quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Tempo: série ininterrupta e eterna de instantes

A palavra TEMPO passou a ter um enorme peso neste processo.

Quando se passa à esfera do sistema público um dos grandes fatores de desespero é o tempo de espera.

Como relatei anteriormente, tinha solicitado à médica de família que fosse encaminhada para consultas de infertilidade. Passaram-se alguns meses e não recebia qualquer carta com agendamento de consulta. Dirigi-me ao hospital para saber se tinha dado entrada alguma informação e nada apareceu. Em plena era digital de simplex & companhia lda houve alguma coisa que ficou pelo caminho. Peregrinei novamente ao centro de saúde para tentar corrigir o pseudoencaminhamento.

Finalmente recebi a tão aguardada carta com uma data, aquela data que parece cintilar ao fundo de um enorme túnel. Tudo parece muito mais fácil quando sabemos que, num dia específico, estaremos frente a frente com alguém que nos vai colocar questões, ouvir e dizer-nos algo que nos pode trazer alguma esperança.

Teria, pois, de aguardar uns módicos sete meses pelo primeiro grande dia.
Pouco tempo antes da consulta recebi a notícia que afinal a médica não tinha disponibilidade naquele dia e a marcação teria de ser adiada algumas semanas. Tentei ver algo positivo nisso. Afinal quem teve paciência para esperar sete meses conseguia conter a ansiedade mais um pouco.

Com 32 anos bem avançados tive a primeira consulta de infertilidade.

Durante os dez meses que passaram desde que deixei a pílula até esse dia não estava a tomar nada para além do Eutirox, ou seja, não ovulei, não menstruei, muito menos engravidei.

A médica decidiu logo que deveria voltar a recorrer ao meu amigo (quase de infância), Progyluton, e fazer umas análises, ecografias, histerossalpingografia. O marido fez os exames da praxe. Não havia dúvidas quanto ao motivo da infertilidade: ovários poliquísticos com ausência de ovulação.

Praticamente todas as consultas que eram marcadas acabavam por ser adiadas por impossibilidade da médica. As palavras eram parcas, não havia grande iniciativa em explicar o processo. Valha-nos a curiosidade de pesquisar e o atrevimento de perguntar aos profissionais aquilo que nos devia ser dito prontamente, pois somos o foco daqueles minutos em que estão a prestar serviço.

Chegou o ano de 2014, ou seja, dei as boas vindas aos 34 anos. Comecei finalmente a fazer alguma coisa para combater a infertilidade. Pude finalmente pôr em prática a fórmula mágica que o meu primeiro endocrinologista dizia, na primeira década do século XXI, que ia funcionar. Comecei a tomar Dufine, o famoso indutor ovulatório.

Fui monitorizada por via ecográfica nos seis ciclos em que tomei Dufine. Os meus ovários, que encarnaram a personagem da Bela Adormecida, não reagiram às crescentes dosagens. Comecei com 1, depois 2 e finalizei com 3 comprimidos. Afinal, a teoria do endocrinologista estava longe de funcionar comigo.

Como a intervenção daquele hospital é limitada no tipo de seguimento dado a situações de infertilidade, era chegada a hora de finalmente ser encaminhada para Hospital de São João.

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