terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

De cabeça mais fria

Há uma semana estava furiosa comigo, apesar de hipoteticamente estar preparada para o resultado do beta. Ouvir da boca da médica a validação de mais uma derrota, ateou a brasa que estava meia latente em mim, desde o dia do teste. Fruto de ironias da vida com que tenho sido surpreendida algumas vezes durante estes anos, fiquei nos dias seguintes ainda mais na fossa. Dei por mim abjecta e desabei. Os episódios em que liberto as minhas emoções são cada vez menos frequentes mas têm sempre em comum a enorme desilusão por todo o meu esforço se traduzir em vazio. Atrás de cada tentativa que realizo há muita ponderação, cedências, sacrifícios, escolhas, cálculos, projeções no futuro. Acho que mesmo no início não encarei os tratamentos com inocência, talvez por estar consciente quase desde sempre de que necessitaria deles. Não houve momento algum, em tudo o que envolveu esta caminhada, em que me tivesse atirado de cabeça. Findo este tempo vejo que a racionalidade não me serviu de nada.

Estou a fazer um exercício mental para não sair disto arrependida e considerar todo o nosso esforço como o pior desperdício. Admito que atualmente é difícil não pensar nisso.

Se sair daqui como comecei quero ter oportunidades para redescobrir-me. Não poderei recuperar o tempo que dediquei ao que fora um sonho. Vou começar de novo.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Beta - TEC 8

O negativo confirmou-se. Sendo um embrião com análise genética feita, a probabilidade de correr bem disparava para os 50%. Como ovelha negra que sou, claro que não ia ser favorável para o meu lado.

A preparação para a próxima TEC vai ter por base um estudo em que farei pílula ininterrupta durante algum tempo. Agora suspendo a medicação, virá a hemorragia de privação e inicio uma embalagem de pílula (Gynera). Nessa primeira fase de pílula tomarei os 21 comprimidos e farei em seguida a pausa de 7 dias. Finalizo depois com 5 ou 6 semanas de pílula contínua e após a suspensão, no 5° dia do ciclo, começarei o Estrofem para espessar o endométrio. Não será necessário fazer ecografia no início do ciclo, porque os ovários estarão dormentes.

Fiquei abatida, apesar de já saber o resultado de antemão. Pesa-me que seja só no final de abril ou em maio que vou fazer a próxima TEC. Estou saturada.

Tenho zero expectativas sobre o que se avizinha, é mais forte que eu. Não sei como é que aquela mica a abarrotar de folhas no meu processo, ainda aguenta mais papel. Olho para ela e revejo-me: empanturrada de desilusão.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Dia 14 - TEC 8

Sinto alívio por finalmente estar a chegar o dia do beta. Esta TEC começou com uma má interpretação da enfermeira relativamente à preparação do ciclo, depois houve um atraso na chegada da hemorragia de privação, seguiu-se um período de recuperação da asneira apontada no processo com uma toma mais prolongada de Estrofem. Reunidas as condições necessárias para o endométrio estar pronto para receber o mini-nós número 13, o pequeno pôde finalmente conhecer-me. É a partir daí que as coisas correm mal, transferência após transferência. Separadamente está sempre tudo bem, o problema é quando nos juntam. Já me passou muitas vezes pela cabeça que se os embriões tivessem sido transferidos noutras mulheres, haveria finais muito diferentes daqueles que tive.

Tantas vezes desejei que fosse descoberta a causa, mesmo que esta significasse uma sentença irreversível. Ajudaria a assentar as ideias. O problema da inexplicabilidade é que há uma porta que fica entreaberta o suficiente para que nos digam que a única solução é tentar enquanto houver possibilidade para tal. Depois disso cada um decide o que continua a ser razoável e quando deixa de o ser. O limite que impus para mim pode ser um exagero para uns e insuficiente para outros. Quantas vezes leio em fóruns que não se deve desistir? Depois de tudo o que atravessei, discordo. Vou DESISTIR quando esgotar os embriões que me restam e não sinto remorsos nenhuns. Quero ter tempo para resgatar o meu eu que ficou perdido.

Dia 13 - TEC 8

Lá vou suportando as dores no ventre que vão dando um ar da sua graça e todo o peso que carrego no peito. Está quase a terminar a espera, agora só quero saber quando é que volto ao ataque.

Apesar da dureza do negativo, mantenho a minha "preferência" por este tipo de resultado. Ando raivosa durante uns dias mas depois fico com mais ganas para avançar. As minhas estranhas experiências com gravidez corroeram-me lentamente, fizeram-me viver numa dimensão paralela em que parecia espectadora de um filme metafísico do qual eu fazia parte do enredo. Foram fases desesperantes, pela falta de controlo do meu próprio corpo, porque ele simplesmente decidiu aniquilar-me da forma mais cruel.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Dia 12 - TEC 8

Depois da confrontação de ontem, perdi o interesse no meu estado. Continuo, contudo, a cumprir o plano medicamentoso e os mesmos cuidados, como se permanecesse na mais completa ignorância. Quero acabar com esta farsa rapidamente. O faz-de-conta-que-estás-grávida deixa-me revoltada. Podiam ter agendado o beta para mais cedo, era melhor para a minha sanidade mental. Ando com as mamas doridas, as dores no útero uma vez por outra, a iludir o meu corpo numa brincadeira sádica. Apesar de furiosa pelo facto de nem os embriões euploides quererem conexão comigo, os dois resistentes que estão no fresco vão ter de levar com esta mula teimosa.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Dia 11 - TEC 8

Sonhei com o raio do teste, o resultado tinha sido positivo para minha surpresa.

Quando foi hora de acordar para a realidade do dia a dia, fui enfrentar o demónio. Detesto aquilo, não há meio de me sentir serena a submeter-me ao teste à minha competência para acolher vida. O dispositivo diabólico era daqueles que tem sensibilidade mínima de 25 mUI/mL, em que se tem de aguardar 5 minutos para sermos rotulados. A linha de controlo é sempre despachadinha a exibir-se, já o resto... Não há dúvidas, é um inequívoco negativo. Nem dá para perceber onde deveria aparecer o segundo traço-maravilha. Odeio-me! E odeio-me ainda mais por o meu corpo ser tão responsivo a efeitos secundários da medicação que agora só vão desaparecer totalmente quando menstruar.

"Basta um", o tanas! Nem com 13 vou lá. Agora mantenho-me a ferver por dentro até segunda-feira, depois vou ficar a fritar quando souber em que altura será a próxima TEC.

Cumpriu-se o negativo da primeira transferência da nova estimulação. Aguarda-me uma bioquímica na TEC 9. Bye bye maternidade aos 40 anos!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Dia 10 - TEC 8

Vou tendo pontadas uma vez ou outra. Amanhã de manhã vou tentar não me esquecer de fazer colheita de urina para realizar o teste. Estou descrente, não consigo evitá-lo. É difícil acreditar que algum dia seja contemplada com algo diferente que não a desilusão. Passei tanto tempo a tentar fintar a minha natureza infértil, que atualmente acho que não sou capaz de enfrentar algo além do que há de mau neste tipo de percurso. Não estou formatada para ser surpreendida pela positiva. Coloco-me sempre na defensiva, como se fosse aliviar a desilusão que sinto comigo mesma.

Considerando um cenário hipotético em que o teste mostra uma segunda risca, não darei por garantido o final feliz. Será um minúsculo passo apenas.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Dia 9 - TEC 8

Encontro-me na segunda parte deste período de dúvida. É estranho mas não parece que é a oitava vez que estou a passar por isto. Quando hoje regressava do trabalho, estava a pensar quantas vezes repeti o ritual de colocar Progeffik, de não me esquecer de tomar toda a medicação, do incha e desincha resultante da ação das hormonas e achei melhor parar as estimativas. São demasiadas, muitas mais do que algum dia supus. Acho que não estou a analisar de forma errónea quando chego à conclusão que o meu percurso não é, de todo, comum. Não me classifico como uma Special One da infertilidade. Não me vanglorio pelo que tenho atravessado. Só queria ser "normal". Por outro lado, como em tudo na vida, há sempre casos muito piores do que o nosso. Contudo, ambicionamos ao longo da existência que os projetos nos corram de feição. Não gosto das coisas caídas do céu, até prefiro que deem alguma luta. Neste contexto acho que fui muito castigada e poderá ser um abre olhos para me mostrar que, não somos invencíveis. Há situações que ficam fora do nosso alcance por muito que lutemos e o grande desafio é saber ultrapassar, traçar novas metas. Neste final de viagem encontro-me a realizar uma reflexão sobre essas metas. Pretendo minimizar um possível vazio existencial após o fim desta história e tornar-me mais útil do que aquilo que me tenho sentido nestes anos todos.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Dia 8 - TEC 8

Fui acometida por várias pontadas profundas no útero, que duram uma fração de segundos. As mamas estão ainda maiores, doridas ao toque mas o que realmente me incomoda é a gastrite. O Estrofem dá-me cabo do esófago. Andei bem durante muito tempo mas sempre que começo a fazer uma preparação para TEC a desgraçada da inflamação renasce das cinzas atormentando-me dia após dia. Vivo em estado permanente de dor ao longo de todo o esófago.

Decidi que vou realizar o teste na quinta-feira e não antes, porque tenho habitualmente valores baixos de beta. É quase preciso apelar à imaginação para ver uma segunda risca. Se estivesse a ser acompanhada noutro sítio teria indicação para fazer a análise entre quarta e sexta. Como é apenas daqui a uma semana, faço então na quinta o teste de urina. Acho que nessa altura será um resultado mais consistente que duvidoso.

Seja positivo ou negativo, só daqui a uma semana irei perceber o que me aguarda. O beta quantitativo dar-me-á uma primeira resposta.

Estou a tentar desapegar-me e levar isto numa vertente prática. Agora sou eu que quero transformar o processo numa linha de montagem para não pensar muito no assunto. Na realidade não tenho pensado mesmo, pois aquilo com que me tenho deparado no trabalho deixa-me perplexa e a refletir seriamente sobre o que pretendo fazer num futuro muito próximo.

Dia 7 - TEC 8

Alvo como só ele é quando sai do blister, o Progeffik continua assim nos resíduos que deixa. Por mais que o meu cérebro diga "Isso não quer dizer nada. Há tanta gente que não tem perdas antes do beta e está grávida, tu mesma passaste por isso da primeira vez.", é muito difícil manter o otimismo.

À semelhança do que acontece no futebol quando há um clássico e se fazem estatísticas sobre as vitórias históricas de A ou B, na "casa" de uma equipa ou de outra, também me vejo a fazer o meu próprio estudo dos negativos e positivos e em que circunstâncias ocorreram. Por exemplo, as primeiras transferências de embriões de diferentes estimulações (TEC 1 da FIV 1 e TEC 6 da FIV 2) acabaram em negativos, vamos ver se agora será também assim. As segundas transferências dessas estimulações (TECs 2 e 7) resultaram em gravidezes bioquímicas.

Se realmente se confirmar que a única coisa que se passa comigo é a alteração hormonal provocada pela medicação, restam-me duas possibilidades, uma ou nenhuma. Esta TEC poderá ser a última hipótese que tive. Tudo depende da descongelação dos embriões.

Quinta-feira sou capaz de usar aquele teste que comprei na altura do atraso, depois de ter tomado o Provera.

Se o negativo for confirmado no dia 17, gostava que a próxima transferência fosse realizada nos próximos 2 ou 3 meses. O limite cronológico que desejo para finalizar esta história é o termo do ano letivo. Estou num dilema em relação ao meu futuro profissional. Não tirei da cabeça a ideia de voltar a estudar no ensino superior e se o assunto da infertilidade ficar encerrado até lá, tenho ainda possibilidade de me candidatar a alguma coisa, se entender que parte do meu caminho é por aí. Há em mim desejo de mudança, de fazer algo mais consistente do que aquilo que tenho realizado, em que me sinto completamente descartável, por cronicamente estar a substituir pessoas. O mercado de trabalho é mesmo isso, servir-se de pessoas, eu sei. Mas nos moldes em que tenho trabalhado é por demais evidente.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Dia 6 - TEC 8

Mais um dia a riscar no calendário (menos um até ao dia B). Nada de relevante a assinalar, exceto algumas náuseas que vão dando o ar da sua graça, principalmente a partir do final do tarde. O Estrofem tem destas coisas e só não são mais intensas, porque em vez de o tomar em três períodos do dia, faço 1 comprimido de manhã e 2 à noite, a conselho das médicas. Não tive pontadas no útero ou outro tipo de manifestação.

Os pólenes esses, andam à solta, o meu nariz que o diga. Fazem-me a vida negra...

Ainda não vou a meio desta fase, apesar de achar que estes dias até passaram rapidamente.

Tenho de preparar mais material para a semana que está a chegar. Espero que consiga daqui em diante executar o meu trabalho sem mais improvisos. Além da carência de informações sobre o que fora executado até à minha chegada, constrangimentos de ordem técnica fizeram-me pôr em prática planos B e C, por prever que os mesmos fossem aparecer. A integração plena ainda vai demorar algum tempo, se calhar nem se vai dar, porque paira sempre no ar o caráter temporário da minha colocação. A esta substituição podem seguir-se várias outras até ao fim de maio, em diferentes locais.

Dia 5 - TEC 8

A primeira parte do período pós-transferência é habitualmente monótono. Não se percebem mudanças de relevo, até porque o efeito da medicação demora uns dias a manifestar-se. Hoje comecei a sentir aquelas pontadas fortes no útero, quando me levanto, e já reparei que este efeito secundário foi mais frequente quando fiz três comprimidos de Estrofem em vez de dois. Chamo-lhe efeito secundário, porque em situações de resultado negativo era igualmente importunada por ele.

O estado de espírito durante a espera pelo beta sofre várias ambivalências. Após o nosso pequeno mundo ser colocado dentro do corpo sente-se alegria, otimismo e esperança. No dia seguinte continuam a lua-de-mel, o sentimento de que é muito cedo para perceber o que quer que seja e a vontade de que o embrião ainda esteja de boa saúde. Nos 3/4 dias seguintes começam os pensamentos relacionados com a nidação. Inicia também a fase de inspecionar cada ida à casa de banho, cada colocação de Progeffik para ver se os resíduos saem brancos ou de outra cor. Procuram-se dores e sensações em cada movimento. A cabeça ora está esperançosa, ora acha que não vai passar de mais um negativo. Depois vem para mim a barreira das perdas. Sempre que surgiram foram sinal de gravidez, por isso se no domingo, no máximo segunda-feira não aparecer nada, será difícil manter-me otimista. Nos 2/3 dias que antecedem o beta a única vontade é de desvendar o mistério, porque o nosso coração precisa de encerrar processos. Quando os resultados foram negativos queria menstruar o mais rápido possível para o corpo normalizar, como forma de luto. Nos positivos, que sufoco! Nunca cheguei a ter o espírito naïf com flores a desabrochar, passarinhos a piar e arco-íris a enfeitar o céu, só porque tinha atingido um positivo. O tapete foi-me arrancado desde logo, positivo atrás de positivo, só para ver que o mundo está longe de ser perfeito. Se voltar a estar desse lado da barricada terei de continuar a manter-me firme, por piores que sejam os prognósticos, não tenho outra alternativa.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Dia 4 - TEC 8

Acho que aquela pequenina perda de ontem deve ter sido algum resquício resultante da realização da TEC. Hoje não apareceu nada. A progesterona está a começar a atuar nas mamas. Lá vou eu ficar ainda mais insuflada do que o habitual...

O fim de semana será a altura em que poderei ter sinais visuais de alguma implantação, se se repetir o comportamento das três gravidezes anteriores (na primeira não houve sangramento de nidação). Ficarei com a noção do sucesso ou fracasso desta transferência. Ou não... Por enquanto penso que estou calma em relação a este tema da TEC, até porque atualmente não tenho muito tempo para pensar no assunto. A minha animosidade vai estar fortemente influenciada por aqueles dois diazinhos. Falta pouco para esse marco!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Dia 3 - TEC 8

O embrião era de 6 dias, no entanto não sei a razão que levou a médica a considerá-lo como sendo de 5. Hoje tive uma pequena perda acastanhada. É muito cedo em comparação com as TECs anteriores, mas atendendo ao número de dias do embrião, a dar-se o início da sua fixação, é nesta altura que deverá começar. Há uma pequena esperança dentro de mim que me acalenta por parecer um bom sinal, contudo não me posso esquecer que outros fatores podem justificar esta perda hemática tão precoce. Tenho de descer à terra e evitar conjeturas sob pena de me desiludir daqui a uns dias.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Dia 2 - TEC 8

Estou a escrever de fugida, porque encontro-me assoberbada de material a preparar (um pouco às escuras, diga-se de passagem) para amanhã. Aceitei a colocação e agora toca a trabalhar sem qualquer informação deixada por quem estou a substituir, como tem sido habitual. Como as burocracias em papel vão sendo mais reduzidas com o passar dos anos está-se cada vez dependente de acessos virtuais. Estes, por sua vez, exponenciaram a quantidade de "papeis" e "papeizinhos" usados para analisar e fundamentar o útil e o inútil. Os dados de utilizador que eu tanto aguardava durante o dia, que me possibilitariam ter algumas luzes do que foi realizado, não foram enviados. Amanhã vou arrancar com suposições e certamente terei de improvisar, comme d'habitude. Em circunstâncias normais diria que o horário é péssimo e do mais ridículo possível. Em termos de compatibilidade com os horários do hospital, é bastante razoável, por isso o aceitei. Mas não deverá estender-se além de 30 dias.

O meu número 13 poderá estar ainda a gozar de boa saúde, nem tenho tempo de pensar nele. Quero que o dia 17 chegue rapidamente.

Vou agora continuar a trabalhar, sabe-se lá até que horas. O mais provável é que não sirva para nada, porque vou chegar à conclusão que estou a dar um tiro ao lado.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

TEC 8

Aqui estou acompanhada do meu mini-nós número 13. Descongelou muito bem e tinha ar promissor. A luz foi ainda mais brilhante que o habitual.

Hoje vou estar sossegadinha, ao contrário de amanhã de manhã em que tenho uma decisão a tomar. Vou apresentar-me numa colocação de trabalho de que tive conhecimento na sexta-feira passada. Consoante as informações que me derem terei de decidir se avanço, havendo inclusivamente a hipótese de começar, passados uns minutos, a exercer funções. Não é a primeira vez que isto acontece. Trata-se uma situação temporária, em que ainda não sei a sua duração. Há uns anos rejeitei, pois no dia seguinte à apresentação teria de faltar, nessa mesma semana iria ausentar-me novamente e alguns dias mais tarde outra vez o mesmo. Coloquei-me na perspetiva de quem aguardava por alguma estabilidade e senti que moralmente estaria a falhar.

Andava a pressentir que isto ia acontecer. No ano passado, que tive um longo período sem tratamentos, não fui confrontada com uma colocação. Desta vez, em que poderia gozar de alguma calma até saber o resultado do beta, estou em contrarrelógio. Tenho hoje e amanhã para me apresentar e decidir se avanço ou não. Posso pedir baixa mas, mais uma vez, se coloca a questão do absentismo. Só poderá ser recrutada outra pessoa para me substituir se a baixa for de 30 dias. Até lá há muita gente que fica pendurada. Outra hipótese é trabalhar, com todo o stress de ter muita coisa pronta para ontem, ambientar-me a um local novo e pessoas novas e faltar as vezes que forem necessárias nos próximos tempos. Por fim, resta-me a solução de há uns anos, que é simplesmente rejeitar, arcando com as consequências de não ter mais possibilidade de obter outra colocação durante este ano letivo. Se o resultado for negativo, procuro trabalho, mesmo que seja noutra área que não a minha. Não tenho problemas com isso, falta é quem esteja disposto a aceitar alguém que não tenha experiência. Caso engravide, independentemente do local onde possa estar a trabalhar, tive já indicação de que a minha gravidez será considerada de risco.

Gostava de não ter de pensar nisto nesta altura mas não seria a minha vida. Estou destinada a estas pontarias do destino.

Dia 17 faço beta. Por enquanto sinto-me neutra, até ao dia de amanhã tenho oportunidade de tentar manter a serenidade.