quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Consulta de hematologia

Atendendo ao facto de contabilizar um negativo e um positivo que terminou em perda, decidi antecipar-me aos preceitos do sistema público e consultar uma hematologista para fazer despiste a trombofilias.

O decorrer da consulta teve uns momentos que ainda não sei muito bem como avaliar.

Antes de fazer marcação estive a pesquisar acerca de quem iria escolher e os meus critérios foram analisar quem está ligado a hematologia clínica há algum tempo e, se possível, que trabalhasse no HSJ. Supunha que quem obedecesse a este último critério estivesse um pouco por dentro dos formalismos daquela instituição e quem sabe habituado a contactar com utentes provenientes do piso de Medicina da Reprodução.

Havia nomes de profissionais que trabalhavam na área embora recentemente e outros com carreira consolidada. Sem desconsiderar o profissionalismo e qualidade de quem é mais jovem até porque toda a gente merece crédito, achei que neste momento devia selecionar um(a) médico(a) experiente. Nos hospitais privados existentes aqui à volta há vários hematologistas cuja atividade profissional está mais voltada para a oncologia e não era isso que procurava. No meio da oferta existente destacou-se um nome, que além de se diferenciar em hemato-oncologia, a sua especialidade é em hematologia clínica e trabalha no HSJ. Como tem acordo com a seguradora em que tenho o meu plano de saúde, acabei por marcar consulta e na segunda-feira passada lá fui eu.

Depois de fazer um breve enquadramento acerca do que me tinha levado lá, a primeira coisa que ouvi foi que as trombofilias causam complicações num estado mais avançado de gravidez e não logo no início.

Se eu tivesse transferido um embrião de cada vez poderia até ser prematuro andar nesta investigação, contudo o que me leva a fazer já isto é o facto de 4 embriões terem sido sacrificados. Não quero fazer em janeiro outra TEC, em que comprometo mais 2 embriões, sem ter conhecimento se há algo mais que posso melhorar para aumentar as hipóteses de sucesso.

Referi que tinha SOP e hipotiroidismo primário e a médica queria justificar a perda com o hipotiroidismo. Não vou dizer que é impossível, porque este distúrbio hormonal aumenta a possibilidade de aborto. Sendo a TSH monitorizada regularmente e sabendo que da minha parte não falho um dia de Eutirox, o hipotiroidismo passa a ser um não-problema. No que diz respeito à SOP que me tira o sono há vinte e tal anos não me pronuncio, porque o meu caso é complexo e há associações entre SOP e aborto espontâneo. O mecanismo que conduz a esta reação do organismo ainda não está bem definido, por isso esse terreno é algo pantanoso.

A primeira abordagem que a médica quis fazer foi aferir alguns parâmetros que excluem aquelas análises que são dispendiosas e não comparticipadas. Em função dos resultados será então tomada uma decisão sobre o que fazer a seguir.

A listagem de itens a averiguar foi a seguinte:

- hemograma com plaquetas;
- Exame morfológico do sangue periférico;
- aPTT - Tempo Parcial de Tromboplastina Ativada;
- tempo de protrombina (INR);
- fibrinogénio (fator I);
- proteína C total (funcional);
- proteína S total (funcional);
- anticoagulante lúpico (LA);
- ferritina;
- ferro (siderémia);
- ácido fólico;
- vitamina B12;
- 25-hidroxi-vitamina D (25-Hidroxicolecalciferol) [Calcidiol] [vitamina D];
- Ac. anti-cardiolipina (IgG);
- Ac. anti-cardiolipina (IgM);
- Ac. anti-beta 2 glicoproteína I (IgG);
- Ac. anti-beta 2 glicoproteína I (IgM).

De tudo isto, o seguro de saúde não comparticipou apenas o parâmetro mais barato. Deixei cinco tubinhos de sangue no hospital logo depois da consulta.

Agora os pormenores awkwards da consulta.

A dada altura, quando falava acerca da minha preocupação em querer estar prevenida antes de fazer a próxima TEC, a médica disse que devemos saber quando chega a altura de decidirmos parar de insistir naquilo que não resulta. Acrescentou que há outras formas de sermos pais, ainda que os filhos não sejam biológicos. Não lhe deve ter parecido apropriado no momento usar o termo "adoção", mas mais valia tê-lo feito em vez de andar com rodeios, a insinuar que devíamos pôr um ponto final nisto, pois não vai dar em nada. Questiono-me se quando lhe aparece um paciente da área de oncologia, seja em estado terminal ou não, lhe diz que não vale a pena lutar, porque a vida além da morte pode ser muito mais estimulante.

A cereja no topo do bolo surgiu quando aquela palavrinha começada por A veio como justificação para o fracasso. Sim, ANSIEDADE, o maldito vocábulo. Só tive vontade de lhe pedir para me receitar o ansiolítico milagroso. Estava a terminar de ter esse pensamento quando a fórmula mágica chegou e qual foi? A médica rematou com aquele clássico: TIRAR FÉRIAS! Que pena tenho eu daqueles desgraçados que estão impossibilitados de fazer férias, porque a natureza impedi-los-á de procriar.

Já passei por vários profissionais da área de infertilidade e nenhum deles mencionou que o meu problema se resolvia com umas férias para tratar a ansiedade malvada.

À partida o resultado das análises já estará disponível na sexta-feira e no dia 28 saberei o que se seguirá.

8 comentários:

  1. Olá PL. Primeiro deixa-me dizer que fico contente por ler novidades tuas.
    Os médicos às vezes dizem-nos coisas que nos deixam meio abananadas... numa das minhas consultas de avaliação do endométrio (preguiçoso) antes da TEC, a médica que me atendeu naquele dia disse-me que a solução seria esperarmos que a lei mudasse. Percebi logo que se referia às barrigas de aluguer. Nem sei explicar o que senti...era o meu primeiro tratamento, tinha embriões congelados e não havia mais nada que pudessemos fazer?? Não podia ser... A verdade é que a médica estava enganada e tudo se resolveu.
    Acho que fazes mto bem em tentares avaliar todas as hipóteses. E umas férias sabem sempre bem :-)
    Beijinhos

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    1. Olá, PM! Espero que esteja tudo excelente! Depois do que me apercebi hoje, se os comentários forem vindos de quem não trabalha diretamente na área, começo a ignorar. Agora se vêm de quem está envolvido no processo, roça a falta de sensibilidade.

      Umas férias saberiam muito bem, mas por enquanto não dá. Só a minha mente pode viajar :-)

      Um beijinho grande

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  2. Oh pah adoro essas teorias, só que não!!
    Diz à médica que estive 17 dias na Tailândia, sim senhora doutora 17 dias basicamente de papo para o ar alternando com outro acto muito cansativo que se chama comer. Perguntem-me lá se vim grávida?? Não não vim porque a infertilidade não se resolve com férias, antes fosse.
    Um beijinho querida e olha ao longo deste processo todo de certeza que o melhor é ignorar algumas coisas que se vão ouvindo... Sorrir e acenar

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    1. Hoje a fasquia foi colocada para o período natalício. Entre uma ou outra rabanada, de que não sou grande fã, pode ser que se dê o milagre. Juro que se isso acontecesse, repensava toda a minha existência e ausência de crença.

      Agora respiro fundo e ignoro.

      Um beijinho e muita paciência para os próximos tempos.

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  3. Ainda me custa a acreditar que alguém, da área da saúde, consiga dizer coisas como essas! Se não sabem do que estão a falar, mais vale ficarem caladas e não atirarem teorias dessas para o ar, tendo uma pessoa à frente delas que está a passar por um processo tão difícil como a infertilidade. Desculpa, isto revolta-me um bocado!!

    Espero que corra tudo bem e que não seja nada a nível hematológico!

    Um beijinho grande :)

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    1. Infelizmente ouve-se muita coisa disparatada e mesmo na gravidez ou após o nascimento de um filho a saga continua, faz parte da natureza do ser humano. Invejo os restantes animais, pois não dão opinião aos outros acerca do que devem ou não fazer.

      Os primeiros resultados foram favoráveis, agora aguardo o prognóstico sobre mutações.

      Desejo que os teus próximos dias sejam de concretização e sucesso.

      Um beijinho grande!

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  4. Médicos ou não... há assuntos que só se conhecem se se estiver dentro deles. Falei com médicos para quem a criopreservação de embriões era quase um atentado à vida... enfim! Tem que se estar dentro dos assuntos para se perceber como se resolvem.
    A especialidade dessa médica é hematologia, e vamos deixá-la fazer o que ela faz bem :) Do resto tratamos nós.
    Só vi hoje o teu post, e assumo que já tenhas novidades.
    Espero que sejam boas! Vem contar.
    Um grande grande beijinho*

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    1. E quando uma enfermeira pergunta "Transferência de embriões, o que é isso, como é que é feita? Isso acontece? Doi?"

      Acho que a médica está a mostrar o que vale na sua área, que é o que me interessa.

      As tuas mexericas devem parecer uns sininhos a balançar!

      Um, dois, três beijinhos!

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