sábado, 18 de julho de 2020

Dia 5 - TEC 9

À exceção do calor que me derreteu, não aconteceu nada. É estranho ainda não ter sentido sequer aquelas dores fortes no útero que por esta altura, nas outras transferências, já se manifestavam quer em positivos como negativos. Acho que as mamas também não aumentaram de volume, nem as sinto doridas.

Vou ser honesta quanto à minha esperança neste momento. Se eu tivesse uma balança de pratos em que um correspondia ao positivo e o outro ao negativo, este último estaria bem abaixo do primeiro. Esta animosidade tem a ver com algo tão simples, como ter uma dificuldade imensa em pensar que a minha história terminará como tantas que li e acompanhei. É, no fundo, embarcar na velha máxima de que as coisas só acontecem aos outros. Detesto ter esse pensamento. Não deixa de pairar a ideia "por que raio vais ser daqueles casos clássicos que, na última tentativa, consegue concretizar o seu sonho?". No que toca a infertilidade sou arrasadora em relação a mim mesma. Se calhar é algum mecanismo de defesa que tento arranjar na esperança de um dia ser agradavelmente surpreendida. Às vezes penso que estes devaneios não têm coerência nenhuma. É como me sinto, se tem algum sentido, não sei.

Foram finalmente divulgadas as datas de candidatura para o curso que quero tirar se o resultado da TEC não for favorável. Felizmente o período é bastante dilatado e não vou precisar de tomar uma decisão para ontem, como tem acontecido em praticamente tudo. A propina é baixa, o que é ótimo. A desvantagem é que, sendo a tempo integral, durante dois anos a parte profissional vai estar reduzida a praticamente nada. Deverei conseguir conciliar com algumas prestações de serviço que poderão cobrir as despesas com o curso. Tenho de pensar que esta aposta é na tentativa de me proporcionar uma "segurança" laboral maior do que aquela que tenho, que é nula. Se for a fazer bem as contas a estes anos todos em que fui acompanhada no SNS, perdi tanto ou mais dinheiro do que aquele que teria gasto no privado. Trabalhei maioritariamente a tempo parcial para conseguir conciliar com as mais de 100 deslocações que fiz ao hospital. Este valor é real, não o estou a inflacionar. Eu tinha feito há tempos uma estimativa que rondava o número 90. Contei no início desta TEC os registos na Área do Cidadão, no portal do SNS. Não queria acreditar quando vi que estava nos 100 e percebi que faltavam ainda alguns atos clínicos. Considerei na contagem apenas o que estava relacionado com o que foi feito no âmbito de infertilidade, desde o primeiro acompanhamento no Hospital Pedro Hispano (o maior estorvo do meu processo).

Quando me refiro a centenas de horas passadas em salas de espera, milhares de comprimidos, muitas dezenas de ecografias, milhares de euros, não é uma hipérbole. Traduz a minha realidade. Quando isto acabar vou colocar aqui um printscreen das tabelas que forneci nos dois estudos em que participei. Vou também divulgar um apanhado geral de todos os números daquilo com que convivi desde que decidimos tentar a nossa sorte.

Esta manhã uma companheira de luta do fórum onde conheci gente formidável, foi ao Programa da Cristina. Aconteceu aquilo que previa. No escasso tempo que houve para explorar o tema ela conseguiu ser incisiva e muito assertiva no que disse mas ficou a faltar o principal: tempo. É impossível falar devidamente sobre infertilidade naqueles moldes. Dou os parabéns por, tanto ela como o marido, terem participado no programa para nos dar voz. No que toca a este tema a Fátima Lopes tem outro arcaboiço, porque ela vivenciou a PMA. Sabe como tocar no assunto e dedica-lhe mais tempo sendo, mesmo assim, insuficiente. A desvantagem é que o horário da tarde não deve agarrar tanto público como o da manhã. O problema dos programas de televisão é que, como se fala superficialmente do assunto, este acaba por ser desvalorizado. Perpetua a ideia que acontece a meia dúzia de pessoas e com umas injeções tudo se resolve. O Blogger, em contrapartida, nunca me limitou naquilo que escrevi. Pude exprimir tudo o que quis, quando bem entendi, da forma que me fez mais sentido. Aqui sinto-me livre, nunca quis esconder nada, porque também estive do lado de leitora em busca de alento. Encontrava muito pouco e decidi que ia construir este "livro" em tempo real. 

1 comentário:

  1. Obrigada pelas tuas palavras.
    Acompanho há muito tempo o teu blog, embora não comente.
    Desejo profundamente que conheçam o vosso final feliz já este mês. O nosso faz um ano por estes dias. Depois é um passinho de cada vez.

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