quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Primeiro feedback - Hematologia

Soube os resultados das análises que fiz na semana passada. Até ao momento nada anormal, à exceção de uma alteração em 38% dos linfócitos, que a médica disse poderem ser resultado de uma infeção. Ela desvalorizou essa sinalização no relatório.

A estratégia seguinte consistiu em desvendar eventuais mutações. Como procurei alguém que já estivesse inserido nos meandros do HSJ, valeu-me essa vantagem para o novo passo que dei. A hematologista pediu que passasse hoje pelo Hospital de Dia no HSJ, onde habitualmente se encontra à terça-feira, para validar uma consulta e fazer a colheita de sangue. Disse que seria fácil de encontrar pois anda sempre pelos corredores de um lado para o outro. Constatei que é verdade e a conclusão a que cheguei é que quem precisa mais de férias do que eu, é a própria médica. Será que a sua recomendação é uma espécie de transposição nos outros daquilo que ela sente a seu respeito?

Ao chegar ao segundo piso visualizei rostos cuja condição me é bem familiar. Há uns 15 anos que não me encontrava no meio de tantos doentes oncológicos concentrados num espaço. Foi um pouco difícil regressar a um ambiente daquele género. A médica era incansável a atender todas as solicitações com que era bombardeada, de cada vez que passava no corredor. Estava bem disposta, cheia de genica e procurava descomplicar tudo. Agradou-me a sua forma de agir e o trato afável com todos, fossem pacientes, enfermeiros ou auxiliares.

Para tornar a manhã um pouco mais dentro da normalidade numa entidade pública tinha de haver bloqueios burocráticos. Primeiro dirigi-me à receção da unidade de hematologia para marcar a consulta. Em seguida tive de ir ao balcão central validar a consulta. Ao verificarem o meu processo viram que o centro de saúde de onde provenho é de uma freguesia que não faz parte da área de influência do HSJ. Para poder ter consulta de hematologia deveria ter autorização por causa do condicionamento geográfico. Voltei ao Hospital de Dia para falar com a médica a fim de obter a dita autorização. Ela foi à área administrativa lá do piso perguntar se não podia ser ela a autorizar. Responderam-lhe que não, deveria ser o diretor do serviço, que naquele momento se encontrava em Ginecologia. Só na ausência dele poderia haver autorização por parte de outrem. Ela disse que então assinaria a autorização, indicando que o diretor não estava presente e os administrativos deixaram o pedido à sua responsabilidade. Voltei ao balcão central onde finalmente a consulta foi marcada. Regressei ao Hospital de Dia para que a médica emitisse as requisições das análises. Ela não o conseguiu fazer logo, pois apesar de marcada, a consulta não fora validada. A Dra Incansável foi à área administrativa tratar do assunto, só depois emitiu o bendito documento.

Dirigi-me finalmente à sala X, sim, é mesmo X a designação da sala da colheita, onde fui atendida por profissionais igualmente simpáticas e bem dispostas. Quando me questionaram acerca da razão das análises, a enfermeira que me tirou sangue perguntou se levava a mal que falasse acerca do assunto. Respondi que não tinha qualquer problema e quando dei por mim, tinha quatro ou cinco enfermeiras à minha volta extremamente interessadas e curiosas em perceber como funcionavam os tratamentos, se era doloroso, há quanto tempo andava nesta luta. Dei uma micro palestra acerca de PMA, durante a qual me apercebi quão pouco informados estão os próprios profissionais de saúde mas, acima de tudo, as mulheres sobre este assunto. Desconheciam a existência de prazos legais no que diz respeito ao limite de idade, número de tratamentos permitidos, quantidade de embriões a transferir, tempos de listas de espera. Têm a ideia generalizada que o HSJ é talvez o melhor hospital público do norte relativamente à PMA. Uma das enfermeiras também está a realizar tratamentos, há menos tempo que eu, ainda não chegou a uma fase tão avançada. Ficaram aterradas quando respondi que andava nisto há 5 anos. Foram uns minutos de enorme alívio, pois senti que tudo aquilo era genuíno e não uma conversa de circunstância. Fizeram-me prometer que daqui a alguns meses irei lá aparecer a mostrar sinais de boas notícias e devo-lhes realmente isso, pois o cenário que elas veem diariamente naquela área do hospital é o oposto criação de vida, é a luta contra a morte.

Na altura em que fui chamada para o interior da sala de colheitas foi-me dada uma folha à qual não reparei inicialmente. Quando saí, vi que era uma requisição para a análise de algumas mutações. Ao chegar novamente junto da médica ela perguntou-me o que fazia com aquela requisição na mão, ao que respondi que me foi devolvida logo que entrei na sala, mas nada me foi dito. Ela ficou na dúvida se o sangue para aquelas análises tinha sido ou não colhido, tive de regressar à sala X, a enfermeira ligou à colega que tinha feito a devolução da folha e esta respondeu que no computador aparecia a mensagem "não autorizado". A enfermeira foi falar com a médica para desbloquear a situação e saber que e quantos tubos de sangue eram necessários. Fui picada no braço esquerdo para ficar a combinar com o direito. Hoje só deixei três tubinhos e 3 horas do dia.

Olhando para o tamanho que este post já tem, uma parte significativa é sobre o calcorrear os corredores do hospital, sobe e desce pisos, tão somente para marcar uma consulta e colher sangue. Isto faz-me lembrar um sketch dos Gato Fedorento relacionado com burocracia numa escola.

A próxima fase é aguardar 3 semanas e à partida dia 20 de dezembro volto à azáfama do Hospital de Dia, onde será dada a sentença. Valorizo o facto de a médica ter dito para voltar ao HSJ e não ter mandado marcar consulta no hospital privado onde a consultei. Se tudo correr conforme esperado, saberei antes da próxima TEC se há algo de errado ao nível de trombofilias.

Desta vez a hematologista disse que poderia vir uma gravidez espontânea no sapatinho, já não dei importância, ela passa dias horríveis no hospital, tenho de lhe dar um desconto! O mais importante é que seja uma boa profissional e está a prová-lo.

4 comentários:

  1. Está tudo encaminhado :)

    Mais um passo para que em janeiro tenhas finalmente o teu tão esperado positivo!

    Até lá... um dia de cada vez :)
    Bom feriado e bom fim de semana querida PL :)

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  2. Admiro a tua perserverança!!!o meu caminho embora tenha sido igualmente longo, não foi tão doloroso como o teu!! Muitas vezes me pergunto se seria capaz de continuar após uma perda como a tua!!!
    Mas ainda bem que existem mulheres coragem como tu!!! Que nos fazem acreditar que desistir não é palavra que exist no dicionário duma guerreira desta luta!!
    Bjinho

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  3. Que bom PL que estás a ser bem encaminhada no público e com bons profissionais! Não é muito comum!! :)

    É em Janeiro que voltas a iniciar o ciclo, não é? Vai correr bem!! :)

    Beijinho grande

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  4. E já começa a contagem decrescente para dia 20.
    Espero que estejas bem ;)
    Tudo está bem encaminhado. Que bom saber que há bons profissionais em todo o lado.
    Um beijinho enorme

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