sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

7 anos de casinha virtual

Criei esta casa virtual dois meses depois de me ter mudado para o lar que comprei. À semelhança do meu cantinho, localizado num sítio que adoro, e onde me sinto bem, também aqui o espaço é aconchegante. A minha casa física, tal como o blogue, anda a precisar de algumas melhorias, mas esse boost está dependente do papel pelo qual estou a lutar com afinco, que me permitirá encontrar a dignidade laboral que ficou perdida no passado. Quero sentir-me novamente autossuficiente, desespero por rotina (que achava aborrecida quando era mais jovem), necessito de tomar rédeas à vida e usufruí-la. Suprir o essencial, qual tamagoshi, tem sido o mote que me tem guiado desde... já nem me lembro.

Não ambiciono megalomanias, nem acho que tenha perfil para isso. Sou básica, na realidade. Há duas coisas que gostaria de concretizar, desde muito novinha e apesar de estar a um passo dos 43 anos, sinto que teria capacidade de realizar. Uma é aprender a tocar piano e outra é ser fluente em mais uma língua. Os meus pais não tinham possibilidade de suportar esse tipo de atividades. O meu percurso profissional, por outro lado, passou por uns dois ou três altos que eu sabia serem perenes, então aproveitei para criar uma almofada para os muitos baixos que surgiram. Priorizei o essencial. Tive entretanto perto de uma década de incerteza quando me entranhei na infertilidade, deixei de existir e mergulhei no improviso.

Ontem fiz uma visita, através do Google Maps, à pequena vila a 77 km a norte de Paris, onde vivi até aos 8 anos. Ainda sei os trajetos que fazia para ir para o Jardim de Infância e as escolas que frequentei, às padarias onde ia com o meu pai ou com a minha mãe, ao jardim público, à piscina municipal que me deixou com fobia durante mais de 20 anos, ao hipermercado... Lembro-me da neve chegar pelos joelhos e mesmo assim íamos para a escola, com calçado adequado para o efeito. A torre onde habitava, que era recente e imponente, apesar de pertencer a projetos de custo acessível, está atualmente desoladora. Há anos que se prevê a sua demolição. Gostava de lá voltar, há um aeroporto próximo, mas acho que iria ficar abatida. É mais uma das coisas que está latente, embora tenha esperança de que vou cumprir.

Quero fazer voluntariado numa associação de apoio a animais de uma forma regular. Quero voltar a fazer exercício na água. Na temporada de 2019/2020 frequentei aulas de hidroginástica e hidrobike até ao lockdown. Tinha estado alguns anos sem fazer atividade física na água, sabia que dali a pouco tempo ia finalizar os tratamentos e no final da primeira aula, na parte do relaxamento, a professora pôs a tocar a música Everglow dos Coldplay. Enquanto fazia os alongamentos as lágrimas começaram a correr pela minha cara. Tinha uma necessidade extrema de libertação e só me apercebi nesse momento.

Desta vez o post é sobre fazer o que ainda não foi feito. A fobia que adquiri na "natação", ainda em França, porque naquela altura não conseguia sequer flutuar, dissipou já eu tinha perto de 30 anos. Aprendi a nadar, era algo que sempre quis conseguir executar e transmite-me uma paz inigualável. Voltei para o ensino superior e estou prestes a finalizar outra licenciatura. Aliás, não fecho portas a voos de outro grau. Tentei ser mãe com diferentes fórmulas que não tiveram magia nenhuma, mas apesar da dificuldade que sabia que iria ter, não baixei de imediato os braços. Adotei a minha menina de bigodes que me trouxe uma alegria tremenda. Certamente existirão mais algumas coisas, ainda que de pequena dimensão, que procurei não deixar morrer.

O desafio que coloco é dar outra profundidade às resoluções de Ano Novo. Aí desse lado, há alguma coisa, bem longínqua no tempo, que ficou aparentemente esquecida mas que tem potencial para tomar a luz do dia?

Um bom ano de 2023, sem procrastinação!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Ho! Ho! Ho!

Nada de muito relevante tem acontecido por cá. Continuo na ânsia de terminar o curso, posso dizer que já estou em contagem decrescente. No final de fevereiro começo o estágio curricular, ando na fase de candidaturas a empresas. Simultaneamente com o estágio teremos também 4 unidades curriculares. Um dia da semana será integralmente passado na instituição de ensino superior para prática laboratorial e em outros dois dias, após o estágio, haverá aulas pós-laborais.

Sobre aquele episódio estranho que relatei em post anterior, a hemorragia de privação surgiu no ciclo seguinte, a tempo e horas. No mês após a regularização libertei os coágulos que se tinham acumulado e, desde então, não houve mais nenhuma anomalia.

Daqueles dois amiguinhos claviculares, cá continuam sobre o osso. Já fiz duas ecografias, estão pequenos, não constituem perigo e são o meu recuerdo das vacinas para a COVID-19. Reportei a situação na página do Infarmed no início do ano e alguns meses depois fui contactada por via telefónica para dar mais detalhes sobre a cronologia e o encaminhamento dado. Regra geral não me incomodam exceto em alguns momentos, durante a condução, porque o cinto de segurança toca exatamente na zona onde eles habitam. Levei também como bónus da vacina um gânglio intramamário para fazer companhia ao que está na outra mama.

A minha miúda de bigodes fez 11 anos, está quase desprovida de dentição e continua a surpreender-me com as aprendizagens que faz. Não tem olhos (nasceu sem eles) e está a 3 ou 4 dentes de ficar só com as gengivas. Vão faltando cada vez mais peças, mas está quase como nova 😀 Não deixa de ser a ternurenta rufia que me faz admirar cada bigode que lhe cai, cada mio que dá enquanto sonha, cada ronco que faz ao ressonar como gente grande que é, cada espirro convincente que se ouve em toda a casa, cada pêlo espalhado em todo o lado, cada abraço que me exige, cada esfoliação facial que me faz, cada massagem vigorosa que executa, cada espera numa esquina para me desafiar, cada chantagem em que se tornou mais refinada, cada momento em que mostra que entende tudo o que lhe digo.

Depois de dois anos com um Natal a meio gás, vai voltar a reunião de famílias em minha casa. É o vigésimo que vou passar sem o meu pai. Questiono-me muitas vezes como seria se ele estivesse vivo.

Estou numa paz relativa, porque o queria mesmo era já estar com o curso concluído para viver novas aventuras. Não faço pedidos ao Pai Natal e as 12 passas que ingiro na passagem de ano vão vazias de desejos, porque as coisas não caem do céu.

Desejo muita saúde a quem está desse lado, mil e um motivos para sorrir e que não perca a capacidade de sonhar.

Bom Natal!