Julho de 1996, mais um ano letivo concluído, subsistiam dúvidas sobre o descontrolo hormonal e nada de menstruação.
Saturada da passividade do médico de família que não fazia mais do que pedir exames, fui a uma ginecologista. Seguiu-se nova remessa de análises, ecografias e, pela primeira vez, alguém se preocupou em fazer algo pelo meu útero. Comecei a tomar Progyluton e quase dois anos depois da menarca senti-me uma adolescente relativamente normal. Esta terapia hormonal de substituição (THS) fez inicialmente parte do meu quotidiano durante 6 meses.
Este medicamento é tomado diariamente durante 21 dias, seguido de uma interrupção de 7 dias e normalmente a menstruação vinha cerca de 3 dias após a interrupção. Progyluton não tem efeito contracetivo e pode ser prescrito para várias finalidades. No meu caso era para regularizar ciclos e nunca falhou. Com esta THS o fluxo era abundante, a menstruação não durava menos de 7 dias e por vezes era bastante dolorosa.
Voltando ao distúrbio hormonal, a sua causa continuava por descobrir. Um dia, ia entrar no consultório, a ginecologista estava com um ar sério e disse para lhe responder com sinceridade à questão que me ia colocar. Estava com a minha mãe e então perguntou: "Já tomaste algum remédio para emagrecer?" Na altura não percebi o motivo da questão mas mais tarde entendi. Respondi que nunca o tinha feito mas ela ainda duvidou. Referiu que eu deveria ter feito alguma coisa que descontrolou seriamente o meu sistema endócrino. Lembrei-me do que acontecera dois anos antes, pouquíssimo tempo antes de me ter "tornado mulher".
Tenho asma desde muito nova e habitualmente cortava a relva em casa. Nunca tinha tido problemas até um dia, o primeiro das minhas férias de verão, ter começado a tratar do jardim. Cortei não mais de 10 m2 até que tive uma crise. Parei imediatamente e todo esse verão foi passado em várias consultas semanais, pois não havia medicação que parasse as crises que tinha todas as noites. De cada vez que ia ao médico eram receitados medicamentos diferentes, em grandes quantidades. Foi um cocktail químico muito violento, é a única situação que me ocorre que pode ter afetado o meu organismo. Quando relatei o que tinha acontecido, a ginecologista concordou que era plausível.
Naquela altura era muito frequente haver raparigas que tomavam medicamentos para emagrecer às escondidas da família. A composição de muitos desses "milagres" contém hormonas da tiróide. Se a sua toma não for devidamente controlada podem surgir problemas permanentes. A dúvida da ginecologista estava relacionada com este facto.
Na última consulta que tive com aquela médica foram dados dois possíveis diagnósticos, ditos de uma forma demasiado direta para quem tinha apenas 16 anos. "Ou tens um tumor na hipófise ou a tua tiróide não está a funcionar em condições. Como isto já ultrapassa a minha área vou encaminhar-te para um endocrinologista".
Perguntei que implicações tinham uma ou outra complicação. O que respondeu foi que se fosse um tumor na hipófise, o assunto ficava resolvido com uma cirurgia a laser para o eliminar (o que não é tão linear como ela deu a entender), se a origem do distúrbio residisse na tiróide teria de tomar medicação o resto da vida.
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