A infertilidade é um problema do casal. Não deve haver complexos em partilhar aquilo que se está a sentir a esse respeito com o(a) parceiro(a).
Há uma dor que ultrapassa largamente o sofrimento físico que muitas vezes é infligido pelos tratamentos. Existe frustração, desânimo, tristeza, desespero, raiva, contudo a ESPERANÇA supera isso tudo. Tenho um enorme receio de desistir da esperança.
Quem se debate com a infertilidade deve estar preparado para lidar com o que vai ver, ouvir e dizer.
Ver porque, inevitavelmente, vamos passar a sentir-nos perseguidos pelos sucessivos baby boom à nossa volta. Seja no seio familiar ou no círculo de amigos, seja quando vamos a espaços públicos, só vamos ver grávidas, bebés, crianças, famílias radiantes. Cada gravidez se vai assemelhar a uma facada na alma, mesmo que queiramos o melhor para aquela família. Não é por inveja, é tão somente porque nos sentimos, mais uma vez, uns falhados.
Ouvir... Esta é talvez a parte mais sensível para quem está a viver a infertilidade.
Um casal infértil sabe muito bem as melhores condições para "fazer um bebé" quando a natureza é cooperante, até melhor do que quem engravida "sem querer" (a teoria da geração espontânea foi refutada no século XIX). Não é necessário explicar técnicas, momentos ou mezinhas. A infertilidade é uma doença. Agradecemos a boa vontade mas não se trata de incompetência ou falta de jeito.
Dispensamos também que nos digam se estamos ou não com condições para pensar em filhos. Seja por razões etárias, económicas ou de situação profissional, cada pessoa tem o seu tempo, aquele que considera que faz sentido tendo em conta o seu percurso de vida.
A ansiedade não justifica a infertilidade. Em todas as consultas que tive até ao momento, nenhum médico me disse "vou receitar-lhe um ansiolítico e depois vai para casa pôr em prática todas as técnicas infalíveis que já lhe ensinaram".
"Filhos?! Não sabes no que te vais meter! Diz adeus a noites descansadas. Vais deixar de ter vida própria e passarás a fazer tudo em função deles!" É curioso que a maior parte das pessoas que diz isto é pai/mãe. Por que não seguiram o conselho de quem lhes disse o mesmo, se a paternidade/maternidade é assim horrível?
Com grande frequência, principalmente quando há sucessivos tratamentos falhados, ouve-se "já ponderaram adoção?".
Normalmente quem o diz só tem filhos biológicos, nem tem intenção de adotar. Tiro o chapéu se quem faz essa afirmação avança com a adoção independentemente de ter o(s) seu(s) filho(s) biológico(s). Adoção é um ato de enorme generosidade, coragem, nobreza, altruísmo e merece o maior respeito. Não é um refugo destinado aos desgraçados que não têm outra forma de ter filhos. Enquanto estamos em tratamentos mostramos qual a nossa intenção, nessa altura. Não afirmo se adotaremos ou não, simplesmente porque nunca falámos sobre o assunto. A adoção ou o recurso à doação de gâmetas ou embriões não é algo que deve ser refletida de ânimo leve. É, a par da decisão em desistir de tratamentos ou da interrupção da gravidez por alguma complicação, dos momentos mais complexos que diz respeito ao casal.
Deveras interessante é quando quem, conhecendo a dificuldade e sofrimento associado à infertilidade, diz "Então! Só faltas tu!". Abstenho-me de comentários nesta situação.
Os leitores devem estar intrigados sobre o que poderão dizer para não ofender quem esteja a viver a infertilidade. Falo sobre o assunto com bastante abertura, não espero que me passem a mão pela cabeça. O mais importante, a meu ver, é que do outro lado haja disponibilidade para ouvir, para tentar perceber as etapas, pois não se resolve com um simples estalar de dedos. Quando se fala em siglas como IIU, FIV, ICSI, TEC, DGPI, palavrões hormonais, tudo isso é vocabulário que faz parte do nosso quotidiano e tem um significado concreto. As técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) não se resumem exclusivamente a pegar em amostras de material genético masculino e feminino e BOOM! gerou-se um embrião! Se a fórmula fosse apenas essa, não havia casais que durante vinte ou mais anos tentam ter um filho. Depois do que escrevi anteriormente não se sintam oprimidos ao ponto de não terem coragem de dizer nada!
O que se segue é para quem está na mesma situação que eu, ou seja, está a tentar combater esta condição. Vivemos permanentemente com aquela dúvida existencial "porquê eu?". Só tenho a dizer "porque sim". Não encontro justificação para esta injustiça.
Não devemos disparatar com quem não teve esta dificuldade ou não entende a nossa dor. Vamos focar-nos no nosso objetivo, manter a cabeça erguida, dizer a nós mesmos que fizemos o que estava ao nosso alcance para contrariar esta provação, independentemente do desfecho.
Um grito mudo de alguém que viveu no submundo da INFERTILIDADE e (spoiler alert!) - acabou por mudar de rumo
domingo, 27 de dezembro de 2015
sábado, 26 de dezembro de 2015
Em modo de espera
A equipa decidiu que a FIV é o próximo passo.
Atualmente estou em mais um daqueles momentos em que não há desenvolvimentos. A única coisa que me dá alento é que fevereiro está perto.
Se, por um lado, o tempo parece durar uma eternidade, por outro voa. Daqui a uns dias já faço 36 anos, vejo os cabelos brancos a multiplicarem-se à velocidade da luz, enquanto rapidamente me aproximo daquele precipício imposto pela lei.
Tento definir planos mas no meu interior só me o assola o pensamento de que se esta FIV for levada até ao fim e não resultar, só farei novo tratamento com 37 anos. Se, por sua vez, a segunda não resultar, já terei 38 ao submeter-me à terceira e última tentativa permitida. Não sei durante quanto tempo mais conseguirei manter ânimo para abraçar esta luta.
Durante esta semana contactei o hospital para saber se já há indicações sobre quando poderei iniciar a pílula e assim começar a preparação para a FIV. Do outro lado ouvi que ainda não há marcações para fevereiro, sendo que entrarão em contacto comigo a qualquer altura.
E é assim desde o início, sempre a mesma resposta sobre o ser contactado ou receber carta a qualquer altura. Sou dominada por aquela preocupação de manter o telemóvel em condições de receber chamadas, a sensação de culpa quando estou num local sem rede ou ocupada a trabalhar, quando a bateria acaba, como se estivesse a cometer um crime por ter vida para além da eterna espera.
Enquanto nada acontece faço as únicas coisas que estão ao meu alcance nesta fase. Tomo diariamente o Dikirogen que tem contribuído para o aparecimento ocasional de enormes borbulhas, procuro mais informação sobre o que me espera, analiso estudos, teses, relatórios relacionados com o meu problema. Tento, ao máximo, antecipar diferentes cenários para evitar ser surpreendida pela negativa com algum percalço que surja pelo caminho.
Às vezes penso qual a serventia desta sede de investigar se, mesmo sendo uma pessoa informada e tendo consciência do que pode acontecer, fico abatida de cada vez que algo corre mal.
Atualmente estou em mais um daqueles momentos em que não há desenvolvimentos. A única coisa que me dá alento é que fevereiro está perto.
Se, por um lado, o tempo parece durar uma eternidade, por outro voa. Daqui a uns dias já faço 36 anos, vejo os cabelos brancos a multiplicarem-se à velocidade da luz, enquanto rapidamente me aproximo daquele precipício imposto pela lei.
Tento definir planos mas no meu interior só me o assola o pensamento de que se esta FIV for levada até ao fim e não resultar, só farei novo tratamento com 37 anos. Se, por sua vez, a segunda não resultar, já terei 38 ao submeter-me à terceira e última tentativa permitida. Não sei durante quanto tempo mais conseguirei manter ânimo para abraçar esta luta.
Durante esta semana contactei o hospital para saber se já há indicações sobre quando poderei iniciar a pílula e assim começar a preparação para a FIV. Do outro lado ouvi que ainda não há marcações para fevereiro, sendo que entrarão em contacto comigo a qualquer altura.
E é assim desde o início, sempre a mesma resposta sobre o ser contactado ou receber carta a qualquer altura. Sou dominada por aquela preocupação de manter o telemóvel em condições de receber chamadas, a sensação de culpa quando estou num local sem rede ou ocupada a trabalhar, quando a bateria acaba, como se estivesse a cometer um crime por ter vida para além da eterna espera.
Enquanto nada acontece faço as únicas coisas que estão ao meu alcance nesta fase. Tomo diariamente o Dikirogen que tem contribuído para o aparecimento ocasional de enormes borbulhas, procuro mais informação sobre o que me espera, analiso estudos, teses, relatórios relacionados com o meu problema. Tento, ao máximo, antecipar diferentes cenários para evitar ser surpreendida pela negativa com algum percalço que surja pelo caminho.
Às vezes penso qual a serventia desta sede de investigar se, mesmo sendo uma pessoa informada e tendo consciência do que pode acontecer, fico abatida de cada vez que algo corre mal.
Segunda não-IIU
Depois do fiasco da IIU que não chegou a acontecer em julho, dia 28 de agosto regressei ao HSJ para tentar outro tratamento.
A ecografia foi o costume que já estou cansada de ouvir, sendo que desta vez foi prescrito Menopur com uma dose inicial de 112,5 UI. Foi feita também alteração ao suplemento a tomar. Em vez de Ovusitol passei a tomar uma saqueta diária de Dikirogen. Tive nova sessão com a enfermeira para desta vez familiarizar-me com o Menopur. Foi agendado regresso no dia 1 de setembro.
A preparação de Menopur tem uma abordagem mais tradicional, assim como a sua aplicação. Em vez de se usar uma caneta, são utilizadas seringas descartáveis. Até à preparação da solução deve ser mantido no frio, no entanto depois não é necessário desde que a temperatura ambiente não ultrapasse os 30 ºC. Preferi conservá-lo no frigorífico.
Habitualmente sou tolerante à dor, mas com o Menopur só em cerca de duas aplicações é que não senti nada. Desde a introdução da agulha até à injeção do preparado senti dor, perfeitamente suportável, mas com o Puregon isso não acontecia.
Tive mais hematomas e durante algumas semanas a barriga esteve dorida.
No primeiro dia do mês de setembro apresentei-me para a ecografia. Voltei para casa sem nada de animador pois o boicote continuava. A raiva aos meus ovários intensificou-se. A diretora do serviço falou outra vez no drilling e nos benefícios que este teria se fosse combinado com IIU ou FIV, dado que havia uma maior probabilidade dos ovários responderem devidamente à estimulação. Perguntei como é o funcionamento habitual do HSJ ao nível do drilling. Integra-se uma lista de espera para cirurgia que é de 3/4 meses, é dada entrada numa quarta-feira para fazer a preparação, na quinta é o drilling e na sexta é dada alta.
Mantive a dosagem de Menopur e dia 4 tive de voltar à ecografia.
Regressei ao hospital já desanimada para mais uma ecografia. Contudo algo inesperado aconteceu. Do nada passou a haver tudo. No ovário esquerdo tinha um folículo com 8 mm e outro com 12, enquanto no direito havia dois com 10 e outros dois com 11 mm. O endométrio tinha uma espessura de 7,6 mm. Perante esta verdadeira surpresa passei a aplicar 150 UI. A esperança agora residia em conseguir que, no máximo, dois folículos se destacassem para levar a IIU até ao fim.
Dia 6 de setembro fui para aquela que foi a ecografia mais duradoura e incomodativa que realizei até hoje.
Duas estagiárias apanharam-me a jeito sendo que, o que me esperou, foi um estudo profundo que durou uns 20 longos minutos. A marquesa da sala de ecografias não é nada cómoda no apoio para as pernas. Associando isso com uma grande estadia deitada resultaram pernas dormentes, para não falar dos toques constantes nos ovários que não eram nada agradáveis. Depois de encontrados todos os folículos seguiu-se o inacreditável. Para além de se esquecerem completamente que estava ali um ser vivo, iam contando piadinhas, estudavam o que estavam a ver e a dada altura a examinadora das profundezas disse a rir que se tinha esquecido de gravar os dados! O que aconteceu depois? Começar tudo de novo!
A quantidade de valores que estavam a ser ditados começou a preocupar-me, pois o número de folículos dominantes estava a ultrapassar em muito o desejável.
O cenário era este: ovário esquerdo - 10, 10, 10, 11, 12, 14, 15 mm; ovário direito - 11, 12, 13, 13, 14 e 16 mm e o endométrio com 8,9 mm.
Numa última tentativa de conseguir que um ou dois folículos ficassem em condições de fazer a IIU injetei nesse dia 112,5 UI e nos dois seguintes 75 UI.
A 9 de setembro realizou-se a última ecografia que resultou em mais um cancelamento. Tinha 7 ou 8 folículos de bom tamanho, o que significa que corria o risco de ter uma gravidez múltipla. Durante duas semanas deveria proteger-me por causa da possibilidade de ovular. A médica referiu que no ponto em que os ovários se encontravam era muito provável que menstruasse espontaneamente. Caso não acontecesse, em 15 dias deveria voltar a tomar Provera (e assim foi...).
A maior conclusão a tirar destas tentativas falhadas de IIU é que não se consegue encontrar uma dose que controle os meus ovários ao ponto de só desenvolverem aquele máximo de dois folículos.
Perguntei se o passo seguinte era o drilling ou a FIV planeada para fevereiro. A médica disse que iam analisar o meu caso em equipa e se fosse a laparoscopia seria contactada para fazer uma consulta com a finalidade de ficar inscrita na cirurgia, se fosse FIV, por volta de dezembro ou janeiro de 2016 telefonar-me-iam para iniciar a pílula antes de começar as injeções.
A ecografia foi o costume que já estou cansada de ouvir, sendo que desta vez foi prescrito Menopur com uma dose inicial de 112,5 UI. Foi feita também alteração ao suplemento a tomar. Em vez de Ovusitol passei a tomar uma saqueta diária de Dikirogen. Tive nova sessão com a enfermeira para desta vez familiarizar-me com o Menopur. Foi agendado regresso no dia 1 de setembro.
A preparação de Menopur tem uma abordagem mais tradicional, assim como a sua aplicação. Em vez de se usar uma caneta, são utilizadas seringas descartáveis. Até à preparação da solução deve ser mantido no frio, no entanto depois não é necessário desde que a temperatura ambiente não ultrapasse os 30 ºC. Preferi conservá-lo no frigorífico.
Habitualmente sou tolerante à dor, mas com o Menopur só em cerca de duas aplicações é que não senti nada. Desde a introdução da agulha até à injeção do preparado senti dor, perfeitamente suportável, mas com o Puregon isso não acontecia.
Tive mais hematomas e durante algumas semanas a barriga esteve dorida.
No primeiro dia do mês de setembro apresentei-me para a ecografia. Voltei para casa sem nada de animador pois o boicote continuava. A raiva aos meus ovários intensificou-se. A diretora do serviço falou outra vez no drilling e nos benefícios que este teria se fosse combinado com IIU ou FIV, dado que havia uma maior probabilidade dos ovários responderem devidamente à estimulação. Perguntei como é o funcionamento habitual do HSJ ao nível do drilling. Integra-se uma lista de espera para cirurgia que é de 3/4 meses, é dada entrada numa quarta-feira para fazer a preparação, na quinta é o drilling e na sexta é dada alta.
Mantive a dosagem de Menopur e dia 4 tive de voltar à ecografia.
Regressei ao hospital já desanimada para mais uma ecografia. Contudo algo inesperado aconteceu. Do nada passou a haver tudo. No ovário esquerdo tinha um folículo com 8 mm e outro com 12, enquanto no direito havia dois com 10 e outros dois com 11 mm. O endométrio tinha uma espessura de 7,6 mm. Perante esta verdadeira surpresa passei a aplicar 150 UI. A esperança agora residia em conseguir que, no máximo, dois folículos se destacassem para levar a IIU até ao fim.
Dia 6 de setembro fui para aquela que foi a ecografia mais duradoura e incomodativa que realizei até hoje.
Duas estagiárias apanharam-me a jeito sendo que, o que me esperou, foi um estudo profundo que durou uns 20 longos minutos. A marquesa da sala de ecografias não é nada cómoda no apoio para as pernas. Associando isso com uma grande estadia deitada resultaram pernas dormentes, para não falar dos toques constantes nos ovários que não eram nada agradáveis. Depois de encontrados todos os folículos seguiu-se o inacreditável. Para além de se esquecerem completamente que estava ali um ser vivo, iam contando piadinhas, estudavam o que estavam a ver e a dada altura a examinadora das profundezas disse a rir que se tinha esquecido de gravar os dados! O que aconteceu depois? Começar tudo de novo!
A quantidade de valores que estavam a ser ditados começou a preocupar-me, pois o número de folículos dominantes estava a ultrapassar em muito o desejável.
O cenário era este: ovário esquerdo - 10, 10, 10, 11, 12, 14, 15 mm; ovário direito - 11, 12, 13, 13, 14 e 16 mm e o endométrio com 8,9 mm.
Numa última tentativa de conseguir que um ou dois folículos ficassem em condições de fazer a IIU injetei nesse dia 112,5 UI e nos dois seguintes 75 UI.
A 9 de setembro realizou-se a última ecografia que resultou em mais um cancelamento. Tinha 7 ou 8 folículos de bom tamanho, o que significa que corria o risco de ter uma gravidez múltipla. Durante duas semanas deveria proteger-me por causa da possibilidade de ovular. A médica referiu que no ponto em que os ovários se encontravam era muito provável que menstruasse espontaneamente. Caso não acontecesse, em 15 dias deveria voltar a tomar Provera (e assim foi...).
A maior conclusão a tirar destas tentativas falhadas de IIU é que não se consegue encontrar uma dose que controle os meus ovários ao ponto de só desenvolverem aquele máximo de dois folículos.
Perguntei se o passo seguinte era o drilling ou a FIV planeada para fevereiro. A médica disse que iam analisar o meu caso em equipa e se fosse a laparoscopia seria contactada para fazer uma consulta com a finalidade de ficar inscrita na cirurgia, se fosse FIV, por volta de dezembro ou janeiro de 2016 telefonar-me-iam para iniciar a pílula antes de começar as injeções.
Primeira não-IIU
Desde que começou esta longa caminhada senti que algo concreto estava finalmente a acontecer.
Fui chamada para dar início à primeira tentativa de IIU, 5 meses após ter entrado para a lista de espera e não 3 ou 4 meses depois. Apesar das probabilidades serem reduzidas havia dentro de mim uma contida expectativa e apreensão em relação ao tratamento. Finalmente ia descobrir como os meus ovários iam responder aos injetáveis.
Toda a descrição que se segue aplica-se à metodologia usada no meu caso, enquanto utente do HSJ. A forma como cada processo é tratado depende da especificidade de cada paciente, havendo obviamente traços gerais comuns com outras mulheres que se submetem a tratamentos desta índole.
Compareci no hospital no terceiro dia de sangue vivo, a 3 de julho de 2015 (6.ª feira). Comecei por esperar a chamada para uma ecografia a fim de avaliar o estado dos ovários.
No HSJ somos atendidos pelo profissional que está de serviço naquele dia, o que significa que não há um médico fixo por paciente, ao contrário do que acontece na fase inicial, no pavilhão das consultas externas. Durante a ecografia há sempre várias pessoas presentes sejam médicos residentes ou estagiários.
A primeira impressão emitida pela médica que realizou a ecografia foi "os ovários são mesmo poliquísticos!".
Depois da ecografia voltei à sala de espera e aguardei por uma consulta. No gabinete estavam 3 ou 4 profissionais. A médica de serviço viu o meu processo e dado que já tinha passado algum tempo desde a última consulta mandou repetir análises. Aproveitou também avaliar os níveis de TSH, pois tinha aumentado a dose de Eutirox uns meses antes.
Fui informada que iria iniciar nesse mesmo dia a aplicação do injetável Puregon, numa primeira fase 50 UI, sempre às 21 horas. Fiquei de regressar ao hospital no dia 8 (4.ª feira) para monitorizar os ovários.
Voltei para a sala de espera para a recolha de sangue e uma explicação acerca da administração da injeção.
O Puregon é de fácil preparação e manuseio, devendo ser conservado no frigorífico. No hospital foi fornecido o kit com a caneta e algumas agulhas, pelo que na farmácia só é adquirida a ampola. Esta traz sempre um número de unidades adicionais e um guia de tratamento onde é possível fazer o controlo das doses administradas, bem como as que ainda estão contidas na ampola. Só acrescentei uma coluna onde registava de que lado da barriga tinha aplicado, pois convém alternar todos os dias.
Sobre o Puregon não tenho muito a dizer. A aplicação é simples e praticamente indolor. Cheguei a ficar com ligeiros hematomas mas não notei grandes alterações na barriga ou no meu estado de espírito.
Quando fui realizar a primeira ecografia após o início das injeções não houve crescimento de folículos. A dose foi aumentada para 75 UI e soube que teria de voltar a tomar Eutirox 100, pois a TSH estava com o valor de 0,07. Foi marcado regresso dois dias depois.
No dia 10 de julho (6.ª feira) o desânimo apoderou-se de mim. Era a segunda ecografia após início do tratamento, sempre que alguém me fazia ecografia ouvia a mesma expressão "os ovários são mesmo poliquísticos!". Estavam intocáveis, as injeções não resultavam... Mais uma vez a dose foi aumentada passando a injetar 100 UI. Prepararam-me para um eventual cancelamento caso na ecografia seguinte continuasse tudo igual. Foi sugerido que tentasse outra IIU iniciando as injeções com uma dose forte ou que ficasse inscrita para drilling ovárico, pois poderia ser uma boa alternativa para mim.
Dia 13 de julho foi formalizado o cancelamento. Extinguiu-se a pequena centelha que me acompanhou naqueles 10 dias em que uma fina agulha atravessou a minha pele. Perguntei se afinal era para tentar nova IIU ou o drilling. A médica optou por dar uma segunda hipótese a IIU.
Como o próximo ciclo seria em pleno mês de agosto e supostamente o laboratório não funcionava durante duas semanas, a segunda tentativa de IIU foi adiada para o fim desse mês.
Acerca do HSJ tenho algumas considerações a fazer. O Centro de Medicina da Reprodução tem uma excelente coordenação entre os diversos intervenientes (equipa médica, enfermagem e área administrativa). Considero também positiva a presença de mais do que um médico nas ecografias e consultas.
Quem sofrer de impaciência é levado ao limite de cada vez que lá vai, especialmente se for à segunda, quarta ou sexta-feira. Não é nada invulgar ficar uma manhã inteira nas salas de espera. Já me aconteceu ter ecografia marcada para as 10h30 e sair de lá às 14h45, porque é frequente haver apenas um médico de serviço. Posso dizer que de todas as vezes que lá estive, só num dia é que realmente fui atendida atempadamente, nuns impressionantes 15 minutos. Não sei se estes constrangimentos se deveram apenas ao facto de ser pleno verão ou se habitualmente é assim.
Do ponto de vista do atendimento médico, notei que não há muita preocupação em falar com os pacientes, contudo se formos nós a ter iniciativa de questionar, respondem às dúvidas. Esta postura contrasta com os comentários que se leem em fóruns e blogues acerca dos mesmos profissionais, quando estão a trabalhar em entidades do setor privado. Ao contrário do que vai aparecendo escrito sobre quem dirige o serviço, não tenho nada de negativo a apontar, pelo contrário.
Fui chamada para dar início à primeira tentativa de IIU, 5 meses após ter entrado para a lista de espera e não 3 ou 4 meses depois. Apesar das probabilidades serem reduzidas havia dentro de mim uma contida expectativa e apreensão em relação ao tratamento. Finalmente ia descobrir como os meus ovários iam responder aos injetáveis.
Toda a descrição que se segue aplica-se à metodologia usada no meu caso, enquanto utente do HSJ. A forma como cada processo é tratado depende da especificidade de cada paciente, havendo obviamente traços gerais comuns com outras mulheres que se submetem a tratamentos desta índole.
Compareci no hospital no terceiro dia de sangue vivo, a 3 de julho de 2015 (6.ª feira). Comecei por esperar a chamada para uma ecografia a fim de avaliar o estado dos ovários.
No HSJ somos atendidos pelo profissional que está de serviço naquele dia, o que significa que não há um médico fixo por paciente, ao contrário do que acontece na fase inicial, no pavilhão das consultas externas. Durante a ecografia há sempre várias pessoas presentes sejam médicos residentes ou estagiários.
A primeira impressão emitida pela médica que realizou a ecografia foi "os ovários são mesmo poliquísticos!".
Depois da ecografia voltei à sala de espera e aguardei por uma consulta. No gabinete estavam 3 ou 4 profissionais. A médica de serviço viu o meu processo e dado que já tinha passado algum tempo desde a última consulta mandou repetir análises. Aproveitou também avaliar os níveis de TSH, pois tinha aumentado a dose de Eutirox uns meses antes.
Fui informada que iria iniciar nesse mesmo dia a aplicação do injetável Puregon, numa primeira fase 50 UI, sempre às 21 horas. Fiquei de regressar ao hospital no dia 8 (4.ª feira) para monitorizar os ovários.
Voltei para a sala de espera para a recolha de sangue e uma explicação acerca da administração da injeção.
O Puregon é de fácil preparação e manuseio, devendo ser conservado no frigorífico. No hospital foi fornecido o kit com a caneta e algumas agulhas, pelo que na farmácia só é adquirida a ampola. Esta traz sempre um número de unidades adicionais e um guia de tratamento onde é possível fazer o controlo das doses administradas, bem como as que ainda estão contidas na ampola. Só acrescentei uma coluna onde registava de que lado da barriga tinha aplicado, pois convém alternar todos os dias.
Sobre o Puregon não tenho muito a dizer. A aplicação é simples e praticamente indolor. Cheguei a ficar com ligeiros hematomas mas não notei grandes alterações na barriga ou no meu estado de espírito.
Quando fui realizar a primeira ecografia após o início das injeções não houve crescimento de folículos. A dose foi aumentada para 75 UI e soube que teria de voltar a tomar Eutirox 100, pois a TSH estava com o valor de 0,07. Foi marcado regresso dois dias depois.
No dia 10 de julho (6.ª feira) o desânimo apoderou-se de mim. Era a segunda ecografia após início do tratamento, sempre que alguém me fazia ecografia ouvia a mesma expressão "os ovários são mesmo poliquísticos!". Estavam intocáveis, as injeções não resultavam... Mais uma vez a dose foi aumentada passando a injetar 100 UI. Prepararam-me para um eventual cancelamento caso na ecografia seguinte continuasse tudo igual. Foi sugerido que tentasse outra IIU iniciando as injeções com uma dose forte ou que ficasse inscrita para drilling ovárico, pois poderia ser uma boa alternativa para mim.
Dia 13 de julho foi formalizado o cancelamento. Extinguiu-se a pequena centelha que me acompanhou naqueles 10 dias em que uma fina agulha atravessou a minha pele. Perguntei se afinal era para tentar nova IIU ou o drilling. A médica optou por dar uma segunda hipótese a IIU.
Como o próximo ciclo seria em pleno mês de agosto e supostamente o laboratório não funcionava durante duas semanas, a segunda tentativa de IIU foi adiada para o fim desse mês.
Acerca do HSJ tenho algumas considerações a fazer. O Centro de Medicina da Reprodução tem uma excelente coordenação entre os diversos intervenientes (equipa médica, enfermagem e área administrativa). Considero também positiva a presença de mais do que um médico nas ecografias e consultas.
Quem sofrer de impaciência é levado ao limite de cada vez que lá vai, especialmente se for à segunda, quarta ou sexta-feira. Não é nada invulgar ficar uma manhã inteira nas salas de espera. Já me aconteceu ter ecografia marcada para as 10h30 e sair de lá às 14h45, porque é frequente haver apenas um médico de serviço. Posso dizer que de todas as vezes que lá estive, só num dia é que realmente fui atendida atempadamente, nuns impressionantes 15 minutos. Não sei se estes constrangimentos se deveram apenas ao facto de ser pleno verão ou se habitualmente é assim.
Do ponto de vista do atendimento médico, notei que não há muita preocupação em falar com os pacientes, contudo se formos nós a ter iniciativa de questionar, respondem às dúvidas. Esta postura contrasta com os comentários que se leem em fóruns e blogues acerca dos mesmos profissionais, quando estão a trabalhar em entidades do setor privado. Ao contrário do que vai aparecendo escrito sobre quem dirige o serviço, não tenho nada de negativo a apontar, pelo contrário.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Nova corrida, nova viagem
Finalmente fui contemplada com o direito de ser acompanhada no Hospital de São João (HSJ).
Voltei à casa de partida de um Monopólio que tem sido demasiado demorado e penoso.
Recuando um pouco na história, nesta fase estamos em maio de 2014 (34 anos), findo um percurso falhado num hospital por onde tive de passar até conseguir um dos meus grandes objetivos que era aceder ao Centro de Medicina da Reprodução do HSJ.
Começa tudo de novo e deparo-me outra vez com a situação de aguardar pela chegada de uma carta com a marcação da primeira consulta. Tal como tem acontecido sempre, os prazos que nos são indicados, seja para consultas como para tratamentos, nunca correspondem à realidade. Houve uma demora significativa na obtenção de notícias e como já tinha uma experiência negativa no encaminhamento do centro de saúde para o primeiro hospital, contactei o HSJ para averiguar se o meu nome constava na base de dados das consultas de infertilidade. Felizmente o nome aparecia nos registos do hospital porém, para um setor diferente (ginecologia, talvez?). Foi feita a correção para infertilidade mas segundo me disseram o erro que houve não influenciou o tempo de espera.
A carta mais aguardada daquele ano chegou com o dia 29 de dezembro de 2014 no horizonte, quase 7 meses após a passagem de testemunho.
Generosos minutos antes da hora marcada, o casal em missão aventurou-se nos labirintos do HSJ para encontrar o local da consulta. Munidos dos exames realizados no outro hospital e um bom tempo após a hora marcada, fomos chamados para o consultório. Iniciou-se o longo inquérito necessário para conhecer o casal e a prescrição de tudo o que faltava analisar. Foi recomendado que suspendesse o Progyluton, voltasse ao Provera e começasse a tomar duas carteiras diárias de Ovusitol (sugador financeiro que não mostrou resultados). Dali a 2 meses teria nova consulta para definição de tratamento em função dos relatórios dos exames.
Surgiu-me uma dúvida a propósito dos encaminhamentos de hospital para hospital. Que tipo de informação a nosso respeito é que migra? A perceção que tenho é que do ponto de vista clínico nada é enviado.
Adiante...
24 de fevereiro de 2015 e 35 anos de idade. Perante o historial relatado e o manancial de exames realizados, a médica considerou que uma FIV era o percurso mais indicado (com taxa de sucesso próxima de 30%), tendo passado a integrar a lista de espera que tem a duração de 1 ano. Mencionou que, uma vez que tenho direito e a lista de espera é mais rápida, poderia experimentar IIU (no sistema público o limite é de 3 e a taxa de sucesso ronda os 10%). Deu a indicação que teria de aguardar 3 a 4 meses, sendo habitual haver um contacto telefónico prévio ao aproximar-se a altura do tratamento.
Como tenho hipotiroidismo, apesar de em condições normais os níveis de TSH e T4 estarem adequados, para quem pretende engravidar e reduzir o risco de aborto, é frequente baixar o nível de TSH através do aumento da dosagem de medicamento. Em função desse facto passei a tomar Eutirox 125.
Voltei à casa de partida de um Monopólio que tem sido demasiado demorado e penoso.
Recuando um pouco na história, nesta fase estamos em maio de 2014 (34 anos), findo um percurso falhado num hospital por onde tive de passar até conseguir um dos meus grandes objetivos que era aceder ao Centro de Medicina da Reprodução do HSJ.
Começa tudo de novo e deparo-me outra vez com a situação de aguardar pela chegada de uma carta com a marcação da primeira consulta. Tal como tem acontecido sempre, os prazos que nos são indicados, seja para consultas como para tratamentos, nunca correspondem à realidade. Houve uma demora significativa na obtenção de notícias e como já tinha uma experiência negativa no encaminhamento do centro de saúde para o primeiro hospital, contactei o HSJ para averiguar se o meu nome constava na base de dados das consultas de infertilidade. Felizmente o nome aparecia nos registos do hospital porém, para um setor diferente (ginecologia, talvez?). Foi feita a correção para infertilidade mas segundo me disseram o erro que houve não influenciou o tempo de espera.
A carta mais aguardada daquele ano chegou com o dia 29 de dezembro de 2014 no horizonte, quase 7 meses após a passagem de testemunho.
Generosos minutos antes da hora marcada, o casal em missão aventurou-se nos labirintos do HSJ para encontrar o local da consulta. Munidos dos exames realizados no outro hospital e um bom tempo após a hora marcada, fomos chamados para o consultório. Iniciou-se o longo inquérito necessário para conhecer o casal e a prescrição de tudo o que faltava analisar. Foi recomendado que suspendesse o Progyluton, voltasse ao Provera e começasse a tomar duas carteiras diárias de Ovusitol (sugador financeiro que não mostrou resultados). Dali a 2 meses teria nova consulta para definição de tratamento em função dos relatórios dos exames.
Surgiu-me uma dúvida a propósito dos encaminhamentos de hospital para hospital. Que tipo de informação a nosso respeito é que migra? A perceção que tenho é que do ponto de vista clínico nada é enviado.
Adiante...
24 de fevereiro de 2015 e 35 anos de idade. Perante o historial relatado e o manancial de exames realizados, a médica considerou que uma FIV era o percurso mais indicado (com taxa de sucesso próxima de 30%), tendo passado a integrar a lista de espera que tem a duração de 1 ano. Mencionou que, uma vez que tenho direito e a lista de espera é mais rápida, poderia experimentar IIU (no sistema público o limite é de 3 e a taxa de sucesso ronda os 10%). Deu a indicação que teria de aguardar 3 a 4 meses, sendo habitual haver um contacto telefónico prévio ao aproximar-se a altura do tratamento.
Como tenho hipotiroidismo, apesar de em condições normais os níveis de TSH e T4 estarem adequados, para quem pretende engravidar e reduzir o risco de aborto, é frequente baixar o nível de TSH através do aumento da dosagem de medicamento. Em função desse facto passei a tomar Eutirox 125.
Tempo: série ininterrupta e eterna de instantes
A palavra TEMPO passou a ter um enorme peso neste processo.
Quando se passa à esfera do sistema público um dos grandes fatores de desespero é o tempo de espera.
Como relatei anteriormente, tinha solicitado à médica de família que fosse encaminhada para consultas de infertilidade. Passaram-se alguns meses e não recebia qualquer carta com agendamento de consulta. Dirigi-me ao hospital para saber se tinha dado entrada alguma informação e nada apareceu. Em plena era digital de simplex & companhia lda houve alguma coisa que ficou pelo caminho. Peregrinei novamente ao centro de saúde para tentar corrigir o pseudoencaminhamento.
Finalmente recebi a tão aguardada carta com uma data, aquela data que parece cintilar ao fundo de um enorme túnel. Tudo parece muito mais fácil quando sabemos que, num dia específico, estaremos frente a frente com alguém que nos vai colocar questões, ouvir e dizer-nos algo que nos pode trazer alguma esperança.
Teria, pois, de aguardar uns módicos sete meses pelo primeiro grande dia.
Pouco tempo antes da consulta recebi a notícia que afinal a médica não tinha disponibilidade naquele dia e a marcação teria de ser adiada algumas semanas. Tentei ver algo positivo nisso. Afinal quem teve paciência para esperar sete meses conseguia conter a ansiedade mais um pouco.
Com 32 anos bem avançados tive a primeira consulta de infertilidade.
Durante os dez meses que passaram desde que deixei a pílula até esse dia não estava a tomar nada para além do Eutirox, ou seja, não ovulei, não menstruei, muito menos engravidei.
A médica decidiu logo que deveria voltar a recorrer ao meu amigo (quase de infância), Progyluton, e fazer umas análises, ecografias, histerossalpingografia. O marido fez os exames da praxe. Não havia dúvidas quanto ao motivo da infertilidade: ovários poliquísticos com ausência de ovulação.
Praticamente todas as consultas que eram marcadas acabavam por ser adiadas por impossibilidade da médica. As palavras eram parcas, não havia grande iniciativa em explicar o processo. Valha-nos a curiosidade de pesquisar e o atrevimento de perguntar aos profissionais aquilo que nos devia ser dito prontamente, pois somos o foco daqueles minutos em que estão a prestar serviço.
Chegou o ano de 2014, ou seja, dei as boas vindas aos 34 anos. Comecei finalmente a fazer alguma coisa para combater a infertilidade. Pude finalmente pôr em prática a fórmula mágica que o meu primeiro endocrinologista dizia, na primeira década do século XXI, que ia funcionar. Comecei a tomar Dufine, o famoso indutor ovulatório.
Fui monitorizada por via ecográfica nos seis ciclos em que tomei Dufine. Os meus ovários, que encarnaram a personagem da Bela Adormecida, não reagiram às crescentes dosagens. Comecei com 1, depois 2 e finalizei com 3 comprimidos. Afinal, a teoria do endocrinologista estava longe de funcionar comigo.
Como a intervenção daquele hospital é limitada no tipo de seguimento dado a situações de infertilidade, era chegada a hora de finalmente ser encaminhada para Hospital de São João.
Quando se passa à esfera do sistema público um dos grandes fatores de desespero é o tempo de espera.
Como relatei anteriormente, tinha solicitado à médica de família que fosse encaminhada para consultas de infertilidade. Passaram-se alguns meses e não recebia qualquer carta com agendamento de consulta. Dirigi-me ao hospital para saber se tinha dado entrada alguma informação e nada apareceu. Em plena era digital de simplex & companhia lda houve alguma coisa que ficou pelo caminho. Peregrinei novamente ao centro de saúde para tentar corrigir o pseudoencaminhamento.
Finalmente recebi a tão aguardada carta com uma data, aquela data que parece cintilar ao fundo de um enorme túnel. Tudo parece muito mais fácil quando sabemos que, num dia específico, estaremos frente a frente com alguém que nos vai colocar questões, ouvir e dizer-nos algo que nos pode trazer alguma esperança.
Teria, pois, de aguardar uns módicos sete meses pelo primeiro grande dia.
Pouco tempo antes da consulta recebi a notícia que afinal a médica não tinha disponibilidade naquele dia e a marcação teria de ser adiada algumas semanas. Tentei ver algo positivo nisso. Afinal quem teve paciência para esperar sete meses conseguia conter a ansiedade mais um pouco.
Com 32 anos bem avançados tive a primeira consulta de infertilidade.
Durante os dez meses que passaram desde que deixei a pílula até esse dia não estava a tomar nada para além do Eutirox, ou seja, não ovulei, não menstruei, muito menos engravidei.
A médica decidiu logo que deveria voltar a recorrer ao meu amigo (quase de infância), Progyluton, e fazer umas análises, ecografias, histerossalpingografia. O marido fez os exames da praxe. Não havia dúvidas quanto ao motivo da infertilidade: ovários poliquísticos com ausência de ovulação.
Praticamente todas as consultas que eram marcadas acabavam por ser adiadas por impossibilidade da médica. As palavras eram parcas, não havia grande iniciativa em explicar o processo. Valha-nos a curiosidade de pesquisar e o atrevimento de perguntar aos profissionais aquilo que nos devia ser dito prontamente, pois somos o foco daqueles minutos em que estão a prestar serviço.
Chegou o ano de 2014, ou seja, dei as boas vindas aos 34 anos. Comecei finalmente a fazer alguma coisa para combater a infertilidade. Pude finalmente pôr em prática a fórmula mágica que o meu primeiro endocrinologista dizia, na primeira década do século XXI, que ia funcionar. Comecei a tomar Dufine, o famoso indutor ovulatório.
Fui monitorizada por via ecográfica nos seis ciclos em que tomei Dufine. Os meus ovários, que encarnaram a personagem da Bela Adormecida, não reagiram às crescentes dosagens. Comecei com 1, depois 2 e finalizei com 3 comprimidos. Afinal, a teoria do endocrinologista estava longe de funcionar comigo.
Como a intervenção daquele hospital é limitada no tipo de seguimento dado a situações de infertilidade, era chegada a hora de finalmente ser encaminhada para Hospital de São João.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
D de Decisão
Há alturas em que a vida sofre viragens de forma inadvertida, noutras somos nós que damos um empurrãozinho à mudança.
Em sede de concertação de casal tomámos a decisão de expandir o que nos unia para uma nova dimensão. Sincronizámos os nossos relógios para a missão Filho. Chegara a hora de começarmos a dura batalha que prevíamos avizinhar-se.
Os primeiros passos consistiram em falar com a médica de família que passei a ter desde que mudei de terra e o endocrinologista que agora consultava.
A minha médica já tinha conhecimento de todo o meu historial e tratou de me encaminhar para as consultas de infertilidade do hospital da minha área de residência, pois era a única forma de conseguir ter acesso ao hospital de referência que me acompanha atualmente (Hospital de São João).
Com o endocrinologista vimos se reunia as condições para deixar a pílula e tentar engravidar de forma natural enquanto aguardava pela consulta de infertilidade. Fiz análises e ecografia, no entanto as análises não foram animadoras. O cortisol estava muito elevado e não podia dar início aos treinos enquanto não fosse apurado se era apenas uma situação passageira ou algo relevante que pudesse influenciar o resultado. Repeti a análise ao cortisol de uma forma mais específica e chegou-se à conclusão que estava tudo em condições. Os ovários obviamente estavam impecáveis por causa da pílula, embora fosse por pouco tempo.
Estava no final de 2011, com 31 anos.
Em sede de concertação de casal tomámos a decisão de expandir o que nos unia para uma nova dimensão. Sincronizámos os nossos relógios para a missão Filho. Chegara a hora de começarmos a dura batalha que prevíamos avizinhar-se.
Os primeiros passos consistiram em falar com a médica de família que passei a ter desde que mudei de terra e o endocrinologista que agora consultava.
A minha médica já tinha conhecimento de todo o meu historial e tratou de me encaminhar para as consultas de infertilidade do hospital da minha área de residência, pois era a única forma de conseguir ter acesso ao hospital de referência que me acompanha atualmente (Hospital de São João).
Com o endocrinologista vimos se reunia as condições para deixar a pílula e tentar engravidar de forma natural enquanto aguardava pela consulta de infertilidade. Fiz análises e ecografia, no entanto as análises não foram animadoras. O cortisol estava muito elevado e não podia dar início aos treinos enquanto não fosse apurado se era apenas uma situação passageira ou algo relevante que pudesse influenciar o resultado. Repeti a análise ao cortisol de uma forma mais específica e chegou-se à conclusão que estava tudo em condições. Os ovários obviamente estavam impecáveis por causa da pílula, embora fosse por pouco tempo.
Estava no final de 2011, com 31 anos.
Few years later...
Fui a mais uma consulta de rotina no endocrinologista e ao longo do tempo verificava que o meu corpo estava a reagir de forma diferente ao Provera. As hemorragias vinham cada vez mais tarde, o fluxo era mais reduzido e só durava uns 3 dias.
Perguntei ao médico se havia algum problema em começar a tomar a pílula. Ele falou-me da Yasmin com entusiasmo. Era um produto natural muito bom que tinha surgido no mercado há relativamente pouco tempo e ia fazer uma "limpeza" aos meus ovários. Concordei experimentar Yasmin e acabei por usá-la durante três anos.
Se pudesse voltar atrás não tomava aquela pílula e se calhar qualquer outra. Antes da Yasmin raramente tinha cefaleias. Diria que talvez só sentia dores de cabeça uma vez por ano. O cenário mudou e todos os meses, uns dois dias antes de vir a hemorragia de privação, começava a ter enxaquecas que se estendiam durante alguns dias do período. Só passavam se tomasse paracetamol. Outra coisa que acontecia no verão durante esses anos era ter dores intensas nas pernas, do joelho para baixo quando estava deitada. Suponho que estava a afetar o meu sistema circulatório. Relatei esses episódios ao endocrinologista os quais desvalorizou, defendendo sempre a Yasmin.
Como já não morava perto do local onde o médico consultava e estava a ficar descontente com o seu acompanhamento, decidi mudar de profissional.
Perguntei ao médico se havia algum problema em começar a tomar a pílula. Ele falou-me da Yasmin com entusiasmo. Era um produto natural muito bom que tinha surgido no mercado há relativamente pouco tempo e ia fazer uma "limpeza" aos meus ovários. Concordei experimentar Yasmin e acabei por usá-la durante três anos.
Se pudesse voltar atrás não tomava aquela pílula e se calhar qualquer outra. Antes da Yasmin raramente tinha cefaleias. Diria que talvez só sentia dores de cabeça uma vez por ano. O cenário mudou e todos os meses, uns dois dias antes de vir a hemorragia de privação, começava a ter enxaquecas que se estendiam durante alguns dias do período. Só passavam se tomasse paracetamol. Outra coisa que acontecia no verão durante esses anos era ter dores intensas nas pernas, do joelho para baixo quando estava deitada. Suponho que estava a afetar o meu sistema circulatório. Relatei esses episódios ao endocrinologista os quais desvalorizou, defendendo sempre a Yasmin.
Como já não morava perto do local onde o médico consultava e estava a ficar descontente com o seu acompanhamento, decidi mudar de profissional.
Diz-me o que és, dir-te-ei o que vou fazer
Eis-me no 11º ano, curiosamente quando, na qualidade de estudante do ensino secundário, estudei o sistema endócrino.
Tive a minha primeira consulta com o endocrinologista que me acompanhou durante uns 13 anos. Levei a minha compilação dos exames realizados nos anos anteriores para que ele estudasse o especimem que estava sentado à sua frente. Deixei de tomar Progyluton e nos 11 anos seguintes as hemorragias foram induzidas com Provera.
Depois de ver a informação, o médico não estava muito crente nos disparates endocrinológicos que as análises mostravam. Achou que poderia haver algum erro no laboratório e que seria apropriado fazer análises num laboratório de referência no Porto.
Por várias vezes, lá ia a miúda de uma localidade minhota ao Porto, não para passear mas para deixar parte do seu sangue na cidade Invicta.
Afinal o problema não era do laboratório da terrinha, era mesmo meu.
Chegou o dia do veredito, o descontrolo hormonal tinha um nome: hipotiroidismo primário. Analisando os sintomas associados a esta doença eu apresentava alguns, contudo nada levava a crer naquela altura de que padecesse daquele problema. A justificação que o endocrinologista deu foi que poderia ter sido alguma infeção recente que afetou a tiróide, pois fisicamente era magra, com uma estatura normal (1,68 m) e estava bem desenvolvida do ponto de vista intelectual. Mais uma vez recordei a novela daquele verão do cocktail químico e do impacto que poderá ter causado à minha vida. Durante uns anos tomei diferentes dosagens de Thyrax até estabilizar as hormonas e depois passei para o Eutirox 100 que mantenho até à atualidade. A rotina diária de tomar comprimidos em jejum, o resto da vida, não foi difícil de adotar. É um mal necessário para se ter uma vida com qualidade.
Nas inúmeras consultas que tive com ele ao longo dos anos falou-se da questão da amenorreia. Havia alturas em que, a pedido do médico, interrompia a toma de Provera durante dois ou três meses para ver se menstruava. Fazia também análises regularmente. Não menstruava e os meus níveis de progesterona eram sempre baixos, o que indiciava ausência de ovulação. Os ovários, por sua vez, continuavam poliquísticos, de volume aumentado e a tiróide estruturalmente normal. Ele dizia que a tiróide em nada estava relacionada com o problema nos ovários (embora haja vários estudos contrários a esta perspetiva).
Já antes de começar a ter consultas de endocrinologia, a ginecologista tinha-me dito que iria ter dificuldades a engravidar. A este respeito o endocrinologista disse sempre que não era nada de especial, tomando um indutor ovulatório como o Dufine facilmente engravidaria.
Tive a minha primeira consulta com o endocrinologista que me acompanhou durante uns 13 anos. Levei a minha compilação dos exames realizados nos anos anteriores para que ele estudasse o especimem que estava sentado à sua frente. Deixei de tomar Progyluton e nos 11 anos seguintes as hemorragias foram induzidas com Provera.
Depois de ver a informação, o médico não estava muito crente nos disparates endocrinológicos que as análises mostravam. Achou que poderia haver algum erro no laboratório e que seria apropriado fazer análises num laboratório de referência no Porto.
Por várias vezes, lá ia a miúda de uma localidade minhota ao Porto, não para passear mas para deixar parte do seu sangue na cidade Invicta.
Afinal o problema não era do laboratório da terrinha, era mesmo meu.
Chegou o dia do veredito, o descontrolo hormonal tinha um nome: hipotiroidismo primário. Analisando os sintomas associados a esta doença eu apresentava alguns, contudo nada levava a crer naquela altura de que padecesse daquele problema. A justificação que o endocrinologista deu foi que poderia ter sido alguma infeção recente que afetou a tiróide, pois fisicamente era magra, com uma estatura normal (1,68 m) e estava bem desenvolvida do ponto de vista intelectual. Mais uma vez recordei a novela daquele verão do cocktail químico e do impacto que poderá ter causado à minha vida. Durante uns anos tomei diferentes dosagens de Thyrax até estabilizar as hormonas e depois passei para o Eutirox 100 que mantenho até à atualidade. A rotina diária de tomar comprimidos em jejum, o resto da vida, não foi difícil de adotar. É um mal necessário para se ter uma vida com qualidade.
Nas inúmeras consultas que tive com ele ao longo dos anos falou-se da questão da amenorreia. Havia alturas em que, a pedido do médico, interrompia a toma de Provera durante dois ou três meses para ver se menstruava. Fazia também análises regularmente. Não menstruava e os meus níveis de progesterona eram sempre baixos, o que indiciava ausência de ovulação. Os ovários, por sua vez, continuavam poliquísticos, de volume aumentado e a tiróide estruturalmente normal. Ele dizia que a tiróide em nada estava relacionada com o problema nos ovários (embora haja vários estudos contrários a esta perspetiva).
Já antes de começar a ter consultas de endocrinologia, a ginecologista tinha-me dito que iria ter dificuldades a engravidar. A este respeito o endocrinologista disse sempre que não era nada de especial, tomando um indutor ovulatório como o Dufine facilmente engravidaria.
Em busca de uma resposta
Julho de 1996, mais um ano letivo concluído, subsistiam dúvidas sobre o descontrolo hormonal e nada de menstruação.
Saturada da passividade do médico de família que não fazia mais do que pedir exames, fui a uma ginecologista. Seguiu-se nova remessa de análises, ecografias e, pela primeira vez, alguém se preocupou em fazer algo pelo meu útero. Comecei a tomar Progyluton e quase dois anos depois da menarca senti-me uma adolescente relativamente normal. Esta terapia hormonal de substituição (THS) fez inicialmente parte do meu quotidiano durante 6 meses.
Este medicamento é tomado diariamente durante 21 dias, seguido de uma interrupção de 7 dias e normalmente a menstruação vinha cerca de 3 dias após a interrupção. Progyluton não tem efeito contracetivo e pode ser prescrito para várias finalidades. No meu caso era para regularizar ciclos e nunca falhou. Com esta THS o fluxo era abundante, a menstruação não durava menos de 7 dias e por vezes era bastante dolorosa.
Voltando ao distúrbio hormonal, a sua causa continuava por descobrir. Um dia, ia entrar no consultório, a ginecologista estava com um ar sério e disse para lhe responder com sinceridade à questão que me ia colocar. Estava com a minha mãe e então perguntou: "Já tomaste algum remédio para emagrecer?" Na altura não percebi o motivo da questão mas mais tarde entendi. Respondi que nunca o tinha feito mas ela ainda duvidou. Referiu que eu deveria ter feito alguma coisa que descontrolou seriamente o meu sistema endócrino. Lembrei-me do que acontecera dois anos antes, pouquíssimo tempo antes de me ter "tornado mulher".
Tenho asma desde muito nova e habitualmente cortava a relva em casa. Nunca tinha tido problemas até um dia, o primeiro das minhas férias de verão, ter começado a tratar do jardim. Cortei não mais de 10 m2 até que tive uma crise. Parei imediatamente e todo esse verão foi passado em várias consultas semanais, pois não havia medicação que parasse as crises que tinha todas as noites. De cada vez que ia ao médico eram receitados medicamentos diferentes, em grandes quantidades. Foi um cocktail químico muito violento, é a única situação que me ocorre que pode ter afetado o meu organismo. Quando relatei o que tinha acontecido, a ginecologista concordou que era plausível.
Naquela altura era muito frequente haver raparigas que tomavam medicamentos para emagrecer às escondidas da família. A composição de muitos desses "milagres" contém hormonas da tiróide. Se a sua toma não for devidamente controlada podem surgir problemas permanentes. A dúvida da ginecologista estava relacionada com este facto.
Na última consulta que tive com aquela médica foram dados dois possíveis diagnósticos, ditos de uma forma demasiado direta para quem tinha apenas 16 anos. "Ou tens um tumor na hipófise ou a tua tiróide não está a funcionar em condições. Como isto já ultrapassa a minha área vou encaminhar-te para um endocrinologista".
Perguntei que implicações tinham uma ou outra complicação. O que respondeu foi que se fosse um tumor na hipófise, o assunto ficava resolvido com uma cirurgia a laser para o eliminar (o que não é tão linear como ela deu a entender), se a origem do distúrbio residisse na tiróide teria de tomar medicação o resto da vida.
Saturada da passividade do médico de família que não fazia mais do que pedir exames, fui a uma ginecologista. Seguiu-se nova remessa de análises, ecografias e, pela primeira vez, alguém se preocupou em fazer algo pelo meu útero. Comecei a tomar Progyluton e quase dois anos depois da menarca senti-me uma adolescente relativamente normal. Esta terapia hormonal de substituição (THS) fez inicialmente parte do meu quotidiano durante 6 meses.
Este medicamento é tomado diariamente durante 21 dias, seguido de uma interrupção de 7 dias e normalmente a menstruação vinha cerca de 3 dias após a interrupção. Progyluton não tem efeito contracetivo e pode ser prescrito para várias finalidades. No meu caso era para regularizar ciclos e nunca falhou. Com esta THS o fluxo era abundante, a menstruação não durava menos de 7 dias e por vezes era bastante dolorosa.
Voltando ao distúrbio hormonal, a sua causa continuava por descobrir. Um dia, ia entrar no consultório, a ginecologista estava com um ar sério e disse para lhe responder com sinceridade à questão que me ia colocar. Estava com a minha mãe e então perguntou: "Já tomaste algum remédio para emagrecer?" Na altura não percebi o motivo da questão mas mais tarde entendi. Respondi que nunca o tinha feito mas ela ainda duvidou. Referiu que eu deveria ter feito alguma coisa que descontrolou seriamente o meu sistema endócrino. Lembrei-me do que acontecera dois anos antes, pouquíssimo tempo antes de me ter "tornado mulher".
Tenho asma desde muito nova e habitualmente cortava a relva em casa. Nunca tinha tido problemas até um dia, o primeiro das minhas férias de verão, ter começado a tratar do jardim. Cortei não mais de 10 m2 até que tive uma crise. Parei imediatamente e todo esse verão foi passado em várias consultas semanais, pois não havia medicação que parasse as crises que tinha todas as noites. De cada vez que ia ao médico eram receitados medicamentos diferentes, em grandes quantidades. Foi um cocktail químico muito violento, é a única situação que me ocorre que pode ter afetado o meu organismo. Quando relatei o que tinha acontecido, a ginecologista concordou que era plausível.
Naquela altura era muito frequente haver raparigas que tomavam medicamentos para emagrecer às escondidas da família. A composição de muitos desses "milagres" contém hormonas da tiróide. Se a sua toma não for devidamente controlada podem surgir problemas permanentes. A dúvida da ginecologista estava relacionada com este facto.
Na última consulta que tive com aquela médica foram dados dois possíveis diagnósticos, ditos de uma forma demasiado direta para quem tinha apenas 16 anos. "Ou tens um tumor na hipófise ou a tua tiróide não está a funcionar em condições. Como isto já ultrapassa a minha área vou encaminhar-te para um endocrinologista".
Perguntei que implicações tinham uma ou outra complicação. O que respondeu foi que se fosse um tumor na hipófise, o assunto ficava resolvido com uma cirurgia a laser para o eliminar (o que não é tão linear como ela deu a entender), se a origem do distúrbio residisse na tiróide teria de tomar medicação o resto da vida.
Doutor, preciso de ajuda!
Findo o ano letivo 94/95 dirigi-me ao consultório do médico de família.
Tinha 15 anos e contei-lhe que passaram mais de 8 meses desde a primeira e única vez que menstruei.
Tranquilamente disse-me que era normal, era da idade, quando chegasse à idade adulta e casasse, começava a ter ciclos regulares. Solicitou que fizesse análises sanguíneas e uma ecografia pélvica.
Começou o longo trajeto que me trouxe até aqui, o caminho da infertilidade.
Os exames que realizei não revelaram normalidade nos inúmeros parâmetros verificados. Ao ver os resultados, o médico ria, continuava a rir quando mudava de página e mantinha a tese que era tudo normal. Referiu que tinha um grande descontrolo hormonal, ovários poliquísticos porém, estava tudo normal! Mandou repetir os exames passado algum tempo, o que veio a acontecer.
Quando dei por mim tinha 16 anos e continuava sem menstruar.
Sempre que levava relatórios de exames, do outro lado via o médico a rir, até que um dia disse: "não me digas que te estás a transformar num homenzinho!". A testosterona estava muito elevada contudo não evidenciava ainda sinais de hirsutismo.
A minha paciência estava a esgotar-se devido à falta de soluções quando estava patente que tinha um problema a necessitar de intervenção.
Tinha 15 anos e contei-lhe que passaram mais de 8 meses desde a primeira e única vez que menstruei.
Tranquilamente disse-me que era normal, era da idade, quando chegasse à idade adulta e casasse, começava a ter ciclos regulares. Solicitou que fizesse análises sanguíneas e uma ecografia pélvica.
Começou o longo trajeto que me trouxe até aqui, o caminho da infertilidade.
Os exames que realizei não revelaram normalidade nos inúmeros parâmetros verificados. Ao ver os resultados, o médico ria, continuava a rir quando mudava de página e mantinha a tese que era tudo normal. Referiu que tinha um grande descontrolo hormonal, ovários poliquísticos porém, estava tudo normal! Mandou repetir os exames passado algum tempo, o que veio a acontecer.
Quando dei por mim tinha 16 anos e continuava sem menstruar.
Sempre que levava relatórios de exames, do outro lado via o médico a rir, até que um dia disse: "não me digas que te estás a transformar num homenzinho!". A testosterona estava muito elevada contudo não evidenciava ainda sinais de hirsutismo.
A minha paciência estava a esgotar-se devido à falta de soluções quando estava patente que tinha um problema a necessitar de intervenção.
Viagem ao século XX
Algures na primeira metade da década de 90...
"Já és mulher?" Questionaram-me algumas vezes umas colegas de escola.
Naquela altura apresentava características físicas que evidenciavam claramente que estava na adolescência. Contudo, sempre que me questionavam se já era mulher, durante muito tempo a minha resposta era sempre a mesma: "ainda não..."
"Já ser mulher" significava ter passado pela experiência da menarca e, consequentemente, o corpo entrava no início da vida reprodutiva.
Estava a estranhar esse dia tardar até que, em outubro de 1994, a três meses de completar 15 anos, ei-la: intensa, abundante, dolorosa, naqueles 9 dias que pareciam não terminar. Tinha deixado oficialmente a infância e entrado num novo mundo, atípico para quem julgava que se seguia uma adolescência calma, sem preocupações de maior.
Andava no 9º ano quando a famigerada menarca surgiu. Disseram-me que era normal não haver grande regularidade nos primeiros ciclos e então, pacientemente, aguardei. Passou um mês, dois, três, um ano letivo e durante todo esse tempo não voltei a experienciar o longo dilúvio doloroso, não porque tenha suavizado com o tempo, simplesmente não apareceu mais.
"Já és mulher?" Questionaram-me algumas vezes umas colegas de escola.
Naquela altura apresentava características físicas que evidenciavam claramente que estava na adolescência. Contudo, sempre que me questionavam se já era mulher, durante muito tempo a minha resposta era sempre a mesma: "ainda não..."
"Já ser mulher" significava ter passado pela experiência da menarca e, consequentemente, o corpo entrava no início da vida reprodutiva.
Estava a estranhar esse dia tardar até que, em outubro de 1994, a três meses de completar 15 anos, ei-la: intensa, abundante, dolorosa, naqueles 9 dias que pareciam não terminar. Tinha deixado oficialmente a infância e entrado num novo mundo, atípico para quem julgava que se seguia uma adolescência calma, sem preocupações de maior.
Andava no 9º ano quando a famigerada menarca surgiu. Disseram-me que era normal não haver grande regularidade nos primeiros ciclos e então, pacientemente, aguardei. Passou um mês, dois, três, um ano letivo e durante todo esse tempo não voltei a experienciar o longo dilúvio doloroso, não porque tenha suavizado com o tempo, simplesmente não apareceu mais.
Prólogo
Filho(a) que hás de existir:
Ainda não me conheces, por isso passo a apresentar-me.
Sou aquela que te ama incondicionalmente, desde o dia em que eu e o teu pai concordámos que estava na hora de proporcionarmos ao mundo uma junção do melhor que há em nós. Aquela que te dá o melhor abraço e afaga suavemente os teus cabelos sempre que sonha tocar-te; que beija suavemente o teu rosto e sente o toque dessa pele imaculada. Sou a tua MÃE.
Apesar de não conseguir imaginar as tuas feições, nem adivinhar como é a tua voz, de uma coisa tenho a certeza: és, para mim, a mais perfeita criação que habita no meu imaginário.
Sei que um dia seremos apresentados um ao outro quando te pousarem em cima do meu peito.
Não perco a esperança, SEI QUE CHEGARÁS...
Ainda não me conheces, por isso passo a apresentar-me.
Sou aquela que te ama incondicionalmente, desde o dia em que eu e o teu pai concordámos que estava na hora de proporcionarmos ao mundo uma junção do melhor que há em nós. Aquela que te dá o melhor abraço e afaga suavemente os teus cabelos sempre que sonha tocar-te; que beija suavemente o teu rosto e sente o toque dessa pele imaculada. Sou a tua MÃE.
Apesar de não conseguir imaginar as tuas feições, nem adivinhar como é a tua voz, de uma coisa tenho a certeza: és, para mim, a mais perfeita criação que habita no meu imaginário.
Sei que um dia seremos apresentados um ao outro quando te pousarem em cima do meu peito.
Não perco a esperança, SEI QUE CHEGARÁS...
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