domingo, 29 de dezembro de 2019

4 anos na blogosfera

Este pequeno espaço completou 4 anos. Ao colo tenho a minha fã incondicional de farta pelagem, longos bigodes e autora de turras brutas e desajeitadas (que eu adoro). Neste colo continua a existir muito espaço. Ela não precisa de o partilhar com mais ninguém. Contorce-se até ficar de barriga para o ar, feliz por estarmos a ter um dos muitos momentos que são apenas nossos. Ela sentiu algumas das minhas gravidezes. Tem a mesma idade da minha luta. Quero envelhecer com ela ao meu lado. Quero que ela continue a ser feliz e saudável. Quero que mantenha a sua jovialidade e permaneça na missão de me desafiar diariamente para a traquinice. Que se esconda atrás do arranhador, cortinas ou portas. Que fique numa esquina da casa a fazer-me esperas, aquela bandida. Desde sempre sou fascinada por gatos. A minha miúda é fora de série, um dos melhores presentes que a vida me ofereceu.

Sou eternamente grata por a ter comigo mas não esqueço que a vida que ma trouxe é a mesma que me arrancou os meus filhos de dentro de mim; que não me deu oportunidade de conhecer outras formas de extravasar a emoção do peito; que não deixa a minha gata partilhar o seu calor e ternura com uma cria vinda de mim.

Há 4 anos ainda estava longe de saber o que iria suportar. Achava que muitos acontecimentos marcantes iriam ocorrer quando chegasse a 2020. Afinal de contas o tempo voou. Não houve muitas alterações com o passar dos anos, porque o foco persistiu, limitou e congelou a existência.

Tentei manter o objetivo do blogue. Sei que há muito conteúdo repetitivo mas quando parece que é dado um passo em frente, logo em seguida são dados dois para trás. Apercebi-me que a minha capacidade de síntese que tanto gostava enquanto estudava se transformou em verborreia. Este exacerbar de palavras pode afugentar quem possa ter alguma curiosidade em ler o blogue. Escrever tem atualmente, para mim, uma função terapêutica.

Sei que chegará o dia em que vou transformar o rumo do blogue mas não quero que perca a sua essência. Não pretendo abandoná-lo. Daqui a um ano logo se verá o que estarei a depositar nesta extensão dos meus pensamentos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Participação no Estudo Clínico InOvulação

Quando fiz referência a este estudo manifestei que iria deslocar-me no final deste mês ao Hospital Senhora da Oliveira para iniciar a minha participação. Hoje foi o dia.

Fui atendida praticamente à hora agendada, o que de si já é um ponto favorável e senti-me muito bem recebida pela Dra. Vanessa Silva. A conversa fluiu com grande naturalidade e simplicidade. Como tínhamos comunicado algumas vezes por mail, o gelo estava mais que quebrado e foi bom ser ouvida acerca de algo que é uma pedra no meu sapato desde 1994.

Levei comigo a compilação de análises e ecografias que fiz desde a adolescência para se estudar o motivo da amenorreia. Quando tinha 16 anos, o meu nível de estradiol estava muito próximo de uma situação de hiperestimulação. Se calhar até teria sintomas mas nem reparava nisso. Só me recordo de sentir tonturas com muita frequência mas após iniciar a regularização da hormona TSH, já com 17 anos, a situação começou a atenuar, pelo que as tonturas não teriam nada a ver com o estradiol elevado.

Voltando à consulta, foi feita uma anamnese em que resumi em alguns minutos os últimos 25 anos, desde a menarca até à atualidade.

Passei em seguida para a ecografia. O extraterrestre (eu) exibiu toda a sua exuberância exótica interior (tanto 'ex' numa frase só!). A analogia que faço entre as imagens visualizadas no ecrã e algo mais gráfico é de que parecia que estávamos a observar umas cabeças de sementes de flores de lótus. As cavidades onde as sementes estão incrustadas são daquelas bem largas. O útero, em oposição àquele freak show ovárico, é belo, maravilhoso, um verdadeiro oásis que não se entende por que raio não aceita os embriões-capa-de-revista que lá estiveram. Tem um ar cândido, diria até celestial, mas tem sido um completo inútil, tal como os ovários que só funcionam sob ameaça. Pelo aspeto das minhas gónadas incomuns, a Dra Vanessa percebeu como as hiperestimulações devem ter sido complicadas e dolorosas. Ficou surpreendida por não ter sofrido torção dos ovários. Foi feita contagem dos folículos e esta miúda que vos escreve, que se encontra a cerca de duas semanas de se tornar quarentona, tinha 42 de um lado e, se não me engano, 35 no outro. Uma aberração, pois.

Falei que foi equacionada a possibilidade de ser realizado drilling antes das FIV. O que vou escrever em seguida pode ser importante para quem tem ovários poliquísticos e está no fim da linha, prestes a desistir. Supondo um cenário em que já não é possível realizar tratamentos, se está numa idade em que pensar na reserva ovárica deixa de fazer muito sentido e não constitui problema dedicar mais cerca de meio ano a queimar os últimos cartuxos, o drilling pode ser o derradeiro resquício de esperança para tentar uma gravidez natural. Não o pretendo fazer, mesmo que os 3 embriões não deem em nada. A minha decisão está mais que tomada.

Assinalei numa folha de que forma sou afetada pelo hirsutismo, selecionando uma escala ilustrada; foi registada a minha altura e o peso; mediu-se o perímetro da cintura, bem como da anca e realizou-se a medição da tensão arterial.

Foi frisado que o objetivo do estudo não é investigar as minhas falhas de implantação. Estou bem ciente disso, assim como sei que não terei qualquer benefício nesta participação, além de ter análises atuais. Outras mulheres, pelo contrário, poderão ter apoio que até lhes permita engravidar.
O conhecimento científico não cai do céu e há ainda muitos assuntos que carecem de investigação. Sem estudos de caso, compilação e análise de dados, avanço tecnológico e capacidade de interpretação da informação, torna-se difícil progredir no conhecimento.

Darei amanhã o próximo passo voltando a Guimarães para, desta vez, fazer análises. Do ponto de vista analítico serão avaliados os seguintes parâmetros: FSH, LH, Estradiol, Cortisol, Prolactina, TSH, T4 Livre, Testosterona, DHEA-S, Hormona anti-mülleriana, Leptina, Grelina, SHBG, Colesterol LDL, Colesterol HDL, Triglicerídeos, Glicose, Insulina e ACTH. Irei finalmente saber o valor da hormona anti-mülleriana que nunca foi pedido em todos estes anos, talvez por conta das imagens óbvias das ecografias.

Serei posteriormente informada de todos os resultados e a minha interação deverá manter-se à distância, ou seja, por via eletrónica. Este contributo faz-me sentir um pouco mais útil para outros, já que para mim é tarde e deixa-me com a sensação de dever cumprido. A minha passagem aqui pelo planeta faz um pouco mais de sentido se, pelo menos uma pessoa, tirar partido dos resultados da investigação.

Sobre o regresso ao Hospital de Guimarães, este não me é desconhecido, por maus motivos. O edifício onde fui à consulta esta tarde fica bem ao lado da unidade onde o meu pai foi acompanhado, em oncologia. A última vez que o levei àquele lado foi há praticamente 17 anos, dois dias antes de ter assistido à estupidez que é as células deixarem de funcionar, por mais que queiramos contrariar. O seu corpo resumia-se a pele, osso e barriga. O abdómen tinha de ser drenado semanalmente naquele hospital, uns 5 litros de cada vez, de um líquido claro resultante da falência do fígado provocada pelas metástases. Foi por isso que lá fui nessa altura. Ele já não tinha força para se manter em pé sozinho, por isso apoiava-se a nós para descer ou subir degraus, transportávamo-lo de cadeira de rodas dentro e fora de casa e eu pegava nele ao colo para o transferir para a cama. Esse período da minha vida teve um grande impacto na forma como encarei a infertilidade e todos os momentos desagradáveis que aconteceram entretanto.

Amanhã darei início ao Provera e conto menstruar no dia 5 de janeiro. Dia 6 ou 7 devo fazer ecografia e na semana seguinte, a TEC.

Enviei mail ao Dr. J. L. da CUF Descobertas para o colocar a par da recente estimulação e do rastreio de aneuploidias. A única recomendação que fez foi a de garantir um bom aporte de progesterona, por via vaginal.

2020 soa-me um número bom e 13 pode vir a ser o da sorte. Irei transferir o décimo terceiro mini-nós. É incrível como o pavio de esperança ainda arde, embora ténue. Aguardam-me semanas de bipolaridade. Se engravidar nesta transferência, gostava que fosse sem sangramentos de nidação, com um valor de beta chorudo e tudo a reinar na mais perfeita harmonia. Uma vez que fui contemplada com uma punção paradisíaca, em comparação com as anteriores, podia ter uma gravidez tranquila ao invés daquele sufoco permanente logo que tenho conhecimento de um resultado positivo. Não creio em nada ligado à transcendência, nem ando a pedir desejos a calhaus que se desintegram na atmosfera quando os avisto (meteoros). Ingiro as 12 passas despojada de pensamentos. Esta minha indiferença à crendice ou espiritualidade faz-me viver o processo com uma grande carga. Não sei como é que se pode deixar o desfecho nas mãos de alguma entidade aprisionada nos pensamentos. As células, os elementos químicos presentes nas mesmas e na forma como se combinam definem o sucesso ou o fracasso. A materialidade aliada às forças físicas cujas interações construíram a natureza e o Universo originam e destroem o que comummente chamamos de milagre da vida.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Previsões astrológicas

Parece que 2020 vai ser o meu ano. A minha mãe contou-me que há dias uma taróloga afirmou num programa de televisão que as nativas de Capricórnio que andam a realizar tratamentos para engravidar vão concretizar o seu sonho. Questionei se a profissional esotérica era a Maya, uma vez que para previsões futebolísticas já mostrou capacidades adivinhatórias que não abonam a seu favor. Pelos vistos não era, por isso a minha esperança está restaurada (como se eu vivesse em função dessas "previsões").

O que ela achou caricato foi a especificidade da situação da infertilidade associada ao meu signo.

Se der para o torto vou poder atribuir o falhanço à falta de competência da criatura que se atreveu a proferir alarvidades na televisão. É sempre bom ter um saco de pancada que arque com as culpas.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

PGT-A - o veredito

Quando há minutos vi que estava a receber uma chamada do hospital, gerou-se um rufar de tambores mental. Vários resultados podiam ser divulgados. A voz do outro lado foi objetiva e disse logo que dos 5 embriões, 3 são normais. Que alívio! Estava a custar não saber quando é que ia ter notícias e a expectativa do resultado ainda tornava a espera muito pior. Se "quisesse" e já explico o motivo das aspas, podia fazer TEC ainda em dezembro mas não vai ser possível. O motivo para o adiamento é o malvado Decapeptyl. A enfermeira perguntou se já menstruei este mês (como habitual), respondi que não menstruo (como já respondi 1500 vezes), quis saber o que costumo fazer para menstruar, mencionei que recorria ao Provera. Ela deu a indicação para o iniciar ainda hoje e ao vigésimo primeiro dia do ciclo iria ao hospital fazer ecografia. Soou outra vez o alarme Decapeptyl. Recordei que o Decapeptyl não me faz nada, ela quis saber como se resolveu das outras vezes em que não foi administrado e reformulamos as contas. Chegou-se à conclusão que a TEC não poderá ser em dezembro, porque durante uns dias o serviço estará fechado (normalmente é feita limpeza das condutas do ar condicionado).

Ótimo! Até sinto satisfação por isso, não estava muito disposta a passar mais uma época natalícia assombrada. Os últimos dois anos não me deixam boas memórias. Transferências em janeiro têm resultado em negativo, mas aguento melhor que gravidezes daquelas manhosas que tive. Pelas minhas contas o candidato que vai ser transferido deverá ficar cá hospedado pela altura em que faço 40 anos.

Ficou combinado com a enfermeira que começo o Provera dia 28 de dezembro. Calha bem, porque no dia anterior vou ao Hospital de Guimarães participar no estudo InOvulação.

Agora que já tenho datas vou enviar novo mail ao Dr. J.L. do Hospital CUF Descobertas para saber que sugestões tem para me dar relativamente à TEC.

Havia algo dentro de mim que me dizia que a maior parte dos embriões seria euploide. 3 em 5 parece-me um resultado bom, atendendo à minha idade, só que isto adensa ainda mais o mistério para a razão de 12 embriões transferidos não terem resultado numa gravidez bem sucedida. Vou morrer sem saber a causa.

The end is near, 2020 deve ser o ano do fim. Vou manter a fórmula de transferir um embrião por TEC. A partir de agora virá sempre a dúvida da descongelação favorável e do que se lhe segue.

Se houver santinhos das TEC, espero que não me contemplem com nova gravidez bioquímica ou aborto, prefiro negativos. Acho que já fui castigada em demasia.

Não fosse estar este tempo do Demo, iria gritar de felicidade do alto da minha varanda, por saber que há células nossas com viabilidade e ter conhecimento de datas.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Estudo clínico InOvulação

Está a decorrer um estudo sobre a disfunção do ciclo menstrual, apoiado pela Escola de Medicina da Universidade do Minho, Instituto de Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), Centro Clínico Académico de Braga e Hospital Senhora da Oliveira Guimarães. Apesar de o público-alvo previsto incluir mulheres entre os 18 e os 38 anos, foi-me permitida a participação. No final de dezembro estarei no Hospital Senhora da Oliveira para começar a dar o meu contributo.

Perguntar-me-ão o motivo para agora, no fim da linha, envolver-me nesta iniciativa. Certamente não me ajudará em nada, pois para mim já é tarde. Estou principalmente a pensar nas mulheres que, como eu, vão enfrentar este demónio da infertilidade e ainda nem sequer o sabem ou nasceram. Vão precisar de apoio e respostas. Neste momento tenho apoio de acordo com o que é conhecido atualmente, mas respostas não as conheço. Tudo o que me foi falado, fracasso após fracasso, baseia-se em suposições. Se hoje beneficiamos de PMA foi porque o conhecimento científico evoluiu. Para que ele seja mais completo, julgo ser um dever cívico participarmos. Vou gastar combustível e dinheiro em portagens para ir e vir de Guimarães, vou despender de tempo enquanto for para lá, mas sabem o quanto isso me importa nesta fase, em que profissionalmente estou praticamente a zeros? Nada. Felizmente os meus tostões ainda me permitem fazer isso. Alguém, algures no passado, fez o mesmo por mim. Poderei estar a prestar um contributo importante para as filhas ou outras familiares de quem me está a ler. É por isso que faço o apelo a quem reúna os critérios para participar neste estudo e lhe seja viável do ponto de vista logístico, que colabore. Poderá trazer vantagens para si e, em simultâneo, permite que se vá desvendando mais mistérios no âmbito da SOP e disfunções do ciclo menstrual.

Vou, excecionalmente, publicar duas imagens no blogue, com a devida autorização da Dra Vanessa Silva. Temos estabelecido uma comunicação salutar, tendo-me solicitado que publicitasse este estudo na minha casinha virtual.




O endereço que se segue tem mais informações acerca deste projeto
http://www.inovulacao.com

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

8 anos

Estou há perto de uma década a enfrentar o maior desafio que a vida me colocou à frente. Oito anos sem resultados. Quando me aventurei neste caminho não cogitei acerca do tempo que iria dedicar-me a esta causa. Inocentemente idealizei que 35 anos era o limite ideal para entrar no mundo da maternidade. A um passo dos 40 anos esta história ainda não acabou. Poderá terminar este mês, se da parte do Departamento de Genética as notícias não forem animadoras. Caso as nossas células se tenham entendido de forma biologicamente apropriada, a situação vai arrastar-se mais alguns meses, com aquela incógnita típica das transferências.

Daqui a umas duas semanas os meus pensamentos vão começar a estar direcionados para o resultado do rastreio por fazer um mês que a biópsia foi realizada. Até ao fim de novembro devo saber alguma coisa. A par disso estou a finalizar a fisioterapia ao pé. Vou ficar com sequelas às quais terei de me habituar. Ando também a efetuar outros exames por problemas que têm surgido. O fantasma oncológico e uma questão inflamatória que tem de ser esclarecida estão a ser investigados. Desde meados de agosto vou a hospitais/clínicas de diagnóstico com uma frequência quase diária (nos dias úteis). Além daquilo que está agendado ainda vou marcar mais dois exames aos quais se poderá seguir outro, só para uma das coisas que está a ser estudada. Na semana passada apareceu outra "surpresa" a que deverei estar atenta para ver se cresce, volta a doer ou desaparece. Estou a tratar disto tudo agora, enquanto não surge nenhum aviso de que farei alguma TEC. Aguardam-me algumas consultas, uma sedação no dia 14 e outros exames que não poderia fazer se estivesse numa fase de transferência.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Legitimidade?

Li uma notícia que, a ser verdade, carece de reflexão.

Uma mulher, provavelmente indiana, foi mãe aos 75 anos. Ela e o seu marido de 80 anos tinham já adotado uma criança mas há uns anos decidiram passar por um processo completo de gravidez. Realizaram uma FIV e a bebé nasceu às 30 semanas com 1,5kg. A gravidez foi complicada dado que a mãe tinha problemas pulmonares. A mãe teve alta, contudo a pequena ficou internada na neonatologia.

Tendo em conta esta notícia que não adianta mais informações, nem se sabe até que ponto o seu conteúdo é integralmente verdadeiro, surgem questões para as quais ainda não consegui emitir um juízo de valor. É legítimo que este casal enverede por um percurso desta natureza numa idade tão improvável? O supremo interesse da criança, como habitualmente se invoca, estará devidamente acautelado? Presumindo que a esperança de vida dos pais não será muito mais longa, o que terão pensado eles a esse respeito?

De uma coisa tenho a certeza, eu não o faria, daí gostar de conhecer a perspetiva deles. Se estou reticente em relação a mim mesma, porque o meu pai morreu com 54 anos, na situação deles, não arriscava mesmo. Se eles descobriram o elixir da eterna juventude a história seria diferente.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Há uma luzinha de esperança

Ligaram-me há minutos para fazer o balanço final. As biópsias foram feitas hoje. Dos 6 embriões desta estimulação 4 aguentaram. Dos dois que estavam congelados um degenerou e o outro desenvolveu, sendo também realizada biópsia. A bióloga não está muito confiante em relação a este último, porque sofreu várias agressões. Foi criopreservado, desvitrificado, biopsado e voltou a ser congelado. Mas, também como disse, nunca se sabe se ele não surpreende.

Sendo assim, será feito o rastreio a cinco embriões. A bióloga disse para não contar fazer TEC este ano. Estão com imenso trabalho e ela não tem a certeza do tempo que o departamento de Genética vai demorar a manifestar-se. Talvez em janeiro faça transferência, se houver boas notícias. Perguntei como seria no caso do resultado ser desastroso. Aí contactam-me e terei consulta para falarem comigo ou se preferir saber por telefone, informam-me.

Estou nervosa mas aliviada por mais uma etapa estar concluída.

Ontem e hoje tenho pontadas esporádicas no ovário direito, principalmente quando a bexiga está a ficar cheia. Os ovários devem continuar volumosos. As mamas estão túrgidas e pesadas, oxalá menstrue em breve.

Vou aproveitar esta semana para fazer a vacina da gripe, a diretora disse que não havia problema.

Sinto-me emocionada e agradecida por estar a ter esta oportunidade. Hoje choro lágrimas de alegria, há muito tempo que a vida não era generosa para mim nesta matéria.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Em recuperação

Tenho algum volume abdominal e as dores quase não existem. Está a incomodar-me mais a tensão mamária que só vai ficar resolvida quando menstruar. É tiro e queda.

Os maxilares estão um pouco doridos mas para ter esta sensação é porque, mais uma vez, foi realizada tração da mandíbula para melhorar a ventilação.

Voltei à fisioterapia, não tive dificuldade nos exercícios que exigiam um pouco de esforço na zona abdominal. Amanhã encerro a primeira ronda de 12 sessões e tenho mais uma consulta de ortopedia para reavaliação. Seguem-se outras tantas sessões de fisioterapia que vou realizar nas próximas 4 semanas.

Quero perguntar no HSJ se enquanto aguardo pelos resultados posso fazer a vacina da gripe. Durante as fases de preparação e de TECs que fiz em outonos anteriores ela desaconselhou. Agora que não estou a fazer nada, pode ser que não haja problema. Apesar de atualmente não estar em contacto com as fontes de contágio que me faziam ter gripes e constipações a um ritmo mensal, não sei o que me espera daqui a uns tempos.

Espero que os mini-nós estejam confortáveis e animados com as meioses. Foram muitas as oportunidades que as minhas células e as do meu marido deram entre si de se conjugarem, nem que fosse por algumas horas. 13 na primeira FIV, 15 na segunda e agora 11.

Só de ovócitos recolhidos foram no total 69, entre maduros e imaturos. Quando faço as contas a todos os números dos meus tratamentos e penso no que vivi até chegar aqui, parece algo irreal. Como é que consegui suportar isto tudo e não resultou sequer?

PMA no HSJ

Desde meados dos anos 90 que fui alertada para a necessidade de ajuda médica, caso pretendesse engravidar. Há muitos anos que estou ciente das listas de espera no serviço público, dos custos aproximados dos tratamentos e dos locais onde poderia realizá-los.

Mal tomámos a decisão de termos um filho, fui à minha médica de família manifestar essa intenção, porque eu necessitava de encaminhamento imediato. Tendo amenorreia (primária), o critério de um ano de relações desprotegidas até procurar ajuda especializada não se aplicava ao meu caso. O outro que indica apenas meio ano também não estava indicado, pois tinha apenas 31 anos. O HSJ era a minha escolha, tinha a convicção que por estar associado a uma universidade, poderia estar cientificamente mais avançado que outras unidades e eu pressentia que a minha situação não iria ser muito banal. Infelizmente vi-me obrigada a passar primeiro pelo HPH (da minha área de residência) tendo ocorrido falhas de encaminhamentos, consultas adiadas e tempos de empate, em que perdi perto de três anos até finalmente conseguir ir para o HSJ. Naquela altura uma médica de um local onde trabalhava disse que a partir dos 34 anos seria um pouco complicado ter acesso às consultas de PMA no HSJ, devido aos tempos de espera para os tratamentos pelo que restringiam o acesso. Felizmente não é assim, por isso quero tranquilizar quem não está a par da realidade.

Nas primeiras idas ao HSJ senti-me assoberbada. Primeiro porque nunca tinha lá ido e pode ser um autêntico labirinto para quem não conhece. Chegava com imenso tempo de antecedência para conseguir encontrar a horas os locais para fazer as colheitas de sangue. Ora eram nas consultas externas que é bastante confuso, ora na parte da Faculdade de Medicina, na área de Genética. Aí, para aceder a um corredor a dois metros de nós, não podíamos passar por uma porta à nossa frente. Tínhamos de ir ao piso -1 atravessar para o outro lado, depois subir, ou seja, uma confusão. Cada pessoa a quem pedíamos ajuda dava-nos uma indicação diferente e eu começava a pensar "no que raio me fui meter?".

Não fui muitas vezes ao pavilhão das consultas externas. Fiquei a saber que quando chegasse a altura de começar os tratamentos iria passar para o famoso piso 3 de Medicina de Reprodução. Quando veio essa fase perdi-me pelos corredores do hospital, pois apenas "dominava" a parte das consultas externas. Só quando saí do piso 3 pela primeira vez é que vi que ele tem um acesso super direto a partir do exterior, sem ter de passar pelos labirintos.

Chegados os primeiros tratamentos, fiquei um pouco desiludida com a falta de informações por parte da equipa médica. Fui percebendo com o tempo que a iniciativa teria de partir de mim para colocar questões, às quais nunca se negaram a responder, nem o fizeram com má vontade.

Desesperava com as horas infinitas na sala de espera mas apercebi-me que a máquina estava bem oleada, pois éramos chamados segundo uma ordem específica pelos diferentes profissionais. Só não acontecia numa sequência imediata. Havia e continua a haver vários regressos à sala de espera.

No dia em que iniciei a primeira FIV estava ansiosa. Tinha aguardado um ano por essa data e ao início da tarde era o funeral da minha avó. Sabia que ia fazer ecografia, ter consulta, realizar análises, ter ensino com a enfermeira e depois de sair do hospital ainda ia à farmácia comprar as injeções. Isso podia ocupar umas boas horas, às quais acrescia uma viagem de mais de 60km para ir ao funeral. Receava não conseguir chegar a tempo. Falei com a técnica administrativa que queria ir ao funeral e perguntei se era possível acelerarem um pouco. Foram todas impecáveis, fiquei muito tocada com o gesto delas, dado que tudo foi realizado praticamente de forma seguida.

Durante várias TEC notei que eram sempre colocadas as mesmas questões. Apesar de me reconhecerem nos corredores não se lembravam exatamente das minhas particularidades. Isso causou-me algum desânimo, uma vez que sentia que não estavam a prestar realmente atenção à diferença que estava a ocorrer face à maior parte das outras pessoas. Parecia que havia uma linha de montagem instalada e que sofriam da síndrome "Gabriela, Cravo e Canela", como dizia um professor que tive na universidade. O que ele pretendia exemplificar é que há pessoas que durante toda a sua carreira profissional trabalham da mesma forma, não estando abertos à mudança. A canção da Gal Costa referia "Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela".

A equipa médica tem quatro pessoas em permanência. Três são maravilhosas, há outra que não me impressiona. Esta última trabalha numa das clínicas privadas referenciadas na área da infertilidade. Se eu procurasse alguém para me acompanhar a título particular não a escolheria certamente. Bater sempre na tecla do Decapeptyl para a preparação das TEC e afirmar cheia de convicção que o endométrio está pronto a descamar em um ou dois dias, o que nunca acontece, não me deixa confortável em relação a ela. Do ponto de vista técnico, já me "engravidou" duas vezes, salvo erro e acho que me fez uma punção. Em relação à atenção ao utente, no que diz respeito em saber realmente quem tem à sua frente, ainda não me convenceu, lamento.

Com os sucessivos falhanços gerou-se uma mudança nas suas abordagens e começaram a ouvir-me. A primeira pessoa a fazê-lo foi a diretora, com a qual várias utentes não simpatizam minimamente. Pois eu digo, ela é ESPETACULAR. Depois disto terminar pretendo que seja a minha ginecologista. A médica mais jovem da equipa vai dar cartas na investigação e está à frente da inovação do serviço, no que diz respeito às técnicas. Ela não sofre da síndrome que mencionei uns parágrafos acima. Certamente ela está a ter esse destaque devido ao apoio do resto da equipa.

A equipa de enfermagem tanto é o aconchego, como a dose de boa disposição que levanta o astral de qualquer um. Só tive um momento menos bom na primeira gravidez com uma afirmação demasiado frontal mas realista.

Não tive muito contacto com as biólogas mas foram sempre afáveis e otimistas.

Por fim, a minha S. Não deixei para o fim por ser menos importante. O serviço sem ela não seria o mesmo. Ela é EXCECIONAL! É o rosto do piso 3 - desenrascada, atenta, atenciosa, interlocutora, o colinho quente que nos conforta, a claque que nos levanta quando estamos caídos ou à espera de um resultado. A função de técnica administrativa é muito pouco para aquilo que ela representa no serviço.

Face a todo o meu percurso fracassado e a todas as revisões feitas ao processo digo convictamente que hoje sabem quem sou. Os tratamentos são feitos à minha medida e vibram com cada etapa ultrapassada. A probabilidade de sair do HSJ da mesma forma que entrei é grande. Não é por isso que vou sentir ressentimentos em relação ao meu acompanhamento lá. Sei que os conhecimentos atuais no campo da infertilidade ainda têm muito a evoluir. O hospital e as unidades de PMA, em geral, estão a agir de acordo com aquilo que a ciência lhes oferece. A aposta no empirismo é uma forma de tentar suprir as lacunas. O buraco negro que é a infertilidade inexplicada não o será a médio ou longo prazo, assim espero.

O serviço público de PMA não é uma aberração como tantas vezes se lê ou vê em diferentes meios de comunicação. Há restrições em termos de idade, número limite de tratamentos e tempos de espera pouco compatíveis com a idade reprodutiva, é uma verdade. Como já exprimi noutro local que não este blogue, as unidades públicas conseguem por vezes fazer omeletes sem ovos. Há dias maus no público mas no privado também não é tudo um mar de rosas. Quem faz os locais são as pessoas.

Se tiver de fazer uma recomendação de um hospital público para realizar tratamentos de PMA, aconselho o HSJ. Quem o escolher tem, no entanto, de estar disposto a ter tempos de espera mais prolongados que nos outros hospitais do norte, mesmo assim são inferiores aos de Lisboa, por exemplo. Louvo quem consegue estar mais de um ano à espera.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Fecundação - primeiras informações

Já tenho novidades dos meus miúdos. Dos 16 ovócitos, 11 estavam maduros. Após a microinjeção há, neste momento, 6 embriões muito bons e outro que provavelmente não irá evoluir. Os outros dois mini-nós serão descongelados e deixados a desenvolver. Domingo é o dia das biópsias e só voltarei a ter notícias nessa altura.

Tenho esperança que vai haver embriões a resistir a todo o processo e sobre os quais poderei saber, daqui a umas intermináveis semanas, o resultado do rastreio.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Do meu estado atual

É com uma enorme leveza que escrevo neste momento. Só o facto de não estar em sofrimento acentuado, o ânimo é muito maior. O mau estar é praticamente nulo em relação às terríveis experiências anteriores. Acho que vou ter uma ótima noite. Não me parece que o estado vá piorar, até porque não vai haver transferência a fresco.

Em termos de excreção está tudo funcional, o que é um alívio. Lembro-me que após a primeira punção o meu intestino tirou férias quase duas semanas. Tomei uma medida extrema para tentar solucionar a situação sem recorrer à via farmacológica. Atualmente rio-me do que fiz, mas na altura estava desesperada. Sou intolerante à lactose e tenho SII (Síndrome do Intestino Irritável). Há determinados alimentos/pratos que me levam quase instantaneamente a descobrir onde é a casa de banho mais próxima. Alguns alimentos consegui identificar mas há muitas situações em que ainda não descobri o(s) culpado(s). A lactose combina esse efeito imediato com uma dor intensa e uma sensação de barriga insuflada que perduram por dias. Quando me apercebi da inatividade do meu cólon e vi que a obstipação estava convictamente instalada, decidi agir. Pensei atacar com um pingo feito de leite "normal". Acreditem que a quantidade de lactose presente num simples pingo, causa-me muitos estragos. Este ato iria trazer como consequência desagradável uma dor persistente intensa que não queria sentir, considerando que ainda estava sob o efeito da hiperestimulação. Desisti do plano da lactose e passei para o da SII. Há um prato que, nalguns locais e num em concreto, é tiro e queda para me fazer visitar o WC. É a famosa francesinha! A uns três quilómetros da minha casa encontra-se um restaurante pequeno, onde praticamente toda a gente come o mesmo, ou seja, a famosa sanduíche com carnes, queijo e coberta de molho. É boa, é poderosa! Tão poderosa que lembrando-me do que ela me causava, implorei ao meu marido para jantarmos no restaurante P., porque não sabia mais o que fazer para despertar o gigante adormecido. Então lá fomos, estava confiante que o meu plano ia resultar. Enganei-me redondamente! Comi a francesinha e não aconteceu nada... Fiquei com uma revolta imensa e mais preocupada ainda. Só uns três dias mais tarde é que o intestino deu sinal de vida. Curiosamente estive alguns anos sem ir àquele restaurante e quatro dias antes de iniciar esta estimulação regressei com um grupo de amigas. Estava de pé atrás e com razão, pois o raio da francesinha fez-me voltar a visitar as instalações sanitárias.

Voltando a este tratamento, estou mesmo confiante de que os ovócitos estão maduros o suficiente e com melhor qualidade que na estimulação anterior. Da outra vez foi um disparate, passar em apenas 3 dias, de folículos abaixo de 10mm para um estado praticamente pronto a puncionar. Hoje falaram-me várias vezes que me vão contactar quando chegar a altura de preparar a TEC. Partem do princípio que vai haver embriões para transferir, estão sempre muito mais otimistas que eu. Vou seguir no embalo e esperar pelo telefonema. Para que isso aconteça só tenho de ouvir boas notícias da bióloga. Amanhã vou perguntar-lhe como vou ter conhecimento do resultado do rastreio.

A diretora, as enfermeiras e a maravilhosa técnica administrativa ficaram realmente felizes por ter dito que esta punção correu de uma forma que nunca esperava. Vou guardar na memória cada uma delas com muito carinho.

PGT-A - Punção

Ainda me encontro na caminha do hospital. Que diferença! Fui medicada para as dores bem cedo para acordar melhor e de facto a mudança é abismal. Acordei dorida, mas nada comparado com as outras vezes. Não tenho a sensação de ter sido esmurrada nos maxilares. Falei previamente com a anestesista sobre essa situação, assim como do facto de na punção anterior ter dores abdominais, mesmo sedada.

Quando vinha a caminho do hospital comecei a sentir aquele peso incomodativo no fundo da barriga, característico do elevado volume dos ovários.

O meu marido foi neste momento tratar do seu contributo. Fui a única pessoa a fazer hoje punção, por isso o quarto do recobro foi só para mim. As dores são tão poucas que até me dei ao luxo de dormir. Fiz uma soneca considerável e soube maravilhosamente.

Foram recolhidos 16 ovócitos. É uma grande diferença em relação às outras vezes mas, não sei porquê, estou calma e confiante. Aqueles valores absurdos acima de vinte não me convenciam muito.

Irei escrever mais alguma coisa à tarde ou à noite.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 15

Às 8h vou estar no hospital para colocar o catéter, depois é aguardar pela minha vez para fazer a punção. Está a começar a chegar o nervoso miudinho, não pelas dores que vou sentir mas pelo aproximar das próximas etapas.

Trata-se do culminar de oito anos cheios de incertezas, desilusões, sofrimento. Passei milhares de horas a pesquisar, perdi a conta às noites em claro a pensar na vida, gastei muitos dias em salas de espera de hospitais. Deixei vários tubos de sangue para analisar, fiz uma quantidade de ecografias que jamais pensei que fosse realizar. Sacrifiquei a minha vida profissional para conseguir fazer tratamentos a cada 4 meses, tomei uma quantidade infindável de comprimidos, injetei-me com a mesma ligeireza com que realizo uma atividade banal do quotidiano.
Chorei, se chorei... Acabei por ficar sem lágrimas pela permanente deceção comigo. Ouvi muita coisa, desde palavras de motivação, incentivo e aconchego. Fui também variadíssimas vezes dissuadida a desistir, a procurar alternativas de tratamento ou aconselhada a ponderar outras formas de ser mãe. Foram-me ditas algumas palavras que dispensava ter ouvido. Os momentos baixos sobrepuseram-se aos altos, planeei o meu dia a dia em função dos tratamentos ou dos seus possíveis resultados, perdi o meu eu algures por aí. Perdi 4 filhos. Dezenas de embriões, os mini-nós, não conseguiram evoluir. Na vida além da infertilidade realizei algumas conquistas, vivi momentos felizes, amadureci. Passei a valorizar mais a simplicidade, aprimorei a forma de ver o que me rodeia, não me deixo deslumbrar facilmente com as coisas.

Validei uma grande aprendizagem com esta luta. Não temos noção da nossa capacidade para enfrentar situações menos boas até nos depararmos com elas. O motor desta luta é a esperança.

domingo, 6 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 14

Declaro encerrada a temporada de injeções!

Não sei se voltarei às picas numa possível TEC mas, por enquanto, a minha barriga em modo de coador vai descansar um pouco. Reparei desta vez que as veias nas mamas estão mais visíveis e tenho um bocadinho de tensão.

A atividade dos ovários está estranhamente branda, quase não percebo que tenho pipocas a eclodir cá dentro. Vou considerar que é um pequeno bónus para compensar todo o sofrimento que tenho vivido.

sábado, 5 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 13

Encerrei as injeções de Menopur e Orgalutran, amanhã finalizo com o Decapeptyl. Foi a estimulação mais longa, mesmo assim a diferença não é muito significativa. Sinto-me como ontem, até estou bem. Tenho uma pequena esperança de que a punção e os dias seguintes vão ser um pouco mais fáceis de suportar do que tem acontecido.

Sendo a punção na terça, o domingo que lhe segue (13 de outubro) é mais uma data determinante, a do quinto dia dos mini-nós. Os already frozen deverão ser descongelados na sexta para poderem acompanhar os potenciais irmãos que vão estar cheios de gana para realizar divisão celular.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 12

As pipocas estão aí! Os folículos têm tamanhos heterogéneos mas ainda há tempo de alguns poderem vir a ser os tais. Não tenho a contagem detalhada contudo, pelo que vi, o ovário esquerdo tem 12 candidatos e o direito 10. Terça-feira é o dia da punção. As minhas amêndoas devem estar do tamanho de ameixas ou tangerinas e lá para segunda-feira deverei carregar no meu ventre duas laranjas em explosão eminente. Quando estou sentada consigo sentir que tenho cá dentro umas coisas volumosas e fazer a ecografia não foi a melhor das sensações. A andar também noto a presença dos ovários. Agora é sempre a piorar.

Vou manter Menopur e Orgalutran até amanhã. Domingo, como não podia deixar de ser, fecho a loja com Decapeptyl 0,1. Adio, adieu, acho que me vou livrar definitivamente destes três e das hiperestimulações. Será o fechar de uma das várias portas que estão abertas neste labirinto. Estou preparada para sofrer mais um pouco. Não tem sido de outra forma nos últimos dois meses, a um ritmo diário, em diferentes partes do corpo.

Depois da punção vem o próximo mistério: o do resultado da fecundação. Por enquanto estou radiante pelo degrau da estimulação ter resultado num agendamento de punção.

A enfermeira disse que os meus ovários fazem ver a muitas jovens. De que me tem servido isso? Se me tivesse calhado na rifa apenas um ou dois ovócitos na primeira FIV, que culminassem num filho, tinha ficado muito mais orgulhosa do que nos mais de 50 que me sacaram e que até agora não deram em nada.

Vou aguardar pelas cenas dos próximos capítulos, porque não tenho o dom da adivinhação.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 11

Hoje, enquanto fazia uns exercícios na fisioterapia para simular piso irregular, comecei a ter algum desconforto nos ovários. Durante o resto do dia não voltei a sentir, porque andei essencialmente em locais planos. Fiquei um pouco mais expectante de que os ovários estejam menos sonolentos. Só vou saber amanhã de manhã, (in)felizmente não tenho capacidade para ver o que se passa cá dentro.

A par disto continua a saga da recuperação da entorse. Tive esta tarde consulta com a fisiatra, porque na próxima semana ia terminar o conjunto de sessões de fisioterapia inicialmente estabelecido. Como a evolução está a ser muito lenta, aguardam-me mais 4 semanas além desta que ainda tenho de fazer. Na primeira quinzena de novembro termino (ou não) a fisioterapia. Poderei ficar com sequelas permanentes mas pelo menos estou a tratar da parte muscular para o estrago ser suavizado. Vou continuar a manter a minha "pulseira eletrónica" durante mais uns tempos, evitar caminhadas longas, piso irregular, calçado pouco estável. Quem diria que um simples passo me ia dar este trabalho?

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 10

Devagar, devagarinho, os folículos vão crescendo. Sexta-feira volto a fazer ecografia. A médica diz que ovários como os meus são perigosos, parecem bombas relógio. Não vou fazer alteração da medicação e ficar confiante de que este crescimento lento vá ser fundamental no bom amadurecimento dos ovócitos, para que a taxa de fecundação seja espetacular.

O ponto da situação é este:

Ovário esquerdo - 13, 13, 12, 11, 10, 10, 10mm
Ovário direito - 12, 12, 10mm

Vou manter-me serena, sei que as médicas estão a tomar decisões conscientes.

Gosto globalmente do acompanhamento que estou a ter no HSJ desde que viram que sou "diferente" da norma. O único aspeto negativo é a espera pelo atendimento, mas já me habituei a isso e prepararam-nos para tal. Tenho de fazer um post dedicado apenas à equipa e ao hospital, é mais que merecido.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

PGT-A - Dia 9

Não sinto nada, o que aumenta o mistério sobre a atividade/inércia nas minhas profundezas.

Consultando a minha cábula digital, fiz na estimulação passada ecografia na mesma altura que farei amanhã e as notícias foram bem melhores que na eco anterior. Isso traz-me um pouquinho de ânimo mas não retira a preocupação. O objetivo desta estimulação era ter muitos folículos, uma boa taxa de fecundação e embriões fortes o suficiente para aguentar a cultura de 5 dias. A meta é ambiciosa, tenho plena consciência disso. Gostava que o meu corpo cooperasse nesse sentido mas pode ser tarde.

Nunca saberei se aqueles quase três anos de perda de tempo, até finalmente conseguir ser acompanhada no HSJ, seriam preponderantes para que o rumo desta história fosse diferente. Aconteceu, tenho de viver com isso. Tenho algumas condições clínicas que dificultam a concepção, são parte de mim. Não posso viver com raiva ou ódio em relação ao que sou.

Estou a poucos passos de conhecer o final deste meu livro. Não há muita coisa de que me arrependa nestes últimos oito anos. Olhando para trás, tenho dificuldade em pensar se voltaria a fazer tudo igual, porque estou exausta desta aventura interminável.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 8

Mais uma ecografia feita. Os ovários estão carregadinhos de folículos, no entanto só 3 se estão a começar a evidenciar, do lado esquerdo. Mantém-se a esperança de que se gere um boom até quarta-feira. Os corajosos têm por enquanto 12, 12 e 11 mm. Começo a sentir algum peso na zona abdominal enquanto ando.

Quero não estar enganada, quero conseguir fazer uma punção em que se extraia alguma coisa com potencial. Desejo não passar pela desilusão de não haver fecundação. A maior ambição que tenho atualmente é de que se chegue ao ponto de poder aguardar pelo resultado da PGT-A. Aceito até um resultado que indique que não há embriões com viabilidade. Um tratamento ficar a meio gás é uma tremenda frustração. Já passei por isso várias vezes, sei quão mau é.

domingo, 29 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 7

Reina a harmonia! Não deteto nenhuma atividade nos ovários. Na estimulação do ano passado comecei a sentir alguma coisa no décimo dia. Tinha feito a ecografia que antecedeu a punção. Em apenas 3 dias passei de uns folículos inferiores a 10mm para "milhentos", como referiu a médica, de tamanhos generosos.

A reação do meu corpo à estimulação vai mostrando os sinais da idade. Em 2016 por esta altura, com a mesma dosagem, já tinha dores, aumento de volume abdominal e foi necessário passar para 125UI. Em 2018 foi preciso suspender o Orgalutran e voltar a retomar, face à resposta tardia.

Poderei estar com a barriga um pouco inchada mas ainda não estou muito certa disso.

O dia de amanhã vai ser peculiar. Começo a manhã num hospital para fazer fisioterapia, em seguida vou para o HSJ. À tarde vou acompanhar o meu marido a outro hospital, porque daqui a uns meses vai fazer novamente cirurgia a hérnia inguinal bilateral. Em 2014 fez cirurgia aberta e em nenhum momento foi dada a indicação de que esse tipo de procedimento poderia trazer complicações devido à manipulação dos canais deferentes, causando infertilidade. Desta vez falámos com a médica do serviço de cirurgia sobre o assunto e a via laparoscópica é a mais segura, contudo não é certo que vá ser esse o procedimento. Está referenciada a preferência pela laparoscopia mas vai depender da existência de material apropriado na altura da intervenção e da disponibilidade da equipa. Uma bodega, portanto... A forma de intervenção não deveria depender deste tipo de condicionamentos. Como a cirurgia será daqui a cerca de 6 meses, não vai influenciar este tratamento. Contudo, supondo que a PGT-A não dê em nada, não faremos mais tratamentos de PMA, mas a porta não fica fechada para um "milagre" de uma gravidez espontânea. Não vou viver obcecada com isso, é certo, mas podendo deixar as vias desimpedidas, nunca se sabe.

sábado, 28 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 6

Ando tão relaxada que só me lembrei da injeção às 22h em vez de administrar às 21h. Já me ia esquecer também de começar o Orgalutran. Não me vou autoflagelar por causa disso, até fico aliviada por estar assim. Só devo evitar perpetuar estes esquecimentos.

Matei "saudades" da agulha do Orgalutran e da teimosia que por vezes evidencia a atravessar a pele. Sinto o líquido a fervilhar ligeiramente aqui na zona. Está a fazer a sua magia, espero eu.

O meu querido pé direito está no seu inchaço de fim de semana. Estou a habituar-me de tal forma a isto, que já me custa a acreditar que ele vá deixar de ter este comportamento. Tenho dado folga da ortótese ao sábado, pois habitualmente estou em casa, mas ele parece não gostar. Vou ter de continuar a manter a minha pulseira eletrónica a fazer compressão.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 5

A ecografia está feita. Os folículos ainda estão pequeninos mas encontram-se em abundância. No ovário esquerdo há 26 e no direito 22. Amanhã começo o Orgalutran e segunda repito ecografia. Perspetiva-se que a qualquer momento os folículos cresçam descontroladamente.

Em relação ao relatório de anatomia patológica da biópsia que fiz em fevereiro, posso ficar tranquila. A questão que me apoquentava dos marcadores ilibam somente a existência de endometrite crónica. Não há nada transversal de caráter oncológico. Nos poucos minutos que esperei para saber o parecer que o profissional de Anatomia Patológica tinha dado à médica, o meu coração acelerou. Foi mais um peso que me saiu de cima.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 4

Daqui a cerca de 12h saberei se o Menopur está a despertar as criaturinhas adormecidas. Vai ser também revelada a medicação que irei introduzir gradualmente no protocolo.

Há mais de um mês que convivo diariamente com dores. Ando com uns problemas além do tornozelo, que estão a demorar a passar e que, mesmo enquanto durmo, me causam permanente dor. Não estou bem em nenhuma posição. Ao sofrimento natural acresce a fisioterapia, três vezes por semana. Lá faço ultrassom, eletroestimulação, massagem (o momento de tortura indescritível) e exercícios com elásticos, bola e outros dispositivos. Gostava que a dor me desse tréguas durante uns dias mas não, a hiperestimulação deve estar a preparar-se para vir em força. O meu corpo não anda numa boa fase. Em contrapartida recebi hoje o resultado da análise que fiz ontem à TSH e T4 e felizmente o acerto do Eutirox está a dar frutos, que alívio! Noto alguns efeitos da alteração no funcionamento da tiróide, principalmente no cabelo e pele. As hormonas são umas manipuladoras de primeira!

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 3

A minha pele anda estranha de há uns anos para cá e reage a coisas insignificantes. Esta tarde apercebi-me de uma vermelhidão, não é hematoma, à volta do local da picada de ontem mas não tenho prurido. Sinto um incómodo quando encosto a barriga a algum sítio, no entanto não é ainda da atividade ovárica. É apenas o normal da administração das injeções. Estou a lembrar-me agora que quando suspendi o Lovenox em dezembro, os hematomas só desapareceram na totalidade três ou quatro meses depois.

Esta manhã fiz outra colheita de sangue, solicitada pelo endocrinologista, para avaliar se a alteração de Eutirox ao fim de semana é apropriada para normalizar os níveis de TSH. Daqui a dois dias saberei se o empurrãozinho que estou a dar aos ovários está a resultar.

O pé, esse, enfim...

Esta fase não tem uma dose de adrenalina muito acentuada basicamente porque não se notam evidências físicas. No meu caso elas existem devido à SOP. Possivelmente vão começar a manifestar-se no início da próxima semana.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

PGT-A - Dia 2

Segunda injeção administrada. O Menopur não me é desconhecido, foi usado na estimulação da segunda tentativa de IIU que acabou cancelada por ter 7 ou 8 folículos dominantes.

Até agora só faço Eutirox, Ovusitol-D e Menopur. Como os tomo em períodos diferentes do dia, e é pouca coisa por enquanto, quase me esqueço dos dois últimos.

Ainda é muito cedo para sentir o frenesim de pipocas prestes a rebentar. O milho está a aquecer e espero que esta sementeira, praticamente quarentona, ainda tenha nutrientes suficientes para uma colheita de qualidade.

A fisioterapia continua, três vezes por semana. No sábado passado estive a fazer algumas tarefas domésticas que não exigiam um esforço extraordinário. O meu tornozelo não gostou e inchou bastante.
A ortótese é atualmente o meu porto seguro. Apelido-a carinhosamente de pulseira eletrónica, porque quando visto umas calças mais justas, vê-se uma proeminência da fivela elástica que prende à volta da perna, como se fosse um localizador. Tenho um enorme receio de fazer outra entorse, principalmente nesta fase de recuperação. Realizar uma cirurgia nesta zona não está nos meus planos mais imediatos, nem mesmo a longo prazo.

Na minha agenda tenho registado atualmente pouco mais que exames, consultas, análises, fisioterapia. Sim, escrevo numa agenda em papel. Prefiro ter esse tipo de informação anotado em algo palpável, onde possa virar páginas, do que andar a friccionar um ecrã, dependente de baterias para poder organizar o meu quotidiano. Gosto q.b. de tecnologia embora já tivesse mais interesse. Há coisas, no entanto, em que sou mais tradicional. Agendas para mim, têm de ser em papel, mas não serve qualquer uma. Aprecio determinadas formas de apresentar os dias da semana e as horas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Constatação

Chegámos ao piso de Medicina de Reprodução às 8h30 e a sala de espera esteve a meio da sua lotação durante um tempo considerável. Fui para a sala de espera de ecografia deviam ser 10h30. Estive lá algum tempo até ser chamada. Quando regressei à primeira sala deparei-me com uma fila que ia desde o secretariado até à porta, quase não havia lugar para sentar. Acho que nunca tinha visto tanta gente naquele espaço. Aos poucos o ambiente foi voltando à normalidade e reparei que as mulheres que lá estavam eram muito jovens, arriscaria dizer que uma parte significativa com menos de 30 anos.

Que mudança houve de um ano para outro!

Será que as pessoas estão mais informadas para a questão da infertilidade? Será que não houve aceitação durante muito tempo e agora se dão mais votos de confiança à medicina? Será que o estilo de vida tem contribuído para que, cada vez mais cedo, se tenha limitações na capacidade reprodutiva?

Tenho-me apercebido em diferentes quadrantes de mudanças na forma como a infertilidade é encarada. Claro que há sempre denominadores comuns mas notam-se diferenças, também devido a algumas inovações que foram surgindo e cujo feedback rapidamente se propagou pelos diversos canais disponíveis na internet. Tive oportunidade de assistir a essa evolução, porque não saio da cepa torta. Sou uma paleoinfértil que tem passado muitas (infinitas) horas a ler, ler, ler, pois a qualquer instante pode surgir a descoberta do século que me vai garantir que tudo vai correr de feição e não terei mais de me preocupar.

PGT-A - Dia 1

Chegou o grande dia, o princípio do fim. Estava bem disposta mas dentro de mim há algumas preocupações.
Comecei com a habitual ecografia, seguida de consulta, ensino com a enfermeira e colheita de sangue.
Este processo tem um consentimento informado diferente dos tratamentos anteriores. Vão ser feitas algumas alterações na medicação, só soube por enquanto o que vou fazer até sexta. Esta estimulação será com Menopur 150UI e vou tomar Ovusitol-D. Depois da ecografia que faço no final da semana, saberei o que segue. A médica analisou a minha resposta às estimulações anteriores e prevê que a punção seja no dia 4 de outubro, como eu tinha também calculado em agosto.

Entreguei-lhe o relatório da biópsia que fiz no CUF Descobertas, apesar de ter enviado o mesmo por mail na altura em que o recebi. Como referi num post, havia uma menção no relatório sobre um marcador positivo que pode estar relacionado com linfoma. Além disso, nunca me saiu da cabeça que quando fiz despiste de trombofilias, uma parte significativa dos linfócitos tinha uma alteração. Devido a todos os antecedentes familiares de cancro que me assombram há muito tempo, linfoma incluído, falei do assunto à médica. Ela disse não conhecer aquele marcador e o que significa exatamente aquela frase, mas entende a minha preocupação. Ficou de mostrar a um colega especialista para dar o seu parecer.

Falei também do meu receio em relação à dificuldade real dos embriões evoluírem até ao quinto dia, uma vez que no ano passado, nenhum dos 11 que permaneceu em cultura chegou a esse patamar com sucesso. A médica respondeu que essa situação corrobora a tese da falta de qualidade e da forte possibilidade de anomalias.

Quanto à dosagem de Menopur, não faz sentido começar com uma dose mais baixa, pois os ovários certamente não iriam reagir. Assim teremos de contar com nova hiperestimulação.

Alertei para a alteração na TSH. Ficou o registo e deixei a médica preocupada, embora esta tenha tranquilizado quando se lembrou que não faria agora transferência. O compasso de espera até se conhecerem eventuais resultados do rastreio, será suficiente para normalizar a função tiroideia. Antes sequer de entrar no gabinete ela já tinha colocado na prescrição da análise que iria realizar a seguir o controlo de TSH, como é habitual. De qualquer maneira, quarta-feira vou repetir a análise que o endocrinologista mandou fazer.

Agora vou explicar todos os cenários possíveis, contando que há punção:

1 - Podem não haver ovócitos maduros e não há fecundação, pelo que resta como alternativa os dois mini-nós criopreservados. Não sei que estratégia seguiria depois desta possibilidade.
2 - Há fecundação e nenhum dos embriões, tanto os que já existem que vão ser descongelados, como os novos, apresenta qualidade adequada no quinto dia. Acaba tudo.
3 - Vitória! Conseguem-se sobreviventes no quinto dia mas a biópsia é fatal. O tratamento pode acabar ou não, depende do número de baixas.
3.1 - Temos resistentes! A PGT-A revela que são todos aneuploides. Acaba tudo.
3.2 - Temos resistentes! A PGT-A revela que há viabilidade num ou mais embriões. Segue(m)-se TEC.
3.2.1 - TEC realizada(s). Sucesso (gravidez com princípio, meio e final feliz) / Acaba tudo.

Como se vê, até chegar à parte do final feliz, vai ser uma aventura.

Espero sinceramente que, independentemente do final ser mais ou menos auspicioso, não me caia uma bomba no colo fruto da pequena frase do relatório da biópsia feita no CUF Descobertas. Seria a maior facada de todos estes anos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Sonhos, será que não vão passar disso?

Há muito tempo que não sonhava que estava grávida. Na noite passada voltou a acontecer. Encontrava-me no final da gravidez, não sabia muito bem como é que estava já naquele ponto sem me ter apercebido antes.

Tinha uma barriga relativamente pequena, o meu corpo só tinha aumentado nessa parte, fiquei contente por ter sido assim. A dada altura toquei do lado direito da barriga e senti uns ossinhos que me pareciam das mãos. Não sei se se consegue perceber com esse detalhe, mas no sonho era bem evidente. Comecei a refletir e constatei que estando no fim da gestação, nunca tinha detetado pontapés ou movimentos do pequeno.
Foi mais um sonho que me mostra como isto ainda me afeta. Daqui a uma semana começo as injeções. Será o princípio do fim.

Quarta-feira termino a pílula, estou com perdas castanhas e dores menstruais pontuais desde o décimo dia do ciclo.

Amanhã começo a fisioterapia. A lesão no tornozelo é grave. Não justifica ainda a realização de cirurgia mas os próximos tempos são cruciais. Outra entorse durante a recuperação não me vai livrar da sala de operações. Vou tratar da parte muscular para a tornar mais forte, uma vez que não posso contar com os ligamentos para me manter estável. Quem me vir a andar deve achar que está tudo bem, contudo o interior do tornozelo está caótico. Os dois lados foram afetados e há muita coisa antiga que se faz notar.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Tiróide safada

As orientações relativas ao dito órgão em forma de borboleta, estão dadas. De segunda a sexta farei a dosagem de 100 microgramas, ao fim de semana será 150. Daqui a 3/4 semanas repito a análise para ver como ela reage. Espero que não se arme em esquisita, porque não tenho tempo para uma tiróide com manias de diva. Que tenha paciência, mas agora não dá!

Da resistência à insulina a situação está bem. Uns parâmetros vão controlando outros, é menos uma preocupação.

O fardo está mais leve, era do que precisava por enquanto.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Análises endocrinologia

Nos últimos anos tenho feito o controlo da função tiroideia no hospital, sempre que realizo algum tratamento ou através da médica de família, uma vez que tudo se tem mantido regular.

Há uns meses houve um problema na distribuição do Eutirox pelas farmácias, levando a que este esgotasse em muitas das dosagens que existem. Tomo o Eutirox 100 há uma dúzia de anos ou provavelmente mais. Antes disso era o Thyrax. Esse problema da falta de disponibilidade acabou por me afetar. A hipótese mais razoável que havia para conseguir garantir a dosagem de 100 microgramas de tiroxina sódica, da mesma marca, era adquirir uma embalagem de Eutirox 50 e, em vez de tomar 1 comprimido como faço habitualmente, tomaria 2 para a concentração estar correta. Foi essa opção que tomei e enquanto isso generalizaram-se rumores de que o Eutirox iria sair do mercado. Face a essa (des)informação decidi marcar consulta num novo endocrinologista para saber que medicamento passaria a tomar no caso do Eutirox deixar de ser comercializado. O profissional que escolhi tem como áreas de diferenciação assuntos que me pareciam mais valias para mim como amenorreia, hirsutismo, obesidade, diabetes. Quando terminei a embalagem de Eutirox 50 fui à farmácia, mentalizada para a possibilidade de já nem sequer haver esse disponível. Acabou afinal por voltar a ser feita reposição do 100. Ainda pensei em cancelar a consulta agendada pelo facto de o medicamento estar novamente no mercado mas optei por ir na mesma ao médico. Achei que deveria fazê-lo. Realizada a anamnese em que viajei novamente desde 1995 até à altura em que foi diagnosticado o hipotiroidismo, acabei por falar inevitavelmente da infertilidade. Saí do consultório com uma requisição de análises e uma receita de 3 caixas de Eutirox 100, pois dada a regularidade que persiste há mais de uma década, não seria de prever nenhuma alteração de relevo na TSH. Segundo o médico continuam a existir problemas na venda de algumas dosagens de Eutirox. Comprando as 3 embalagens ficaria abastecida para meio ano, precavendo assim rupturas de stock. Em relação às análises, além da função tiroideia o endocrinologista pediu um estudo da resistência à insulina, algo que nunca foi feito nestes 24 anos em que os problemas hormonais entraram na minha rotina.

Fiz a colheita e os resultados ficaram prontos ontem. Para minha surpresa a TSH está aumentada, um valor de 5,629 quando a referência é entre 0,550 e 4,780. A situação é inédita nestes anos todos depois de me ter mantido estável tanto tempo. Era a última coisa que esperava nesta altura do campeonato. Em relação à insulina e hemoglobina glicosada, penso que entendi o que significam as alterações, mas estou à espera do parecer do médico e a contar com a possibilidade de precisar de metformina. Enviei hoje um mail ao endocrinologista com relatórios de exames que tinha feito no passado e aguardo que me responda o mais rápido possível, porque a questão da TSH não devia estar a preocupar-me nesta altura.

Se for feita uma estimulação com TSH em excesso, o líquido folicular vai conter uma concentração muito elevada dessa hormona, prejudicando a maturação dos ovócitos. Tenho de começar imediatamente a fazer o acerto da tiroxina para não comprometer a colheita de ovócitos. Durante anos tomei bombas hormonais que não afetaram em nada a tiróide. Este ano, que não fiz nenhum tratamento, sou apanhada de surpresa com este desequilíbrio. Não consigo explicar...

Logo que o endocrinologista dê alguma resposta vou enviar também um mail ao Dr. JL da CUF Descobertas para saber se tem alguma recomendação para a fase da estimulação e/ou para a altura da preparação de uma eventual TEC.

Em relação ao tornozelo as coisas estão um pouco em stand-by, porque vou fazer uma RMN na próxima semana. Já não uso as canadianas mas isto não está muito bom. O ortopedista suspeita, pelo que viu no raio-X, que poderá haver uma fissura (não é este o termo correto). Vou continuar com a ortótese e mediante o exame, será definido o plano de fisioterapia.

O ano foi bastante pacífico em comparação com os anteriores. Não teve tempos infinitos passados em salas de espera, a correria entre as idas ao hospital e o trabalho, o estabelecimento de rotinas em que tomava uma variedade considerável de fármacos ou administração de injeções, as desilusões. Há muito tempo que o meu quotidiano não consistia em apenas tomar o Eutirox, que é uma necessidade que me vai acompanhar sempre. Os próximos meses vão ser intensos. Para ser diferente, acresce à PGT-A a recuperação desta entorse complicada.

O desenrolar do processo inerente à PGT-A dá para traduzir num fluxograma. Vários cenários podem acontecer e só há uma ramificação possível que chega ao sucesso. Todas as outras condições vão ter ao fracasso.

Estou de certa forma consciente que vai terminar como começou, ou seja, sem nada. É o mais provável. A chegada do fim está a trazer-me várias inseguranças. Não consegui ainda definir o que vou fazer depois disto, que metas traçar para o meu futuro. Sei que quero compensar os anos em que abdiquei de mim para realizar algo significativo por mim. Acho que tenho valor, contudo não tem sido aproveitado como realmente mereço. Foi uma opção que fiz para poder estar disponível todas as horas que dediquei à infertilidade.
Vou entrar na quarta década de vida. Estou a atribuir uma maior responsabilidade a essa transição do que quando entrei nos trinta, não sei porquê.

Como se pode ver, tenho um turbilhão dentro de mim. Preciso de me encontrar.

sábado, 24 de agosto de 2019

Ovodoação e ficção

No intervalo de aproximadamente uma semana passaram pela televisão pelo menos dois filmes relacionados com esta temática. Classificá-los-ei como estranhos, na medida em que se debruçam sobre algo comum: dadoras que se aproximam das famílias que usufruíram dos seus ovócitos, com o intuito de se apropriarem dos filhos dessas famílias. Algo de comum também nesses filmes é que as ditas dadoras não olham a meios para conseguirem o seu objetivo, chegando a cometer assassinatos sem qualquer problema. Acho uma forma infeliz de abordar a temática.
Os filmes a que me refiro são o Inconceivable e The Wrong Mother.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Datas

O plano de ataque está definido. Vou tomar pílula contínua até dia 18 de setembro e dia 23 de setembro temos de estar no hospital às 8h30, prontos para passar lá a manhã inteira. Esse é o dia do arranque das injeções. Realizada a estimulação - hiper, certamente - segue-se a punção e o desenvolvimento dos embriões até D5 (os novos e os dois que ainda tenho congelados em D3). Nessa altura é feita a biópsia aos mini-nós e a criopreservação dos mesmos. O departamento de Genética entra em ação e fará o rastreio de aneuploidias. Um mês a um mês e meio depois sabe-se o resultado e, correndo tudo de feição, prepara-se a TEC.

Poderá vir a ser o terceiro ano consecutivo em que a chegada da época natalícia é marcada por uma transferência. As últimas duas vezes não me deixaram boas memórias. Se chegar ao ponto de ter algum embrião para transferir, já será uma boa notícia. Pelas minhas contas, se houver TEC, saberei o resultado do beta o mais tardar na véspera de Natal.

Estes próximos 4 meses vão passar a voar. Enquanto isso irei provavelmente fazer fisioterapia mas só vou ter a certeza dos planos para o meu pé na próxima semana. A propósito do pé e tornozelo, atualmente as suas cores abrangem uma paleta vasta. A minha irmã diz que é uma espécie de unicórnio em que só falta o verde. Preocupa-me é que a mínima pressão em pontos específicos ainda causa dor acentuada. Aguarda-me um longo período de recuperação.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Curtindo o verão

Como referi no post anterior estou a mover-me de forma alternativa. A última vez que estive em contacto com o exterior foi no domingo, quando regressei das férias e passei na urgência. Ontem comecei a ter sintomas de constipação e há pouco a febre voltou a apoderar-se de mim. Podia ser pior, eu sei, e é melhor que seja agora do que quando estiver a fazer a estimulação. Não significa que não dispensasse este bónus. Normalmente constipo em setembro, em agosto não me recordo se alguma vez aconteceu. Espero não acrescentar nada ao pacote.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Experiência acumulada

Estou numa altura da vida em que vou dando conselhos que resultam das experiências que vou acumulando nesta passagem. Normalmente faço-o quando me pedem opinião, pois não quero ser invasiva.

Desta vez vou fazê-lo de forma espontânea, porque ocorreu no fim de semana um episódio que resultou de abordagens pouco apropriadas ao longo dos anos, que me estão a limitar na atualidade e irão condicionar o meu futuro. Não tem nada a ver com infertilidade, mas sim com algo bem corriqueiro como entorses. Neste momento tenho duas amigas novas, com as quais tento deslocar-me enquanto mantenho um pé suspenso. Vou andar assim pelo menos duas semanas às quais se segue um acompanhamento médico que vai tentar remediar os muitos estragos que há dentro do meu pé. Não foi a primeira, nem a segunda entorse. Aliás, perdi a conta à quantidade de vezes que este pé virou com calçado raso, em piso plano. A primeira vez, há vinte anos, em casa de chinelos, resultou num pé instantaneamente azul e gigante. Por várias razões, o único tratamento realizado foi a aplicação de Reumon Gel. A partir daí o pé nunca mais teve a mesma estabilidade. Quando ando em pisos irregulares não se passa nada. O meu marido até comentou que nunca fomos a tantos castelos como neste verão e nada aconteceu. Em piso plano e sapatilhas, deu-se a desgraça. Ouvi estiramento no tornozelo, o pé virou de uma forma absurda e não consegui apoiá-lo no chão durante uns segundos. Um edema do tamanho de uma bola de golfe surgiu nos instantes que se seguiram. Apliquei uma dose muito generosa de gelo e tomei um anti-inflamatório. Estava nas últimas horas das minhas férias e o hospital mais próximo encontrava-se a uma distância considerável. Optei por aguentar a noite e no regresso que acabou por ser antecipado umas horas, fui a um hospital perto de casa, já a pensar que o cenário do tornozelo e do pé não ia ser fabuloso. O médico disse que havia uma boa e uma má notícia. A boa é que não sofri fratura. A má é que aquilo que ele viu no raio-X é um acumular de desleixo que se não for devidamente tratado desta vez vai trazer consequências desagradáveis. Estou na eminência de começar a ter artrose. Coloquei um tornozelo elástico, aplico gelo várias vezes por dia, movo-me com o auxílio de canadianas, pois não posso apoiar o pé no chão e tenho consulta marcada para a especialidade de pé e tornozelo para saber o que aí vem.

Depois deste testamento o conselho que tenho a dar é que se fizerem alguma entorse, tratem imediatamente dela. Mesmo que pareça algo insignificante, vão ao médico. Não sabem como está o interior da estrutura que lesionaram. Antevejo que num futuro não muito longínquo vou começar a mancar e a necessitar de apoio auxiliar, porque o caos apropriou-se do meu pé/tornozelo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Ronda final

Pensei que ia terminar o ano sem haver desenvolvimentos. Felizmente ligaram-me esta manhã a perguntar se estávamos dispostos a fazer tratamento em setembro. Perguntei se era para TEC ou PGT-A. É mesmo para o rastreio aos embriões, ainda me custa a crer. Já há equipamento, embora não na totalidade mas faz-se com o que há, porque não tarda faço 40 anos e já experimentaram com outras pessoas. Agora é tratar da indução da menstruação com Provera e no primeiro dia do ciclo inicio a pílula. Nessa altura ligo para o hospital para saber durante quanto tempo a vou tomar.
Tinha algumas coisas delineadas de caráter pessoal para iniciar em setembro. Vou ter de adiar e dedicar-me a isto de corpo e alma. Agora sim, é a última vez. Sinto alívio por estar a chegar a esta fase. Vários cenários podem ocorrer depois da estimulação mas a luz que procurei neste túnel interminável está muito próxima e pode chegar antes de completar 40 anos. A luz a que me refiro é a do fim, seja feliz ou não. Quero encerrar esta história e ficar em paz.
A máquina de pipocas vai trabalhar freneticamente, vou sofrer (muito) mas o mais importante não é o que vou penar, são todas as etapas de uma check list que quero que fique completa com sucesso. Há tantas pequenas montanhas a ultrapassar até conseguir fazer uma TEC depois disto, que é melhor não pensar muito (como se fosse possível)...

terça-feira, 4 de junho de 2019

Sem previsões...

O bloqueio continua e está relacionado com uma autorização que tarda a ser dada.

A administração do HSJ mudou recentemente e vários médicos têm pressionado no sentido de ser autorizada a vinda do famigerado equipamento a laser. Há uma quantidade considerável de casais que reúnem critérios para a realização de PGT-A, os pedidos estão aprovados, falta mesmo é a tecnologia. Estou em contagem decrescente para os 40 anos, essa meta que me parecia longínqua aproxima-se a um ritmo preocupante. Continuo com a vida parcialmente suspensa devido a este condicionamento hierárquico. O improviso que regula os dias vai persistir não sei por quanto tempo mais. A minha vida não evolui, só a idade.

It sucks!

terça-feira, 16 de abril de 2019

Não será também aos 39...

Pelo andar da carruagem não será aos 39 anos que serei mãe, nem em qualquer outra idade, tenho de me convencer disso. Não considero que tenha adiado a maternidade. Estou fora das estatísticas relativas à média de idade em que atualmente se investe nos projetos de parentalidade, fora das tentativas necessárias para se conseguir levar a uma gravidez a bom porto, fora do número médio de perdas gestacionais que afeta cada mulher, fora de muita coisa que envolve (in)fertilidade. Se a diferença nos pode tornar cool, esta é particularmente irritante e arrasadora. Se calhar já devia ter posto um termo a esta tortura há muito tempo. Aquilo que pode ser conotado a força, no meu caso poderá ser mera estupidez, é a conclusão a que chego.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

À espera de laser

Aqui o espacinho está a modos que paradito, pois não há nada de transcendente a acontecer. Contactei esta manhã a Unidade de Medicina de Reprodução para saber se a PGT-A está para breve, uma vez que me tinham dito que em abril deveria arrancar com a nova estimulação. Ainda não sabem bem quando isso vai ocorrer, pois estão a aguardar a chegada de um equipamento de laser. Enquanto isso, a Drª A.M que está responsável pelas "inovações" na unidade de RMA vai alertar o serviço de Genética que já há um casal candidato em espera para se dar início ao processo. Só espero que o dispositivo venha antes de completar os 40 anos para ter direito a fazer estimulação e que a equipa esteja devidamente preparada para realizar a técnica.

Estou também a tentar perceber se vou voltar a menstruar, porque há cerca de 3 semanas senti dores e sensibilidade mamária que poderão ter sido fruto de uma ovulação.

domingo, 10 de março de 2019

Quem diria?!

Quem diria que 1 ano e 2 dias depois, seria surpreendida com a chegada da dita cuja que me falhou mais de 20 anos? Há umas semanas, não mais de duas, senti durante uns dias umas dores ligeiras no fundo das costas, como quando se está com o período. Achei estranho, mas como não visualizei nada, não dei importância. Hoje o alerta vermelho deu sinal e as dores são claramente menstruais. Fiz a aspiração em dezembro de 2017 e no dia da Mulher que se seguiu, fui contemplada com a chegada desse fenómeno que é a menstruação espontânea. Desta vez parei o Progeffik em dezembro, após o fim da gravidez e volto a dar de caras com uma realidade que me era desconhecida. O ET de 39 anos está cada vez mais estranho. A maior surpresa de todas era engravidar espontaneamente ou conseguir levar uma gravidez até ao fim.

terça-feira, 5 de março de 2019

Nada de endometrite

Fez no domingo uma semana que recebi o relatório da biópsia ao endométrio. Foi o próprio médico que mo enviou por mail. Disse que o resultado estava normal. Fiquei um pouco apreensiva em relação a uma frase que lá estava que nada tem a ver com a infertilidade mas fez soar o alarme daquilo que tanto me preocupa, que é a possibilidade de desenvolver algum tipo de cancro.

No documento havia a seguinte inscrição: "O estudo imuno-histoquímico com MUM-1 e CD138 apresenta raras células marcando com MUM-1, de morfologia linfóide e CD138 negativo."

Acerca deste excerto vou pedir esclarecimentos, porque de todos os tipos de cancro que têm surgido na minha família paterna (pai e vários tios), linfoma é um dos que já se manifestou. Não me esqueço também que quando fiz estudo de trombofilias, 38% dos linfócitos apresentava irregularidades. A par do facto de ter dificuldades em conseguir dar a volta à infertilidade ando, desde os 22 anos, a fazer rastreios. Fiz a primeira polipectomia gástrica com 27 anos em que, de uma só vez, foram removidos 6 pólipos do estômago. Até agora retirei 8 e nesse âmbito as coisas têm estado mais calmas. O historial familiar de cancro alarga a um espetro abrangente passando por diversas partes do corpo desde o cérebro, esófago/estômago, cólon, mama, sangue. O do meu pai começou no cólon e alastrou para o fígado. A extensão dos tumores que já tinham atingido o fígado e a sua dimensão levaram a que, desde o diagnóstico até à sua morte, tenha durado 16 meses. Posso estar apenas a criar macaquinhos no sótão mas sinto necessidade de tirar a limpo estas questões.

Perguntei ao Dr JL se deveria fazer mais algum exame, marcar nova consulta com ele ou se podíamos manter contacto via e-mail para se definir a estratégia para a próxima transferência. Recebi nova resposta neste passado domingo (percebi que deve ser o dia em que ele se dedica à interação eletrónica) e ficou combinado haver feedback de todo o processo por mail.

Neste momento aguardo que o hospital me ligue para dar início à toma da pílula ainda este mês, uma vez que me foi dito que se avançará para a estimulação em abril.

Tenho algumas preocupações, como é óbvio, em relação aos próximos tempos. A maior é acerca da capacidade dos embriões chegarem ao quinto dia. Isso não aconteceu no ano passado. Nenhum dos 11 que ficou em cultura após o congelamento dos 4 em D3 apresentou qualidade para ser criopreservado. Esse será um enorme desafio. Há também o próprio ato da biópsia dos embriões para fazer PGT-A, que pode causar a sua perda. Acresce a hipótese de aneuploidias que reduz ainda mais o número de embriões com potencial. Dou por mim a pensar que é possível não sobrar nada viável para transferir. A hiperestimulação também me deixa receosa. Fui aguentando as anteriores, com muitas dores e desconforto, as punções custaram bastante e a recuperação foi acontecendo devagarinho, sem ter havido internamento, torção dos ovários ou embolia pulmonar. A única coisa que ambiciono nesta fase, é que não seja pior que das outras vezes.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Trabalho em curso

Esta manhã, enquanto me preparava para ir trabalhar, lembrei-me que até ao momento o HSJ não tinha dado novidades sobre o resto das fotocópias que faltava entregar. À hora de almoço o telemóvel deu sinal de vida, exatamente para me informar que podemos ir buscar as ditas.

Na caixa de correio, por outro lado, foi colocado um envelope da CUF Descobertas com uma fatura de Anatomia Patológica, à qual se encontrava anexada uma carta com a seguinte informação: "No seguimento do exame anatomo-patológico (...) houve a necessidade de realização de um exame complementar, baseado em reação laboratorial antigénio-anticorpo, que contribui para a caracterização da população celular da lesão estudada. O resultado é parte integrante do relatório definitivo emitido."
Hoje é quarta-feira e ainda não tinha notícias quando, hipoteticamente, saberia o resultado da biópsia duas semanas após a colheita do tecido. Esse prazo terminou na sexta-feira passada. Agora percebo o motivo de não saber de nada, ainda. Várias coisas me passaram pela cabeça quando li a cartinha anexada. Quando vi o que sugeria o Dr. Google a respeito do assunto, arrependi-me logo. Resta-me ter um pouco mais de paciência e esperar pela conclusão.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Indo eu, indo eu

Assinalou-se mais um marco nesta viagem interminável que faço há não muito longe de uma década.

Não houve conclusões ainda, estranho seria se já as houvesse no primeiro contacto. Pelo desenrolar da consulta percebi que a estratégia inicial passará pela melhor preparação possível do endométrio, uma vez que a parte embrionária ficará a cargo do HSJ.

Não tinha na minha posse o resultado de anatomia patológica da biópsia da histeroscopia e como não voltei a repetir colheita de amostra depois de ter feito antibiótico durante 14 dias, consenti que me fosse feita nova recolha. O procedimento é desagradável, não vou estar com floreados. Foi um pouco menos penoso que da última vez. Enquanto agoniava por dentro, sentia o útero a contrair-se sempre que era agredido com aquela cânula de ar cândido. Infertilidade e sofrimento estão de mãos dadas. A dor emocional é muito complicada e quando vem acompanhada de dor física, essa consegue ser bem perversa. O que se pretende descobrir neste momento é se padeço de endometrite crónica.

Outra pista que foi dada seria que numa próxima TEC faria Lovenox 60 ou 80 devido ao meu peso. O médico considerou que o 40 era baixo, embora tenha percebido logo que foi prescrito numa base empírica. Da análise às trombofilias que fiz há uns anos está realmente tudo bem.

Ficou impressionado pela produtividade das estimulações, principalmente na minha idade e considera realmente sensato realizar PGT-A.

Cada questão que colocou fez todo o sentido para mim. Ainda bem que tinha feito as minhas tabelas, porque quis saber ao pormenor em que transferências fiz aspirina, corticoide, enoxaparina, que dosagens e o resultado dessas TEC. Consegui responder a tudo, exceto à questão de anatomia patológica da histeroscopia, porque nunca fui informada.

Aconselho então a quem algum dia considere consultar este médico ou qualquer outro fora da unidade onde é acompanhado que registe tudo à medida que realize tratamentos. Consegui sintetizar em duas tabelas todo o meu percurso, desde que comecei a frequentar consultas de infertilidade. Era de fácil análise, o que me facilitou imenso a ser rápida a responder sem ter de remexer em folhas e mais folhas.

Daqui a umas duas semanas vou receber o resultado da biópsia e possivelmente o Dr. J. entrará em contacto comigo para me dizer o que se segue.

Aquela sensação de que me encontrava numa linha de montagem desapareceu.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Expect the unexpected

A reunião foi intensa. Basicamente foi para darmos o nosso aval para participarmos em algo que vai começar a ser realizado no HSJ - PGT-A. Esta sigla substitui a que era usada antes na técnica de PGS. Pelo que me parece os critérios de acesso serão uma idade a partir dos 38 anos e falhas sucessivas de implantação. Pretende-se verificar a existência de aneuploidias nos embriões e evitar que esses que têm anomalias sejam transferidos provocando grande desgaste no casal. As médicas estão inclinadas para que a maioria dos nossos mini-nós tenha anomalias tendo em conta o número elevado de transferências mal sucedidas e os valores sempre baixos de beta-hCG.

A Diretora já tinha falado comigo sobre esta técnica quando falhou a TEC 4, mas na altura ela referiu que era apenas possível realizar no privado e o valor rondava os 10 mil euros. Para nos terem sugerido esta solução hoje, é porque o SNS deve estar a autorizar o procedimento.

A médica disse que a realização da técnica é muito recente no hospital, está praticamente em fase experimental, pelo que só em abril se partirá para o ataque. A minha participação no entanto vai ter um custo que é uma nova (hiper)estimulação. Neste momento tenho dois embriões D3 que daqui a algum tempo serão descongelados até atingirem D5 para poderem ser biopsados. A próxima estimulação será preparada no sentido de se obter o maior número possível de pequenotes e simultaneamente tentar não entrar em colapso com o descontrolo dos ovários. Os embriões resultantes daí vão também desenvolver até D5. Depois é aguardar uns tempos pelo resultado, recuperar do estado explosivo em que vou estar e ver se as minhas células e as do meu respetivo fizeram magia boa ou da negra.

Falei a respeito da consulta de amanhã e o motivo de a ter marcado. Vai haver uma espécie de sinergia em que irei dar feedback do que acontecerá em Lisboa para que todos possamos andar para a frente e arrumar este assunto. A escolha para a unidade pública que estaria ao meu lado nesta jornada, foi a mais acertada. Sempre achei que um dia ia chegar a essa conclusão. Mesmo que não dê em nada.

Agora burocracias... Num dos posts anteriores mencionei que pedi fotocópias dos exames que tinha feito no hospital para poder levar amanhã à capital. Pois, não recebi nada. Falei com a minha querida Super S. da receção e ela disse que não chegou nenhum pedido à Medicina de Reprodução. Fomos ao balcão do RAI onde tínhamos efetuado a requisição e não havia nada pronto. Já passava das 14 horas, ainda não tínhamos almoçado e a senhora que nos atendeu fez umas chamadas para tentar perceber o que se passava. Disse-nos que, se até às 15 horas ninguém nos telefonasse, poderíamos passar lá novamente às 15h30 para trazer algumas fotocópias que entretanto tivessem tirado. Às 15h20 ligaram-nos a dizer que havia alguns documentos que podíamos levantar. Não veio tudo. Do meu marido entregaram 6 cópias (dele não deve haver mais nada), minhas foram 40 fotocópias e um CD. Algum dia recebemos o resto. Pelo menos já veio o que mais queria.

Agora vou descansar, porque daqui a umas horas estou novamente acordada. Nem sei se vou dormir em condições. Já não vou a Lisboa há bastante tempo e, numa das últimas vezes que lá estive choveu torrencialmente. Amanhã vai ser um dia deveras abençoado.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Chamada inesperada

Esta tarde, após as 15 horas, o meu telemóvel deu sinal de atividade vinda do HSJ. Pensei que fosse para informar que as fotocópias que solicitámos estavam prontas, mas o motivo era outro. A equipa analisou o processo e querem reunir connosco no dia 31 (véspera da consulta na CUF Descobertas). Não faço ideia do teor da conversa quando há ainda dois embriões congelados e até ao momento não houve esse tipo de iniciativa. Espero que não seja uma espécie de inquirição por irmos a Lisboa, como se estivéssemos a passar algum atestado de incompetência à equipa ou ao hospital. Pretendo, com a opinião de alguém externo, conciliar estratégias/ideias e não segmentá-las, para que haja coerência de procedimentos com um único fim.

Admito que há pormenores que não me têm deixado totalmente satisfeita com o acompanhamento e sei que os mesmos aconteceram por entupimento do serviço. Falarei sobre eles à Diretora se considerar oportuno. Esses detalhes não põem em causa as capacidades técnicas ou o domínio científico da equipa médica mas ajudam a rotular negativamente o serviço público. Ainda nem sequer estava estabelecido o plano de termos filhos, eu já tinha eleito o HSJ como o local onde queria ver concretizado o desejo de maternidade. Não me perguntem o porquê de ser lá e não noutro centro público aqui da zona, não sei explicar. Nunca cogitei que o CMIN, o Centro Hospitalar de Gaia ou o Hospital de Guimarães tivessem resolvido o meu problema alienígeno. Há algo anormal em mim, só quero ver se outra mente pensa fora da caixa.

Tenho lido tanto ao longo dos anos, à procura de pistas, respostas, casos semelhantes ao meu, mas desde há uns meses fui vencida pela exaustão. Mais uma vez corroboro que vai haver um fim, não muito distante, em que poderei respirar fundo, eventualmente chorar, fazer o luto do tempo que dediquei à infertilidade, fazer o luto pelos meus filhos, libertar-me destas amarras e redefinir objetivos para a vida.

domingo, 13 de janeiro de 2019

39

Ontem entrei nos 39 anos. Não estava entusiasmada, nem tive muito tempo para celebrar a data. Ainda imaginei que hoje pudesse dedicar-me ao ócio e sentir o sol de inverno a alimentar-me com vitamina D mas não tal não será possível. O improviso que comanda a "rotina" e me impede até de planear as 24 horas do próprio dia ditam que este não é definitivamente um fim de semana em que possa fazer algo por e para mim. Pode ser que nos 40 seja diferente. Estou viva e pronta para continuar a enfrentar o futuro, é o que interessa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Nada como iniciar o ano com uma visita ao HSJ

Desta vez não foi para mim mas aproveitei a viagem para resolver um assunto pendente.

A minha sogra foi hoje internada num contentor para ser submetida amanhã a uma intervenção de neurocirurgia, para remoção de um tumor no cerebelo. Aquele hospital tem espaços bastante assimétricos no que diz respeito à qualidade das instalações e há partes novas a serem construídas. A zona das ecografias de obstetrícia que foi onde fiz a histeroscopia, tem um ar decadente, o hospital de dia tem uma sala de espera assustadora (mais pela quantidade abismal de pessoas confinadas na sala de espera), há outros locais também caóticos e degradados por onde só estive de passagem para aceder a zonas que necessitava. Noutras áreas está bem apetrechado e cómodo. O pré-fabricado onde ela ficou tem vários equipamentos de ar condicionado em funcionamento e está estruturado para que os utentes não tenham uma estadia traumática do ponto de vista das infraestruturas. Esta perspetiva é de alguém externo, porque não sou eu que estou lá internada para analisar com mais cuidado. Não sei como funciona, por exemplo, na gestão dos banhos. O que se destaca de mais negativo é mesmo aquela sensação de se pisar um solo que a qualquer momento pode colapsar.

Eu e o meu marido aproveitámos a altura em que os meus sogros já tinham entrado para a admissão, para irmos ao "nosso" piso 3, casa dos últimos 4 anos. Fomos informar-nos do que devíamos fazer para termos relatórios ou cópias dos exames realizados até agora. A maravilhosa cicerone que sempre atende os casais com um sorriso, boa disposição e assertividade, aconselhou-nos a pedir fotocópias, porque os relatórios têm um atraso enorme. Neste momento as médicas estão a elaborar os relatórios pedidos em outubro. As cópias são bem mais rápidas e dando a indicação de que a consulta em Lisboa é em breve, mais cedo ainda conseguimos. Assim fizemos, fomos ao Atrium Hospitalidade, atendimento RAI, postos 11 e 12, destinados apenas a isso. O processo é simples, nem sequer somos nós que preenchemos formulários, porque fica automaticamente informatizado e é-nos dada cópia do pedido. Neste caso foram dois, um para mim e outro para o meu marido. Quando as fotocópias estiverem disponíveis, seremos contactados para ir lá levantar.

A nossa parte para já está tratada no hospital. A prioridade atualmente é mesmo a minha sogra. Apesar do cirurgião ter tranquilizado dizendo que a cirurgia não é muito complexa e praticamente não há possibilidade de recidiva, há sempre receio que algo não corra bem. Ainda não sabemos a duração previsível para o internamento, só nos informaram que está previsto operar amanhã de manhã.

A confirmação da data da intervenção só foi feita no final da semana passada, por isso ainda não temos bem presente de que nos encontramos num novo ano civil. Não fosse o meu aniversário na próxima semana, passava-me ao lado a mudança para 2019.