NOTA PRÉVIA: Engane-se quem procura neste post a revelação do segredo para superar a infertilidade. Ninguém o sabe e não tinha moral para fazer tal coisa!
O meu principal objetivo é realizar uma resenha de fatores a considerar e apresentar dicas, fruto da minha experiência, para "facilitar" um pouco a vida a quem se depara com a infertilidade e necessita de recorrer à PMA.
Vou começar por apresentar um fluxograma retirado de uma Norma da DGS sobre Conduta em Infertilidade para os Cuidados de Saúde Primários.
Chamo especial atenção para a parte final do fluxograma relativamente à referenciação precoce que frequentemente é ignorada/desconhecida. Comecei por este ponto, porque não é invulgar lerem-se relatos de casais que estão há uma infinidade a tentar engravidar e a resposta que alguns profissionais de saúde lhes dão é que são jovens; ainda é cedo para recorrer a consultas de infertilidade; devem continuar a tentar ou dizem muitas outras coisas que só fazem revirar os olhos.
Referi já várias vezes que a minha relação com a infertilidade começou, de certa forma, em 1994. Tive a menarca aos 14 anos e desde aí deixei de menstruar. Fui ao médico de família que tinha na altura, que me disse que a amenorreia era normal, devia-se à minha idade e quando casasse a situação ficava resolvida (palmas para ele 👏). Achei inacreditável e logo que me foi possível, pedi à minha mãe para consultar uma ginecologista. Há profissionais de saúde (medicina geral e familiar e ginecologistas) avessos à realização de encaminhamentos que enrolam, enrolam, enrolam e não saem daquilo. Não estou a colocá-los todos no mesmo saco, tenho esperança que seja apenas uma minoria.
Relativamente à etapa em que já é traçado um plano no que diz respeito à técnica a usar, aconselho a leitura do seguinte documento:
Agora vem a parte dos truques e dicas.
Se, porventura, o combate à coisa ruim passar pelo uso de injetáveis (gonadotropinas), há algumas dúvidas que normalmente surgem.
Em primeiro lugar, não são baratos, apesar de serem comparticipados pelo Estado em 69%. A receita médica deve ter indicado algo do género "Despacho n.º 10910/2009, de 22 de Abril, alterado pelo Despacho n.º 8905/2010."
Outra questão frequente prende-se com a despesa que se vai ter na aquisição das injeções. O intervalo é variável, porque depende de cada paciente. No meu caso, como hiperestimulava, não podia administrar doses muito elevadas sob pena de ir conhecer outra dimensão diferente da terrena. Depende também do tipo de protocolo que se realiza (curto ou longo). Os valores podem variar entre os 300 e 550 euros (grosso modo) mas, como disse, não é muito linear.
Apesar de haver comparticipação, é possível comprar por um valor um pouco mais baixo. Uma das hipóteses é tornarem-se sócios da Associação Portuguesa de Fertilidade que tem protocolos com farmácias. Atenção que os protocolos não são iguais e deve estudar-se antecipadamente o mais favorável. A APFertilidade fornece a lista de empresas com as quais tem parceria. Outra possibilidade é terem descontos em farmácias parceiras do hospital ou clínica em que estão a realizar tratamento. De há dois anos a esta parte eu comprava as famosas picas na Farmácia Campus de S. João que faz 10% de desconto nas injeções cuja receita tivesse proveniência do HSJ. Os comprimidos consigo comprar também com desconto na Farmácia São João, na Circunvalação.
As injeções não estão à venda em todas as farmácias. No HSJ, por exemplo, fornecem uma lista com aquelas em que estão disponíveis.
Embora haja um número restrito de farmácias que vendem as gonadotropinas, é possível que num determinado dia estejam esgotadas. Aconselho a não entrarem em pânico imediatamente. Podem telefonar para outras farmácias para ver se têm stock; encomendar para aquele próprio dia e mais tarde recolher; caso seja impossível arranjar para o próprio dia (supondo que têm de começar nessa mesma data) há outra hipótese que é comprar uma embalagem com menos doses do que a receitada (têm de contactar previamente o médico para ser dada autorização), pagar o PVP da embalagem com receita suspensa e pedir ao médico que passe uma receita para aquela caixa, para que possam solicitar a devolução do remanescente, na farmácia onde fizeram a aquisição. Passei pelas três experiências que descrevi.
Aconselho que após a compra dos injetáveis se vá imediatamente para casa. Surgem muitas dúvidas sobre as condições de armazenamento. Alguns fármacos vêm já preparados, outros carecem de diluição. Para não haver equívocos, conservem sempre no frigorífico. Assim não há stress ou confusão. Se, por motivos de força maior, tiverem de estar fora de casa na hora em que a injeção deve ser dada, transportem-na convosco numa mala térmica com acumuladores de frio.
Alerta aicmofóbicos! As agulhas não são a coisa mais terrível da infertilidade. Vão ser as vossas melhores amigas, porque vos ajudarão a chegar ao objetivo supremo. Vejam isto como um mantra. Há picadas de inseto mil vezes piores. Ficarão surpreendidas por, na generalidade, não sentirem nada. Se me dessem a escolher entre dar injeções na barriga e aturar a gosmice do Progeffik a cada 8 horas, semanas a fio, não tinha dúvidas de que a minha escolha recaía nas agulhas.
As agulhas usadas não devem ser colocadas no lixo comum! Podem entregá-las numa farmácia. Aproveitei uma das caixas de Menopur para depositar todas as agulhas, seringas, frascos e cartuchos que irei entregar numa farmácia, logo que isto terminar, porque não tenho nenhum contentor de Resíduos Hospitalares do Grupo IV.
Não vou explorar os protocolos de administração, porque dependem do fármaco e vocês terão ensinos sobre o assunto. Organização vai ser palavra de ordem e devem arranjar-se os mecanismos adequados para tentar levar o processo num maior estado de calma possível. Usava uma tabela como esta abaixo para me orientar durante a estimulação. Não a elaborava a computador, era mesmo à mão, numa folha de rascunho. Só a fiz agora em formato digital para verem como a tinha estruturado. O Orgalutran ficava durante alguns dias com as linhas vazias e quando o iniciava, fazia coincidir a cruz com a data da gonadotropina usada. Imaginemos que quando começava o Orgalutran era altura de dar a injeção da gonadotropina do lado esquerdo, então o Orgalutran seria do lado direito.
Se tiverem receio de falhar a hora das injeções, programem o despertador do telemóvel. Isto também é válido para os comprimidos.
Os frascos ou cartuchos onde vêm as gonadotropinas têm um número de doses superior ao indicado na embalagem. Vamos supor que uma estimulação é feita diariamente com 150 UI de Puregon. A caixa comprada foi a de 900 UI. Teoricamente no 6.º dia o cartucho deveria ficar vazio, no entanto isso não acontece. Os médicos têm conhecimento disso e sabem quantas unidades adicionais traz. Ao prescreverem nova receita, caso seja necessária, têm em conta esse valor para não gerar tanto desperdício.
Relativamente aos comprimidos, como indiquei no post de ontem, aconselho que façam as compras de forma racional, embora seja mais trabalhoso. Imaginemos que uma receita tem duas caixas de Progeffik e o aplicam 3 vezes por dia. Cada embalagem tem 60 cápsulas que dão para 20 dias. Se estivermos a realizar uma TEC, desde o dia em que se começa o Progeffik até ao beta passam, no máximo, 20 dias.
A lista que se segue contém alguns fármacos que tomei e as quantidades em que são frequentemente comercializados.
Acfol - 50 comprimidos
Estrofem - 28 comprimidos
Progeffik - 60 cápsulas
Folicil - 20 ou 60 comprimidos
Zumenon - 28 ou 2x 28 comprimidos
Lovenox 40 - 6 seringas pré-cheias
Lepicortinolo (Prednisolona) 5 mg - 60 comprimidos
Cartia - 28 comprimidos
AAS 150 - 30 comprimidos
Por um lado queixamo-nos que o tempo é longo e parece não mais acabar. Quando um tratamento é iniciado recebemos muita informação, andamos com caixas e mais caixas de medicamentos e cada um tem uma altura específica para começar a ser tomado. Destinei um nécessaire apenas para PMA. Não quis misturar com os restantes fármacos que tenho em casa. Podem usar uma caixa, uma bolsa, um saco... mas acho importante separar do resto. Quando temos consultas, perguntam com frequência de que quantidades dispomos, para saberem se é necessário prescrever mais receitas. Então a próxima dica é, antes de cada consulta, contabilizar a medicação e anotar, se não se conseguirem lembrar.
Assim como já doei e ainda vou doar, também beneficiei de quem fez o mesmo no hospital. Não é invulgar precisar de apenas uma seringa pré-cheia ou um frasco de solvente. No HSJ e provavelmente noutros locais, há utentes que doam medicação sobrante dentro da validade, por já não precisarem. Perguntem à enfermeira se há algo que possa ser dispensado, são uns trocos valiosos que podem poupar. Lembro-me que me aconteceu de usar apenas uma seringa de uma caixa de Orgalutran que continha 5 unidades. Também me sobrou Decapeptyl 0,1. As próprias seringas ou agulhas ainda não usadas de canetas, podem ser igualmente doadas, se o hospital tiver necessidade e ainda estiverem dentro da validade.
No que diz respeito a colheitas de sangue, também há dicas! Numa eventualidade de terem de realizar colheitas com muita periodicidade, alternem os braços. Numa das gravidezes que tive com suspeita de ectopia, fiz 8 colheitas para medição de beta-hCG, a maioria dia sim, dia não. Aconteceu no verão, quando a minha pele está estupidamente sensível com o calor. Na maior parte das vezes, o sangue foi colhido do mesmo braço. Se as minhas veias tivessem capacidade para se exprimir verbalmente, gritariam por clemência. A reação alérgica era quase imediata. Outro aspeto que facilita a vossa vida: não deixem o penso rápido muito tempo na pele. Isso evita as alergias ao adesivo e ajuda a que a pele e os pelinhos não sejam arrancados por ter estado colado indefinidamente.
Estavam à espera de mezinhas sobre pés, frutas e massagens da fertilidade? Lamento desapontar-vos se era isso que procuravam.