quarta-feira, 15 de julho de 2020

Dia 2 - TEC 9

Desta vez o Estrofem vai causando mais momentos de náuseas, apesar de o tomar como sempre me recomendaram no hospital, ou seja, um comprimido de manhã e dois à noite.

Já tratei com a médica de família da requisição para o beta, quinta-feira vou fazer o agendamento. Espero que essa parte não me traga chatices e consiga marcar para o dia 27. É muito provável que só saiba o resultado da colheita alguns dias depois.

Quando os embriões estavam em cultura, não reuniam condições para ser feita biópsia ao quinto dia, só no sexto é que foi possível. Os que transferi (este e o de fevereiro) ainda tiveram fôlego suficiente para aguentarem a saída do frio a 77K. Que guerreiros! Aliás, todos foram gigantes. Os meus pequeninos filhos têm a minha profunda admiração. Lamento por toda a crueldade a que foram sujeitos.
Não os encaro como aglomerados de células. Mesmo que os tivesse visto ao microscópio seriam os meus perfeitos filhos. Entristece-me não ter qualquer tipo de memória visual registada. O máximo que houve foi uma ecografia com os restos ovolares que foram aspirados e que tive de entregar no piso 3, após uma ida às urgências. Guardo de bom na memória as nove vezes que vi aquelas luzinhas brilhantes serem transferidas e a ecografia da minha menina que era tão somente o mais belo ponto preto que vi na vida.

O meu marido não teve oportunidade de assistir a nenhum desses momentos. Idealizava que algum dia lhe fosse dada a possibilidade de, por exemplo, ver uma transferência de embriões para ele perceber ao que me refiro quando falo do ponto brilhante. Não chegou a acontecer. Assistiu à primeira ecografia de 6 semanas em que a cavidade uterina estava vazia. Uma desilusão... Foi a outra ecografia de 6 semanas mas dessa vez disseram-lhe para estar junto à minha cabeça, atrás do monitor. Não se encontrou nada, mais uma vez. Esteve comigo quando fiz a histeroscopia, viu a minha agonia durante as biópsias e o estado em que fiquei a seguir, em que quase desmaiei. Continuou na sala enquanto fui deitada numa marquesa e uma enfermeira me deitou um pacote de açúcar debaixo da língua. Fora isso assistiu a injeções, análises, à toma de milhares de comprimidos, consultas, estados de dor excruciante após punções, abortos e quase todas as conversas com as biológas, antes das TEC. Sempre que pôde criou raízes comigo na sala de espera, teve cuidado com as tampas na estrada, lombas e obstáculos que criavam oscilação do carro, para reduzir o meu sofrimento de cada vez que estava hiperestimulada. Esteve presente em todos os resultados do primeiro beta.

A visão desta parte da nossa história, através dos olhos dele, não teve definitivamente boas recordações.

Soa a despedida, não soa? Independentemente do resultado estou de facto a despedir-me de muitas das etapas que não se vão repetir mais. Já disse adeus aos cancelamentos, hiperestimulações, punções, preparações de TEC e transferências.

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