quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Gostava de estar otimista, a sério que gostava

A tensão mamária chegou, o peito encontra-se ainda maior do que o habitual, o meu coração está dilacerado. Não consigo estar de outra forma. As perdas de sangue têm vindo a aumentar e se até ontem só se manifestavam vermelhas de manhã, sempre após o repouso noturno, hoje acordei com dois pequenos coágulos. Fiquei alarmada, não em demasia, até às 17h. O pior veio nessa altura quando passei a pingar sangue e caiu um coágulo com algo que me pareceu o meu pequeno saquinho. Estou de rastos, não tenho coragem de fazer beta ou outra ecografia até ao dia 23. Não há nada que consiga fazer para reverter a situação se realmente o que expulsei foi o nosso mini-nós.


O meu marido disse que se de facto abortei novamente temos de repensar o que realmente queremos e vamos fazer. Se optamos por uma pausa (na minha idade não faz sentido, não se deve ter lembrado), se arriscamos logo que possível outra FIV ou se ficamos por aqui. Apoia-me se me sentir psicologicamente pronta para continuar ou dar por terminada a maldita luta. Ele fica perplexo como é possível com 12 embriões e 5 transferências não resultar. Comigo não seria de esperar outra coisa.

Com toda a honestidade, se no dia 23 se confirmar o aborto, a minha disposição atual é encerrar definitivamente este assunto.

Para nós, enquanto casal, é algo que nos envolve há 6 anos, com muito sofrimento. Para mim, é uma questão que me perturba mensalmente há 23 anos. A maior parte da vida tenho convivido sistematicamente com a anormalidade que transformou o meu desenvolvimento numa coisa completamente artificial. Dei por mim hoje a pensar que gostava que o tempo avançasse uns 12 anos para estar na menopausa e finalmente sentir-me "em casa".


Hiperestimular novamente com 38 anos, fazer um determinado número de transferências, perder mais sabe-se lá quantos filhos, condicionar a vida em função de uma causa perdida vai ser demasiado para mim. Chamem-me fraca ou desistente, não me importo. Só quem calçou os meus sapatos pode emitir um juízo de valor. Não duvido das minhas competências como mãe, ia falhar em muitas coisas como qualquer ser humano, mas acho que teria tudo para cumprir muito bem esse papel. Vou viver com a eterna mágoa de não crescer a esse nível, nem de possibilitar que o meu marido tenha outro filho que possa amar. Tenho de ser racional e o mais sensato está à vista. Penso que será a primeira vez que vou desistir de algo e vai ser justamente naquilo que eu mais perspetivava que fosse fazer sentido na minha existência.

Possivelmente vou concluir no dia 23 que não podia ter falhado mais na escolha do nome deste blogue. Não o vou fazer desaparecer, é um registo de uma parte da minha história. Tenho de pensar que rumo dar a este espaço que tão bem me tem feito.

5 comentários:

  1. PL em momento algum alguém tem ou terá direito de fazer julgamentos. A exaustão que sentes é mais que justificável e terás todo o direito de não querer voltar a passar por tudo novamente. (Espero de coração que esteja tudo bem no dia 23!)

    Uma pausa é sempre necessária, nem que seja de mês ou dois. Nada garante que uma próxima estimulação seja igual à primeira (podem até ser bem diferentes). Mas agora não penses nesses cenários. Pensa em viver este momento e em esclarecer o que se está a passar.

    Quem pensa que a infertilidade é difícil, nem imagina o quão difícil fica, acrescentar abortos a essa equação.

    Beijinho grande*

    ResponderEliminar
  2. PL

    Foi com o coração apertado que li o seu post de hoje. Não consigo imaginar aquilo que sente e pelo que está a passar. Qualquer que seja a decisão que vai tomar, espero que lhe dê paz e serenidade. Seja para continuar a lutar, seja para ter um pequeno tempo de pausa, seja para aceitar que já não consegue passar por isto novamente. Força.

    MM

    ResponderEliminar
  3. Cara PL
    Acompanho o seu blog já há algum tempo e foi com enorme tristeza que li este post. Deixo um abraço muito apertado e os meus votos sinceros de que o pior cenário não se confirme.
    Um grande beijinho.
    SM

    ResponderEliminar
  4. admiro a vossa força e coragem nesta luta!
    Eu não teria nem vou ter essa coragem! Só quem passa pelo que vocês passaram poderá estar perto de perceber a impotência, tristeza e desilusão que vai dentro desses corações.
    Eu torcia em silêncio por vocês, por um tão desejado positivo com um final feliz!
    Deixo-te um beijinho apertdado e a certeza que dia 23 tomaras a decisão acertada!

    ResponderEliminar
  5. O meu coração ficou apertadinho ao ler-te... Apesar de tudo vou continuar aqui a torcer para que o dia 23 traga uma boa surpresa.
    Deixo-te um abraço apertadinho.

    ResponderEliminar