Hoje o post é essencialmente sobre ela, a miúda que trouxe o mais belo dos sentimentos aos meus, aos nossos dias. Foi encontrada juntamente com um irmão na zona da Batalha, no Porto, indefesos, cegos de nascença, sujinhos, à sua sorte. Ela nasceu sem globos oculares. Teriam uns três meses quando alguém não lhes ficou indiferente e proporcionou-lhes alimento, cuidado e um teto onde pudessem experimentar uma vida diferente daquela que lhes estava destinada. Foram colocados para adoção, um casal amigo ficou com a miúda, mais reguila e comilona, o irmão foi para outra família. Quis o destino que eu não ficasse com ela logo que foi proposta para adoção, mas seis meses depois, tinha ela dez meses, acabou por entrar generosamente na minha vida. Tenho uma enorme gratidão por tudo o aprendi com ela e continuo a aprender. É verdadeiramente especial, de uma sensibilidade e ternura fora de série e, durante muito tempo, combinava todo o seu afeto e carinho com um lado travesso, inocente, de quem sabia muito bem como me fazer rir e admirar todas as capacidades que desenvolveu à custa da cegueira. É, atualmente, a gata mais velha que tive. Tem 14 anos e, desde há uns dois anos e qualquer coisa os hábitos traquinas foram desaparecendo, dando lugar a uma dependência ainda maior do nosso colo, carinho, descanso. Já não procura objetos para brincar, nos poucos momentos brincalhões ela praticamente exige a minha participação. Às vezes tento estimulá-la para ser mais ativa, nem sempre tenho sucesso. Se for para mimo está tudo bem. Ela mesma retribui com massagens, abraços apertados, turras, esfoliações intensas no meu rosto, temos momentos a duas de grande cumplicidade. Quando se deita em cima de mim, agora sente necessidade de pousar o focinho sobre o meu rosto. Antes bastava-lhe ter as patinhas a tocar-me na cara. Algumas rotinas mudaram, já não tenho uma sombra a acompanhar cada passo que dou. Estar deitada é a sua ocupação quase plena. Sempre que montava a árvore de Natal tinha a minha assistente em ação, a entrar e sair do túnel onde a árvore fica empacotada, a testar a qualidade dos ramos com a boca, a roubar uns elásticos, a personalizar a decoração da árvore retirando elementos que achava excessivos, a espalhar pela casa as provas dos seus crimes durante as semanas em que o elemento natalício ficava exibido na sala. Há dois anos começou a deixar a árvore descansar no seu canto, mas a parte da entrada e saída da embalagem ainda continuava, no dia da montagem. Hoje nem sequer acordou em toda a preparação da árvore. Entristeceu-me fazer essa constatação. Fisicamente não são ainda notórios sinais significativos do envelhecimento. A cor da pelagem está praticamente igual, a densidade do pêlo talvez esteja um pouco mais reduzida. Os bigodes já não são tão longos e as suas gengivas estão praticamente despovoadas. Tem dois pequeninos dentes superiores e um pequeno molar que me parece também brevemente cair. No que toca aos dentes, os problemas começaram cedo. A mãe dela deve ter tido uma gravidez miserável. Por possivelmente sentir desconforto na boca desde novinha, nunca vi a minha menina mastigar os alimentos. Habituou-se a comer como se engolisse comprimidos, um a um. Tirando a falta de olhos que nunca foi um drama para ela, os problemas dentários, uma infeção urinária e três deslocamentos de rótula resolvidos em minutos, a saúde dela tem estado bem. Daqui a dois meses vai fazer novamente análises para ver se continua tudo em ordem. Estou consciente de que ela está em idade geriátrica, mas continua a ser para mim a minha menina, a quem quero proporcionar tudo o que está ao meu alcance para que seja feliz e saudável. O seu coração maravilhoso continua a ver com a clareza de sempre e espero que continue a bater forte e certo, durante muito tempo.
Um grito mudo de alguém que viveu no submundo da INFERTILIDADE e (spoiler alert!) - acabou por mudar de rumo
domingo, 30 de novembro de 2025
sábado, 27 de setembro de 2025
Espera na ULSM
domingo, 7 de setembro de 2025
Deve ser em breve
Penso ter já referido que tenho um inquilino dentro de mim que anda a importunar-me há bastante tempo. Está a ser cada vez mais inconveniente, pelo que está mais que na hora de livrar-me dele. Tenho consulta de cirurgia gástrica agendada para o dia 24 deste mês e espero que a colecistectomia seja o mais breve possível. O calhau é grande, a má disposição surge mesmo que coma uma simples peça de fruta, faça uma caminhada mais vigorosa ou pratique aquagym. Acordo por vezes, de madrugada, com uma dor surreal na zona epigástrica, que dura uns minutos. A agonia tira-me o discernimento para perceber durante quanto tempo, em média, persiste aquele sofrimento que parece uma espécie de cãibra exacerbada sem contração de músculo algum. Da mesma forma que surge, sem aviso prévio, desaparece. É deveras estranho. A primeira vez que aconteceu estava sozinha, o meu marido estava a trabalhar de noite e, por sentir a dor muito próxima do coração, fiquei bastante assustada. Nessa altura já tinha alguma desconfiança de que pudesse ter uma pedra na vesícula, mas ainda não associava os sintomas.
Entrei para a lista de espera de consulta de cirurgia no dia 21 de janeiro, a minha médica de família dizia, confiante, que seria operada em menos de 6 meses, mas o Hospital Pedro Hispano está numa realidade diferente. Tenho esperança que em outubro seja submetida à laparoscopia para me sacarem este órgão. Não sei o que se seguirá, os organismos têm respostas diferentes às colecistectomias, espero que a minha qualidade de vida melhore.
Wish me luck!
sábado, 28 de junho de 2025
Praticamente 5 anos, já?!
Sim, daqui a um mês terão sido completados 5 anos desde o fim do período mais estranho e exaustivo que vivi. Pode parecer contraditório, mas ainda bem que terminou.
O futuro pós vida ativa é, cada vez mais, um tema sobre o qual nós os dois não estamos nada alheios, por várias razões. Dá-nos força para tentar ir aproveitando o tempo o melhor possível, enquanto não temos condicionamentos. Por outro lado continuamos a organizar-nos para sustentar reviravoltas que sabemos bem que não acontecem só aos outros.
Penso que nunca partilhei aqui, mas a velhice apoquenta-me. Não na perspetiva física ou da minha imagem. São o declínio do discernimento, da capacidade de percepção que me assustam. Gostava de conseguir manter-me sempre lúcida, de pés assentes na terra.
O meu marido diz muitas vezes que vai durar até aos 150 anos. Já lhe disse outras tantas que não quero acompanhá-lo em tal façanha se no percurso estiver privada de qualidade de vida, ao nível da saúde, e/ou a ser um fardo para alguém. Sei que só tenho 45 anos e para muitos não faz sentido pensar já neste assunto. Para mim é algo natural.
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Uma luta solitária
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Um estudo de enorme relevância
Tenho vindo a enfatizar ao longo dos anos a extrema importância da investigação. Está a ser desenvolvido um estudo que necessita de participantes, não é pedido nada de extraordinário e pode ter um impacto gigante nas perdas gestacionais recorrentes.
Infelizmente não posso contribuir, mas há tantas mulheres que o podem fazer!
A informação relativa a este estudo pode ser consultada em https://sigarra.up.pt/fmup/pt/noticias_geral.ver_noticia?p_nr=95639
Divulguem o máximo que conseguirem.