segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

6 anos de blogue

Apesar de ter sido o ano mais mortiço da minha atividade por aqui, não quero que este espaço desapareça. Desde que me embrenhei na mudança de rumo, cuja fase inicial é bastante preenchida e vai ocupar-me, à partida, ainda mais um ano e meio, será de esperar que farei publicações ocasionais em vez de mais regulares. O que seguirá depois será a confrontação com uma nova vida.

Digamos que este intermezzo de 3 anos está a ser a transição entre o Eu que viveu uma fábula durante uns anos e a pessoa que quer envelhecer com lucidez, autonomia e, se possível, a achar que até valeu a pena cá andar. Uma das expressões que o meu pai mais usava era "quando a vida correr melhor..." e lá ia traçando metas de pequenas coisas que desejava alcançar. Nenhuma chegou a acontecer, porque o tempo dele esgotou-se muito antes. Não partiu em paz, pois considerava que não conseguiu deixar tudo devidamente preparado para nos poupar ao máximo de preocupações de caráter burocrático. Além dessa frustração debateu-se com dúvidas relacionadas com a fé. Questionava-se durante a noite do sentido da existência de um Deus que permitia o sofrimento. O meu pai trabalhava muito, não era uma pessoa de frequentar a igreja nem de manifestar a sua religiosidade, mas todos os anos ia à casa paroquial deixar a sua oferta monetária, além daquilo que dava na altura da Páscoa. Já falei aqui que a criaturinha que lhe fez o funeral mostrou durante toda a cerimónia (e noutros momentos) uma falta de caráter inexplicável. Não bastava todo o sofrimento que sentíamos por perdermos o nosso pai, ainda tivemos de ouvir repetidas vezes, na missa do funeral "Quem morre sem crer em Deus, morre desesperado". Essa foi a barbaridade que mais me marcou entre as inúmeras que ele foi proferindo, sem nunca nos ter visto na vida. Não houve uma palavra de conforto ou sequer um discurso oco inócuo. Em todos os momentos em que ele falava fora do que era ritual de leituras e rezas habituais nas missas, manteve prepotência e maldade, em que me questionei se estava realmente a ouvir bem ou se era apenas impressão minha. No final de tudo, depois de uma crise de asma que tive à saída do cemitério e uma ida à farmácia para ir comprar um inalador, porque me tinha esquecido do meu em Évora (onde estudava), perguntei à minha irmã se ela prestou atenção àquilo que o padre disse na missa. Cheguei à conclusão que não foi impressão minha, e de facto, no tempo todo, a criatura não parou de fazer comentários desagradáveis, sem conhecer a minha família. Se eu sentia revolta por tudo o que estava a viver, o funeral multiplicou o sentimento. Três anos depois deparei-me noutra freguesia com aquele energúmeno e o registo manteve-se, com novos alvos. Dessa vez saí porta fora, que era o que devia ter feito no funeral do meu pai. O que me impediu na altura era que queria protegê-lo (não sei de quê, não havia nada a fazer) e ficar perto dele.

A volta que isto deu num post que deveria ser sobre a minha permanência, ainda que bastante adormecida, na blogosfera. Para mim, que comecei a sofrer de verborreia desde há alguns anos, não me compatibilizo com a fast info que as redes sociais atuais e aplicações de comunicação instantânea preconizam ou daquelas coisas que à moda da Missão Impossível autodestroem-se passadas x horas. Instalei com relutância o WhatsApp no mês de outubro, porque os meus colegas de faculdade dizem que é muito útil. A verdade é que não ponho de parte desinstalar no próximo semestre, porque não lhe vejo ainda grandes vantagens e uso maioritariamente no computador quando tenho de fazer relatórios em grupo ou projetos. Para já não me tem facilitado muito a vida e traz o inconveniente de funcionar apenas ligado à internet, apesar de ser usado o contacto associado à operadora de rede móvel. No meu telemóvel raramente ligo o Wi-Fi ou dados móveis, porque para mim o importante é ter bateria para poder usar para chamadas, SMS e situações de emergência. Uma carga no meu equipamento dura, no mínimo, uma semana sem o desligar durante a noite. O uso de internet no telemóvel suga a bateria de tal forma que deixa de se poder contar com ele quando há uma necessidade premente. Chamem-me de velha que não me interessa. Se um dia precisarem de fazer um contacto urgente e não tiverem bateria, powerbank para desenrascar ou outra forma de realizar uma chamada, porque estiveram a usar o telemóvel para navegar nas ondas cibernéticas, talvez se pense que net no smartphone não faz assim tanta falta. Não me senti tentada a ter conta no Instagram, Twitter e outras redes sociais que eventualmente existem. Tenho conta no Facebook, mas é quase o mesmo que não ter, pois a minha atividade é reduzida. As redes sociais podem ter ajudado a perceber como escrever é importante, mas não trouxeram milagres de escrita, nem maior discernimento para a interpretação de conteúdos. Não consigo avaliar se globalmente trouxeram mais coisas más que boas. Pessoalmente não vejo grandes mais valias, daí o meu desinteresse. A cultura do like e dislike trouxe muita artificialidade aos nossos atos quotidianos e uma falsa ilusão do que é a perfeição. Num blogue não há incentivo ao like, quem tiver paciência para ler só visita se e quando quer. As mensagens não se autodestroem a não ser que o administrador as elimine. À semelhança das outras redes sociais, não se geram milagres da escrita, também se podem expor vidas "perfeitas" e coisas sem interesse nenhum. Considero, contudo, que a procura por esses conteúdos é mais intencional do que se houver um conjunto de páginas reunidas num mesmo espaço em que se leva com um feed de notícias e algoritmos tendenciosos.

Sei que o que escrevo atualmente é algo que se encontra à deriva, deixou de estar direcionado a um tema concreto, ao contrário do que aconteceu desde a sua génese até há pouco mais de dois anos. Paralelamente à infertilidade aconteciam outras coisas que não eram aqui exploradas, o que é perfeitamente normal e nem tudo era pesaroso, felizmente. Deixei de ter um grande fardo, passei a ocupar-me de outros assuntos aos quais acrescem os efeitos colaterais dessa carga que mantive em cima de mim durante muito tempo. Não seria certamente a pessoa que sou atualmente se não tivesse aguentado tudo aquilo. Desencadeou novas fraquezas e outros pontos fortes, transformou-me para sempre e fez-me perder um pouco a curiosidade no que poderá acontecer futuramente. Logo se vê o que virá.

sábado, 11 de dezembro de 2021

Dos linfonodos

Desde que um grupo ligado ao ramo da saúde se apoderou de praticamente todas as clínicas que faziam exames complementares de diagnóstico aqui no norte, qual polvo, para se conseguir marcação de algum exame espera-se uma eternidade. A requisição passada pela médica tinha ecografia às partes moles (clavícula esquerda), esta não é comparticipada e também ecografia mamária, uma vez que os gânglios do lado esquerdo que drenam aquela zona tinham inflamado aquando a segunda dose. Cinco meses passados, seria de esperar que os linfonodos da clavícula deixassem de se sentir, certo? Errado! Ainda aqui estão, uns dias maiores outros mais pequenos, indolores, sobre o osso. Não sei se a origem deles é supra ou subclavicular. Arranjaram morada ali e por lá estão a fazer usucapião.

A data mais rápida que consegui há uns meses foi ontem, em Gondomar, e depois de procurar a clínica sem que nenhuma morada ou coordenada de GPS batesse certo, lá dei com o sítio, com o tradicional perguntar a alguém.

Confirma-se então a presença dos dois gânglios na clavícula esquerda e um gânglio "bónus" intramamário, desse lado. Só me apercebi da existência dele quando o ecógrafo passou por cima e senti bem que ele lá estava. Aparentemente estes ocupantes deslocados não inspiram cuidados adicionais. Em relação à mama direita nada foi dito. Quando em março fiz ecografia mamária e mamografia, foi detetado um gânglio na mama direita e nada na esquerda. Aguardo o relatório e depois volto a consultar a minha médica de família. Desde há umas três semanas, de vez em quando, há um gânglio supraclavicular do lado direito que gosta de mostrar que anda aí. Tenho de estar de olho nele também.

Nestes meses de silêncio, além do trabalho que o curso exige, da gestão do dia-a-dia com várias coisas em simultâneo, tenho andado a controlar as bolinhas que vão aparecendo no meu corpo, tratar de outra coisinha de que falarei daqui a uns tempos e ainda não me livrei totalmente dela e a mais recente, um acidente há quatro dias, em que uma alma distraída ou a olhar para algum ecrã de telemóvel enquanto conduzia, só parou o carro dela quando foi contra a traseira do meu. Tem sido deveras emocionante (sqn).

Anseio pelo dia em que o curso termina e espero verdadeiramente que seja daqui a uns 19 meses. Seguir-se-ão outras etapas, mas sinto uma necessidade enorme de dar um grande salto.

Apesar de 24 horas serem pouco para o que tenho a fazer diariamente, continuo a despender uma parte considerável dos meus pensamentos na tortura passada. É mais um conjunto de devaneios que acumulo, além da morte do meu pai, embora já tenham passado praticamente 19 anos. Tornou-se uma espécie de pacote que faz parte da minha rotina, não acrescenta nada de útil às necessidades diárias, mas cá anda a ocupar-me a mente.

Daqui a um mês e um dia faço 42 anos. Há alturas, contudo, em que parece que parei no tempo, pouco evoluí em vários setores ou até mesmo regredi. Eu não era uma pessoa propriamente sonhadora em relação a planos para o futuro. Não defini uma lista de objetivos como há quem faça. Idealizei poucas coisas e nada do que tem acontecido se assemelha ao que alguma vez imaginei. Tem dias em que me irrita ser adulta, enerva-me ter de tomar decisões, canso-me de mim mesma, questiono o sentido do que faço. Se calhar toda a gente tem um ou outro momento em que sente isto, mas no fundo sou uma privilegiada em muitos aspetos, é nisso que tenho de me focar.