompanhei nos últimos 4 anos, com a minha filhota do coração, o ensino superior está diferente. Decidi que me vou manter old school, não abdicando das esferográficas e apontamentos incessantes nas aulas, para não ceder à tentação de passar horas a visualizar apresentações multimédia sem fim e esperar que os ficheiros sejam disponibilizados numa qualquer plataforma. Tenho esperança de que, por se tratar de uma engenharia, se continue a valorizar a realização de exercícios. A minha onda não é e nunca foi "marrar". Detesto papaguear conteúdos e não tenho paciência nenhuma para memorizar textos, entro em stress só de pensar que posso ter um bloqueio por não me lembrar de uma palavra. Acho que a maturidade me vai trazer vantagens na forma como vou abordar o estudo, sabendo rentabilizá-lo de forma mais eficiente do que quando era mais jovem. Não sei se à semelhança do curso que a minha filhota tirou, a aposta em frequências/exames, quase integralmente com questões escolha múltipla, se alargou a todas as áreas. Quando fiz a licenciatura não era muito habitual, porque predominando cadeiras de Matemática, Física, Química, a resolução de problemas que envolvessem cálculo era muito valorizada nos instrumentos de avaliação. O processo de Bolonha introduziu mudanças. Quando concluí a licenciatura, falava-se que no modelo Bolonha ia ser privilegiada a realização de trabalhos. Vi pela minha enteada que ela era entupida de trabalhos, reflexões, artigos, a um nível sádico. Qualquer coisa era pretexto para fazer mais um trabalhinho. Tenho esperança, mais uma vez, que por estar a realizar um curso na área de engenharia, não vá ser bombardeada de forma tão exagerada. Imagino que relatórios de atividades experimentais vão ser muito frequentes, fiz imensos na licenciatura.

Há algo que me está a deixar curiosa que é o meu desempenho em conteúdos escritos. Já disse algumas vezes que agora sofro de verborreia. Eu não era assim, muito pelo contrário. Diziam que era sintética mas concisa. Vejo atualmente que as minhas exposições escritas são muito detalhadas e espero que não se torne um obstáculo para mim.

A questão geracional vai também ser interessante. Enquanto estudei tive uma colega com 37/38 anos e admirava a sua capacidade para conjugar a vida familiar com o curso. Era casada, tinha um filho com 6/7 anos, havia alturas em que também trabalhava, estava a construir uma casa e tinha um aproveitamento esplêndido. Agora vou estar no papel de colega mais velha, com idade para ser mãe da "miudagem" que vai estudar comigo. Poderei vir a ter professores mais novos que eu. Se tal vier a acontecer, quem sabe as nossas vidas não se terão cruzado no passado, por força da minha profissão?

Precisava de uma notícia como esta.

6 comentários:

  1. Olha que bom! Ir para universidade mais velha terá de certeza vantagens...

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  2. Parabéns, tudo a correr bem!

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  3. Uauuuu.tenho andado a conter me, mas hoje sim viu escrever
    Quero dar te os parabéns por hoje, por ontem e por todas as vezes que partilhaste conosco
    Queria que soubesses que também estabeleci limites e possibilidades.
    Estou muito orgulhosa de ti e adorei hoje ler-te. Senti a tua alegria
    Maravilha ☺️
    Beijinho, bolinha

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  4. Parabéns! Que excelente notícia... portas a abrir e novos desafios a caminho. Fiquei mesmo contente com esta notícia. E “seiquechegaras” ao fim do curso com toda a dedicação. Continuarei aqui a espiar as aventuras da caloira. Beijinhos

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