domingo, 3 de janeiro de 2021

Bizarro? Para mim, não.

Em 2009 uma estação de rádio de Guimarães promoveu o sorteio de um "Funeral de Sonho". Não faltaram candidatos e, se quisesse, o feliz contemplado poderia ceder o seu prémio a alguém (ainda vivo).

Alerto que o conteúdo deste post poderá ser creepy para alguns e quero, desde já, dizer que não há mensagens subliminares ou qualquer intenção da minha parte em atentar contra a minha vida. Estou muito bem, mesmo!

Diria que após a morte do meu pai e perante tudo o que aconteceu, desde o velório dentro de casa (durante dois dias) até ao momento sublime da missa do funeral em que me contive para não mandar calar a abécula (a criatura que exercia funções de sacerdote da terrinha) ou atirar-lhe um castiçal à testa, penso às vezes no meu "funeral de sonho". O meu pai dizia que queria ser enterrado no quintal e compreendo a perspetiva dele.

À semelhança do meu casamento, gostava que houvesse minimalismo. Não me sinto confortável com focos apontados a mim em vida, não será na morte que vou querer mediatismo. Desejo que ninguém tenha trabalho comigo depois de já cá não estar a azucrinar ninguém, logo a cremação é a melhor alternativa. Há muito que digo que a minha última residência vai ser num pote mas, pensando melhor, se for possível não ceder cinzas a familiares prefiro, para não terem de pensar o que fazer com elas. Ir para um cemitério vai também contra o meu ideal.

Se é para seguir num tapete rolante para o forno do tanatório, não é necessário um caixão todo rebuscado. NÃO QUERO uma cerimónia religiosa, bem como qualquer símbolo religioso! Acerca de flores, também dispenso. Se normalmente não consigo aguentar muito tempo no meio delas, há que manter-me fiel a mim mesma depois de apagar (ainda desato a espirrar ou a ficar cheia de congestão nasal). Roupa preta, desaprovo. Fiquei traumatizada de ver a minha mãe, anos a fio, a combinar preto com preto.

Quem quiser desrespeitar-me, é só fazer o contrário disto tudo. Não terá nenhuma consequência, porque não vou andar a assombrar ninguém. Olhando bem para a minha lista de exigências, pareço uma daquelas celebridades que quer um camarim com ar dos Himalaias, uma banheira com água do Kilimanjaro e 750 toalhas dobradas com orientação para norte.

Acerca da abécula que falei mais acima, dois anos depois do funeral tornei a estar numa missa presidida por sua excelência, numa situação profissional, noutra freguesia, porque não aguentou muito tempo na minha. Como a estupidez daquele ser é crónica, começou outra vez a fazer aquilo em que ele é melhor, que é ser um palerma. Saí porta fora, em plena missa, enquanto ele continuava com o seu sarcasmo a roçar a má formação, dirigido aos alvos daquele dia. Depois de mim, várias pessoas abandonaram a igreja, incrédulas com a boçalidade daquele energúmeno que viram pela primeira vez.

Se temos possibilidade de idealizar enquanto as nossas faculdades mentais estão boas, porque não? Há duas ou três pessoas a quem já partilhei para saberem o que fazer quando chegar a altura, se tiverem realmente intenção de ir de acordo com a minha vontade.

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