domingo, 22 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 3

Se pressionar as zonas onde administrei as injeções deteto alguma sensibilidade. Há momentos em que tenho a sensação que há umas pontadinhas no ovário direito. Terça vou saber quem anda a trabalhar mais. Estou tranquila e o momento da injeção não tem aquela solenidade que a minha mente atribuía noutras ocasiões. Depois de terminar fico pensativa durante alguns segundos, porque o ato é tão mecânico que até julgo que me esqueci de alguma coisa. O sistema do Puregon é muito simples. Numa das estimulações em que usei o Menopur havia um ritual próprio da preparação, outro para a aspiração do líquido quando era a altura de administrar, o fármaco exigia mais atenção. Do Orgalutran, que vou fazer a partir de segunda, recordo-me que nas primeiras vezes tinha dificuldade em eliminar a bolha de ar sem expelir líquido, depois arranjei uma técnica rápida e infalível. A agulha desse é mais espessa e o produto provoca uma reação alérgica que, com o tempo, vai sendo cada vez mais ligeira.

A minha relação com as agulhas foi sempre pacífica. Desde pequenina faço colheita de sangue com regularidade e nunca me fez confusão ficar a ver a realização do processo. A altura mais complicada que tive com esses instrumentos perfurantes foi na segunda gravidez em que, dia sim, dia não, tinha de fazer beta e as enfermeiras iam sempre ao mesmo braço até eu começar a pedir para alternar. Logo que terminava a colheita a zona começava a inchar, ficar negra e doía. Com o avançar da idade, a minha pele está cada vez mais sensível. Esta semana, quando fiz análise à TSH e T4, o penso esteve no braço no máximo uma hora e ainda tenho a marca da reação à cola. Com perto de 30 anos comecei a manifestar alergia ao sol. Vivo numa terra de praia e não posso fazer mais que caminhadas na marginal. O chamado "trabalhar para o bronze" é incompatível com o meu bem estar. Essa atividade faz-me passar vários dias sem dormir, a desesperar com urticária e o corpo malhado com umas manchas vermelhas absurdamente quentes. De há uns anos para cá, desisti de procurar/tentar fórmulas milagrosas e simplesmente não faço praia. Um pequeno arranhão provoca um edema que perdura durante horas, com um relevo considerável. Penso já ter lido que o hipotiroidismo está relacionado com isto. Há 21 anos que faço tratamento para este problema. Ao ver o meu corpo reagir assim estou cada vez mais convicta que os embriões podem ser encarados como algo extremamente agressivo, daí depositar a única esperança que me resta na transferência de apenas um.

Esta tarde tive oportunidade de estar com vários dos meus sobrinhos do coração, quase todos nascidos depois de eu ter entrado nesta aventura. É bom vê-los a crescer, interagir, sentirem-se em família. Ao observar de longe, pensei que aquilo que realmente importa é que eles sejam felizes e se tornem pessoas de bem. No meio daquelas crianças todas não há filhos meus e se continuar a ser assim, só peço que tenha saúde para andar ainda algum tempo por cá a orgulhar-me das pessoinhas lindas em que se estão a tornar, tão puros, alegres, íntegros. Não somos todos iguais, a vida não traça as mesmas oportunidades aos indivíduos. Por mais que quisesse convencer-me do contrário há uns anos, a minha vida não vai passar pela maternidade. Estou em lágrimas a escrever isto, porque nunca quis que filhos meus morressem para me provar isso. Foi uma crueldade desnecessária e se calhar ainda vai tornar a acontecer.

3 comentários:

  1. 😢 um abraço apertadinho! Gostava muito de ter a fórmula mágica que contrariasse esses sentimentos, essas constatações... e pelo menos mudar o futuro próximo, já que o passado nos deixa marcas assim...

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  2. É uma injustiça enorme esta luta que travamos. Querer ser mãe, querer ter um bocado de nós a crescer para ser um ser humano incrível e ninguém avisou que poderia não acontecer. E agora estamos aqui, a tentar ter uma atitude aceitável perante esta guerra de que não queremos fazer parte. A tentar reagir normalmente às gravidezes todas à nossa volta que surgem tão facilmente e às crianças que são fantásticas mas não são nossas. Estou a torcer por ti. Rita S.

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  3. Querida PL no meu caso do útero hostil que rejeita embriões a terapêutica recomendada é o corticoide e aspirina antes da transferência e depois da transferência continuar a aspirina. A heparina sinceramente bem sei porquê que estou a tomar!!

    Esses sentimentos todos que sentes eu partilho cada um deles. Às vezes só nos resta aceitar que connosco não é igual.... e tentar ser feliz com o que temos... mas custa muito. Custa muito todos os dias...

    Beijinho grande minha querida

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